sábado, 6 de dezembro de 2014

O Fim do Amor Trágico e Romântico?

Lembrar Urbano Tavares Rodrigues que faria hoje anos. Soube-o através da  Livraria Lumière.


O Fim do Amor Trágico e Romântico?

Vivemos, de facto, numa época em que a noção de amor trágico e romântico, que herdámos do século dezanove, se tornou inactual, embora continue ainda a ser vivida por muitos - e até com o carácter de construção moral e estética - essa relação extremamente apaixonada, exigente e exclusiva. A reclamação da liberdade erótica não me parece que de algum modo tenda a degradar a vida, conquanto possa dessublimizá-la e do mesmo passo desmistificá-la, precisamente no propósito de a tornar mais lúcida e mais generosa. Afigura-se-me que na contestação de todas as prepotências firmadas em preconceitos, em princípios estabelecidos apriorísticamente, há sempre um nexo muito íntimo entre a reinvindicação da liberdade erótica, da liberdade no trabalho e da liberdade política. E, naturalmente, quando se dá uma explosão desta espécie, é como uma pedra que rola e que vai agregando uma série de materiais e descobrindo a sua própria composição até às zonas mais profundas da sua estrutura. 

 Urbano Tavares Rodrigues, in "Ensaios de Escreviver" (citador)

Marcadores de livros - 204

Frente e verso de um marcador que veio da Irlanda.

São Nicolau


«Quinta-feira, 6 dezembro 1973
«É São Nicolau. Na Bélgica como noutros países é a festa das crianças, que substituiu para elas o Natal. Dorme-se pouco. Espera-se o momento de descobrir os brinquedos. A casa tem outro cheiro.
«E todavia os meus São Nicolau eram todos iguais. Sobre a mesa da casa de jantar estavam colocados os pratos, um por pessoa, que tinham nozes, avelãs, figos e uma laranja. Não laranjas, Uma laranja, porque nessa época elas eram caras. Havia também, para cada um, um homem em pão de especiarias. Creio que era esse cheiro que impregnava o rés-de-chão.
«Quanto aos brinquedos, no que me diz respeito, era invariavelmente uma caixa de pintura. Porque eu não estava longe de imaginar que me ia tornar pintor.»
Georges Simenon - Des traces de pas. Paris: Presses de la Cité, 1975, p. 121

Na Bélgica festeja-se a 6 de dezembro, mas na Holanda foi ontem, 5 de dezembro.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Sabores da Escrita - à Mesa com Eça

Displaying image005.jpgEMENTA Jantar temático

Aperitivo | Estaladiço de Brie e Mel/ Champanhe
Prato principal | Tarte de Ostras com Salada e Bacalhau à Biscainha/ Água Nevada e Vinho da Bairrada
Sobremesa | Sopa Dourada, Arroz doce de Coimbra e Ananás/Vinho do Porto.
Café remexido com pau de canela.





PROGRAMAÇÃO [2015]
30 janeiro | Almeida Garrett, por Ofélia Paiva Monteiro, Professora Jubilada, FLUC
27 fevereiro | Infante D. Pedro, por Maria Helena Cruz Coelho, FLUC
27 março | Gil Vicente, por José Augusto Bernardes, FLUC
24 abril | Caio Sévio Lupo, por Carmen Soares, FLUC
29 maio | Padre António Vieira, por José Pedro Paiva, Diretor da FLUC
26 junho | Miguel Torga (Decorre, excecionalmente, na Casa-Museu Miguel Torga, no âmbito da evocação dos 20 Anos do desaparecimento do médico/escritor).

