sábado, 6 de setembro de 2014

Aos artífices

Fernando Mayoral, Monumento a Alberto de Churriguera e a José del Castillo, Conde de Francos,
Praça do Poeta, Salamanca, Espanha


Na placa informativa lê-se:
"SALAMANCA A/ALBERTO DE CHURRIGUERA Y/JOSÉ DEL CASTILLO, CONDE DE FRANCOS/ARTÍFICES DE LA PLAZA MAYOR/EN EL 250 ANIVERSARIO DE SU/TERMINACIÓN/10 DE MAYO DE 2005"

Plaza Mayor





O Salão de Jimmy


Após uns anos emigrado nos EUA, o irlandês Jimmy Gralton regressa a Leitrim, sua terra natal. O país, anos depois da terrível Guerra Civil, respira esperança e promessas de mudança. Autodidacta e de personalidade carismática, Jimmy quer dedicar a sua vida à mãe, depois da morte do irmão. Antes de ter fugido para a América, ele tinha um salão de baile, Pearse Connolly Hall, que foi encerrado. Mas, os jovens pressionam-no para que o reabra, o que vem a acontecer.
O salão de baile é um local onde todos são bem-vindos e onde é possível dançar, aprender e debater ideias, livremente. O sucesso é tal que a sua influência sobre a população trabalhadora não tarda a ser encarada como uma ameaça pelos membros da Igreja Católica e pelos latifundiários da zona, que passam a apelidar Gralton de comunista. Aproveitando o facto de ele ter um passaporte americano, deportam-no para os EUA, onde ele vem a morrer, sem nunca mais ter voltado à Irlanda.
Nada neste filme de Ken Loach nos é estranho, a nós portugueses.



James Gralton
Recorte da imprensa irlandesa, noticiando a deportação de James Gralton para Nova Iorque, 16 ago. 1933.

O salão chamava-se Pearse Connoly em homenagem a Patrick Pearse e James Connolly, dois nacionalistas irlandeses, lideres da Revolta da Páscoa, tendo por isso sido presos e fuzilados.

 Patrick Pearse
James Connolly

Esta noite, este post vai ter seguimento com umas canções irlandesas sobre Patrick Pearse e James Connoly.

Caixa do correio - 31

Um postal do Festival Internacional de Esculturas em Areia, Pêra, Algarve.

Manjerico

Este é que é o meu manjerico.

Grande Guerra - 13

Anterior a 1914

«6 de setembro [de 1914]
««Hoje, domingo, a feia cidade que é Bordéus regorgita de gente - a que veio de Paris e de toda a França abrigar-se aqui, e a da terra, que se endomingou, passeou todo o dia, orgulhosa talvez do seu grande papel histórico. Por toda a parte se viam os largos calções vermelhos dos zuavos que continuam chegando, vindos certamente da Argélia, por mar.»
João Chagas - Diário. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1929-1932, vol. 1, p. 208

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

It's almost like the blues

A letra deste blues é fantástica. 

Passeando em Lisboa - 5

Esta praça chama-se atualmente Príncipe Real.
Antes de ser Praça do Rio de Janeiro, a zona foi conhecida por Patriarcal e Patriarcal Queimada.
Andei por aqui há dias.

Grande Guerra - 12

No início de setembro de 1914, João Chagas sai de Paris e instala-se em Bordéus.

1911 

«5 de setembro [de 1914]
«Manhã passada na Legação a trabalhar. [...] O homem típico por excelência, de Paris, o príncipe Troubetzkoy passeava esta manhã no Cours de l'Intendance os seus favoris grisalhos passados á escova que Paris há 40 anos conhece. Antes do jantar na praça da Comédia encontram-se o Senado e o Palais Bourbon, de jaquetão e chapéu de palha, entre o Café Cardinal e o Café de Bordeaux.»
João Chagas - Diário. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1929-1932, vol. 1, p. 206

De Lisboa para a Cruz Quebrada


«Partiu ontem com sua família para a Cruz Quebrada, onde vai passar a estação dos banhos, o nosso excelente amigo e colega, diretor desta folha, o sr. Pinheiro Chagas.»
In Diário da Manhã, Lisboa, 5 set. 1882, p. 1 


Uma exposição

Bom dia com a sugestão de uma visita à exposição de Pedro Vieira.
 Não conhecia este pintor.