20h30
Inscrições (presencialmente, na Casa Municipal da Cultura, à Rua Pedro Monteiro - Coimbra)
Preços:
15,00€ – geral
7,50€ – crianças dos 6 aos 12 anos
Gratuito – crianças até aos 5 anos
Lotação: 35 pessoas
Informações: Telef. 239702630

Concertos em Lisboa

Programa: http://natalemlisboa.com/2014/apresentacao/

Leituras no Metro - 194

Paris: Gallimard, 1976

Muito interessante este Interrogatório que Patrick Modiano fez a Emmanuel Berl, pouco antes deste morrer. Conhecia Berl de nome, mas nunca li nada dele. Acho que vai ser uma das minhas próximas 'investidas'. Aparentado a Bergson e a Proust, conta-nos algumas coisas interessantes sobre este último. Judeu, foi amigo de Drieu La Rochelle, frequentou o grupo surrealista, colaborou no Monde (dirigido por Barbusse), foi diretor do hebdomadário Marianne (1932-1937), escreveu discursos para Pétain...

Reed. dos sete cadernos de política e literatura publicados por Berl e Drieu La Rochelle, em 1927.


A cantora Mireille (que já andou n'Os meus franceses) foi a terceira mulher de Berl.

36 rue de Montpensier, Paris


É natural que ainda aqui volte com este livro que estou a ler.

Bordalo e Júlio César Machado nas Caldas


«Começaram por ser conjunto de crónicas de caldense ilustre, Isabel Castanheira, que foi, ao longo de anos, alegrando as páginas d’ A Gazeta das Caldas, mas cresceram até se tornarem agora um álbum profusamente ilustrado à maneira das publicações bordalianas, com o toque contemporâneo do designer Miguel Macedo. São 89 Passos a rasgar a cidade, fazendo-nos acompanhar Rafael Bordalo, na companhia de Júlio César Machado, em busca dos vestígios da sua estada. As Pausas para descanso são aproveitadas para chamar a intervir um ou outro dos autores clássicos. Não há instante que não seja devidamente iluminado por traço ou foto, resultando o conjunto numa experiência inesquecível. Se nunca as Caldas se viram assim retratadas, em mapa detalhado e rigoroso; também o artista e os seus admiradores não haviam sentido deste modo o peso que a cidade deixou na sua vida e obra. Um trabalho de referência, ao mesmo tempo erudito e popular, à maneira do mestre que olha com extrema ternura.»
http://www.ccc.com.pt/espetaculos/12-outros/799-apresentacao-do-livro-as-caldas-de-bordalo

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Uma Coisa em Forma de Assim


Seis músicos e seis instrumentos que se juntam no clássico, no jazz e, claro, na sonoridade tradicional que tanto gostamos para dar corda aos pés bailariqueiros: Filipe Valentim - saxofone; Eduardo Jordão - baixo; Eduardo Lála - trombone; Carlos Garcia - piano; Gonçalo Santos - bateria; e Emanuel Marçal - acordeão.
Amanhã no Conservatório Nacional.
Boa noite!

A nossa vinheta - Chá de Natal

A nossa vinheta contempla uma sugestão para o Natal:

Chá de Natal, 
na casa Pereira da Conceição.



Tempo de Memória: Les Deux Memoires de Jorge Semprún

A Filmoteca espanhola restaurou, no ano passado, a película de Jorge Semprun, Les Deux Mémoires (1974), produzida em 1972. Este documentário assenta numa série de entrevistas que relatam a memória dos dois lados da Guerra Civil Espanhola. Escritores, historiadores, atores falam e alguns deles mostram como as divisões da esquerda contribuíram para vitória de Franco.
Depoimentos de Santiago Carrillo, Federica Montseny, Gabriel Jackson, Ian Gibson, María Casares, Yves Montand, Costa Gavras, Dionisio Ridruejo, José Peirats, José María Gil-Robles e Juan Goytisolo (último Prémio Cervantes), entre outros.
O filme passa hoje às 21h30 na Cinemateca, inserido no CineFiesta.