A propósito dos 45 anos de prática artista de Pires Vieira, o Museu do Chiado e a Fundação Carmona e Costa (onde é possível visitar a obra gráfica a partir de amanhã e até ao dia 13) organizam uma grande exposição antológica da sua obra. Nascido em 1950, exilou-se em Paris até 1974, tendo depois regressado a Portugal. Nunca pertenceu a grupos, mesmo informais, e esse facto tem-no mantido arredado dos palcos do chamado meio da arte portuguesa contemporânea. Contudo, uma abordagem esquemática ao seu currículo confirma a atenção que o mesmo meio lhe prestou sem falhas desde o início. Expôs onde devia expor, participou no que era importante participar. No Museu do Chiado, é possível agora fazer uma ideia precisa da coerência de uma obra que se desenvolve sem saltos conceptuais nem estilísticos até hoje, e que justifica amplamente a exigência do percurso expositivo de que falámos.

In memoriam Charles Péguy

Expresso, Lisboa, 31 maio 2014 

L'ESPÉRANCE

La foi que j’aime le mieux, dit Dieu, c’est l’ Espérance.

La Foi ça ne m’étonne pas.
Ce n’est pas étonnant.
J’éclate tellement dans ma création.

La Charité, dit Dieu, ça ne m’étonne pas.
Ça n’est pas étonnant. Ces pauvres créatures sont si malheureuses qu’à moins d’avoir un cœur de pierre, comment n’auraient-elles point charité les unes des autres.

Ce qui m’étonne, dit Dieu, c’est l’ Espérance.
Et je n’en reviens pas.

L’Espérance est une toute petite fille de rien du tout.
Qui est venue au monde le jour de Noël de l’année dernière.

C’est cette petite fille de rien du tout.
Elle seule, portant les autres, qui traversa les mondes révolus.

La Foi va de soi.
La Charité va malheureusement de soi.
Mais l’ Espérance ne va pas de soi. L’Espérance ne va pas toute seule.
Pour espérer, mon enfant, il faut être bienheureux, il faut avoir obtenu,
reçu une grande grâce.

La Foi voit ce qui est.
La Charité aime ce qui est.
L’Espérance voit ce qui n’est pas encore et qui sera.
Elle aime ce qui n’est pas encore et qui sera.

Sur le chemin montant, sablonneux, malaisé.
Sur la route montante.
Traînée, pendue aux bras de des grandes sœurs,
qui la tiennent par la main,
La petite espérance s’avance.
Et au milieu de ses deux grandes sœurs elle a l’air de se laisser traîner.
Comme une enfant qui n’aurait pas la force de marcher.
Et qu’on traînerait sur cette route malgré elle.
Et en réalité c’est elle qui fait marcher les deux autres.
Et qui les traîne, et qui fait marcher le monde.
Et qui le traîne.
Car on ne travaille jamais que pour les enfants.

Et les deux grandes ne marchent que pour la petite.

Charles Péguy


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Biografias e afins


Não era esta a autobiografia que eu tinha programada para hoje ( era sim a da Catherine Millet, que fica para amanhã ), mas tem de ser hoje, por ser hoje posta à venda em França e por ser uma verdadeira bomba.  " Mulher enganada, vingança dobrada ", e o provérbio confirma-se. As revelações sobre o carácter de François Hollande ( segredos políticos ou de Estado não há ) são devastadoras. E o título é fenomenal :)

Números



20 / 230 / 522

(...) Comparativamente, algumas dessas câmaras ultrapassaram em muito o exemplo que vinha de cima. Tanto que as 20 mais endividadas assumiram compromissos que se contabilizam entre os 230 por cento das suas receitas totais, como acontece em Faro, e os 522 por cento, em Fornos de Algodres. Chama-se a isto gestão ruinosa, ou gastar à tripa forra.
A responsabilidade é daqueles que contribuíram, mandato após mandato, para se chegar à ingovernabilidade agora patente. A culpa, essa morrerá solteira, conforme a regra, porque, no governo do país como no das autarquias, o voto popular lava tudo. Incluindo negociatas manhosas e favores aos próximos com o dinheiro de todos.

- Fernando Madrinha, no Expresso do passado Sábado.


É absolutamente vergonhoso, escandaloso, o que se passa em muitas autarquias do país : levadas à falência pelo excesso de endividamento ( por aquele hábito tão português de quem vier a seguir que trate ) que se nalguns casos têm obra feita que o justifique ( justifique em termos contabilísticos, porque em termos de rentabilidade e utilização nem sempre coincidem os critérios ... ), noutros nem se sabe ainda muito bem em que foi gasto o dinheiro ... Se a desertificação do interior é o que se sabe, este estrangulamento financeiro de dezenas de autarquias ainda vai ajudar mais nas próximas décadas.

Bom dia !





Uma bela canção de Michel Jonasz.

Dona Flor da Murta

Ver mais em: http://pedroalmeidavieira.com/indexbh.asp?p/785/1089/3874/R/3874/1723/

Para JMS, no seguimento de um comentário.

Uns azulejos para a Ana

Lisboa, Estádio do Sporting
Serão da autoria de Tomás Taveira?

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Do Livre Arbítrio

O Convento de Santa Cruz, em Sintra, conhecido pelo Convento dos Capuchos foi um local que visitei  estas férias. O momento que vivi neste espaço de intimismo e ascetismo religioso foi especial.
Provavelmente o convento já foi aqui focado. No entanto, deixo as minhas impressões.

Uma imagem que está na parede da bilheteira. Veja-se o penedo sobre-elevado com a cruz. 

Santo Agostinho, Do Livre Arbítrio, Livro II, cap. 1 (versão pdf, p. 73)


A entrada tem dois caminhos que simbolizam o livre arbítrio. (Lido in loco)

A paisagem belíssima e luxuriante contrasta com o hino à pobreza, à dureza da pedra e ao frio austero. O convento dos Frades Menores foi fundado em 1650 por D. Álvaro de Castro, conselheiro de D. Sebastião. A comunidade era composta, inicialmente, por oito frades. Segundo uma lenda destaca-se Frei Honório por ter vivido as últimas três décadas da sua vida a cumprir penitência habitando numa pequena gruta dentro da cerca do convento.
Sendo o mentor da ordem S. Francisco de Assis o pequeno conjunto de celas é de um equilíbrio austero e harmonioso que acompanha o declive do terreno onde foi implantado. Encontramos duas ou três celas maiores (embora de espaço reduzido) e algumas de tamanho tão minúsculo que só em genuflexão penitencial se podia estar. Os tectos e as portadas das janelas são em cortiça. 
O convento foi abandonado com a extinção das ordens religiosas em 1834. Infelizmente o parque não tinha uma brochura informativa. 
As informações que recolhi foi das legendas espalhadas no local, da wikipédia e daqui.

"De todos os meus reinos, há dois lugares que muito estimo, o Escorial por tão rico e o Convento de Santa Cruz por tão pobre".
D. Filipe II [*D. Filipe I de Portugal], 1581, após uma visita ao convento (?). (Wikipédia)
Imagem próxima da entrada 

Capela e visão de parte do convento

Construído à volta das rochas existentes o corredor tem este aspecto labiríntico. 
Sala do Capítulo ?

Refeitório com a particularidade da pedra da mesa ter sido oferta do Cardeal D. Henrique.
(Wikipédia)

Cozinha

Uma das capelinhas. Contrasta a azulejaria com a pobreza da envolvência da pedra

Uma perspectiva ao fundo vê-se o sino, chamamento de Deus

* Como se aprendia durante o Estado Novo.

Os meus franceses - 347


Boa noite na companhia de Léo Ferré e de um bolo Fauchon, Pioupiou:



Madre Paula, ou uma historieta histórica

Gosto de romances históricos ou, mesmo, de biografias romanceadas. E caio imensas vezes na tentação de comprar "obras" desse género, porque conheço mal a época em que se desenrolam e a  "petite histoire" que lhe está associada ou muito pouco sobre uma determinada personagem. Acredito sempre - santa ingenuidade a minha - que quem se abalança a escrever sobre uma época ou uma personagem, fará investigação, conhecerá a época em que situa a acção e, por isso, não dirá enormidades com a desfaçatez de quem acha que basta publicar e por isso passar pelo crivo do editor, para ter produzido um best seller.
Durante muitos anos o romance ou biografia históricos caíram em desuso em Portugal. De há uns dez, vinte anos para cá, têm-se multiplicado exponencialmente. E diria que não há candidato a escritor que não tenha pensado em escrever livros desse género literário e que, muitos, se têm abalançado nessa empresa. Têm tido algum mérito, convenhamos, ao trazerem para os escaparates das livrarias factos, tempos e pessoas portugueses.
 
 
O meu pouco conhecimento sobre a mais importante amante de D. João V, e o facto de há um ano ter visitado o Convento de Odivelas onde viveu, levou-me a comprar " Madre Paula, mulher de Deus, amante do rei" de Patrícia Müller, licenciada em Ciências da Comunicação, autora de "novelas, filmes, séries e telefilmes" como se pode ler na breve biografia na badana do livro, publicado pela Asa.
A escrita, em si, nem é boa nem má, o conhecimento da época em que decorre a vida da célebre freira é menos mau atendendo a alguns factos históricos que refere ou às falas atribuídas ao Rei, sobre política interna e externa, mas parece haver um total desconhecimento sobre o ambiente da Corte, nomeadamente o tratamento dado ao soberano: Majestade para duas linhas abaixo o tratar por Alteza Real. Tratamento antecedido de Sua, quando se lhe dirige, o que em Portugal e pelo menos Espanha e França, nunca se usou Ou o tratamento dado ao Papa , Excelência e mais abaixo Santidade. Ou o anacronismo de se referir ao soberano, na voz de Madre Paula que é a narradora, como D. João V ou, pior ainda, o Magnânimo.
Palacete de Madre Paula em Odivelas, arrasado em 1949
 
Já não falo do auto-retrato que Madre Paula faz de si própria: mesquinha, perversa, de mau carácter, vingativa e todos os mais defeitos que se possam imaginar. E dos relatos crus dos actos sexuais variados, mais próprios de uma romance erótico - e alguns são mais recatados -ou de uma versão nacional do Kama Sutra.
Há outra amante de D. João V sobre a qual, para além da biografia essencial, pouco sei: a menos célebre Flor da Murta - D. Luísa Clara de Portugal - de que conheço, por fora o Palácio, na Rua do Poço dos Negros. Li que saiu recentemente uma biografia romanceada. Mas confesso que estou a hesitar em comprá-la. Gato escaldado de água fria tem medo.

Os bares onde Satie tocou

Santiago Rusiñol - Le Bohémien, 1891
Satie em casa, na rue Cortot, Paris.

Para além do Chat Noir, Satie tocou no Divan Japonais e no Auberge du Clou, que ainda hoje existe, na avenue de Trudaine, e onde ele conheceu Debussy.
Toulouse-Lautrec - Divan Japonais, 1892-1893
Neste cartaz T.L. retratou Jane Avril e Édouard Dujardin.
Auberge du Clou, na atualidade.

«Satie enseigne la plus grande audace à notre époque: être simple.»
Jean Cocteau