Citações



Já muito se gritou, já tudo se disse, já tudo se escreveu, sobre José Sócrates, a sua prisão, a sua presumida inocência,  a sua culpa plausível. Adiante. Espero pelo tempo da justiça que é um tempo com as suas próprias horas. E enquanto este não chega, nada de verdadeiramente inteligente tenho a dizer. (...)

- Pedro Norton, na Visão desta semana .

P.S. - É exactamente isto que penso, e espero não voltar a este tema tão depressa. Melhor seria que Sócrates se acalmasse e acalmasse a " grafomania " , até porque esta mais recente carta, a terceira, hoje publicada no Diário de Notícias, não o ajuda nada.

Um quadro por dia



Faz hoje precisamente um mês que este Vaso com margaridas e papoilas , pintado em 1890 por Vincent van Gogh, foi comprado na Sotheby's de Nova Iorque por um milionário chinês e pelo equivalente a 49,5 milhões de dólares. O mesmo milionário que há meses comprou um importante Picasso ( Claude et Paloma ). A prova de que a nova centralidade económica também tem consequências no mercado da arte .

Humor pela manhã



Que cada um faça a sua legenda :)

Marcadores de livros - 203

Frente e verso

Faz hoje um ano que a Dieta mediterrânica foi classificada como Património Mundial e Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

Mini-livros - 29

 
Fränkisch-Crumbach: XXS, 2013

Há livros desta coleção traduzidos e editados em Portugal.
Obrigada a quem mo ofereceu.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Uma descoberta recente

Yoshikazu Mera faz parte de uma descoberta recente.
(Nasceu em 1971, em Miyazaki, Japão). 
Boa noite!


Numa versão melhor

Ombra mai fu
 di vegetabile, 
cara ed amabile, 
soave più.

  Link

Ainda Camille Claudel


Esta Aurore, em mármore, foi uma das últimas esculturas realizadas antes do internamento psiquiátrico de Camille Claudel ( 1864-1943 ) em 1913. Mudou de mãos a 27 de Outubro, na sequência de um leilão realizado em Paris onde atingiu o valor de 2,4 milhões de euros .

Números


6900

O número de medicamentos falsificados apreendidos nas alfândegas portuguesas durante este ano. Um flagelo dos nossos tempos, e se às vezes é só farinha e outros produtos inócuos outras vezes são mistelas perigosas.

Biografias e afins

Sobreviver a uma doença grave foi o mais recente desafio da escritora Leonor Xavier, e essa luta saiu agora sob a forma de livro, com um título muito interessante : Passageiro Clandestino ( Círculo de Leitores, 2014 ).

(...) Desde o princípio percebi, a doença é uma iniciação.

(...) Sou sobrevivente, serei ressuscitada.

(...) o amor à vida, que não é coragem nem bondade, que não é inteligência nem dever, é o dom que tudo explica


Citações


(...) Quando prende um " reaça " qualquer, a lei é a lei; quando prende um socialista, a lei já é uma cabala. O resultado final desta petulância está à vista de todos : em 2014, Soares e muitos soaristas estão a retratar o Ministério Público como uma espécie de PIDE e Sócrates como um preso político. Há uma diferença entre exigir mais clareza à justiça e tratar os magistrados como criminosos. Lamento, mas isto é o suicídio do soarismo.
Submersos nesta cultura de respeitinho, Soares e os soaristas ainda não perceberam o que está a acontecer, ainda não perceberam que estamos no meio de um terramoto cultural, moral, gramsciano. A narrativa está a mudar. Se quiserem, este 24 de novembro exterminou o efeito moral do velho 25 de novembro, ou seja, o PS já não é a charneira moral do regime, é só um partido como os outros, o soarismo perdeu o monopólio da moralidade. Não, Soares não é o pai da democracia, é o pai do PS. Julgo que há uma diferença. Não, não há uma crise do regime, há uma crise do soarismo. Julgo que há uma diferença. Ou, pelo menos, julgo que tenho o direito de pensar que há uma diferença.

- Henrique Raposo, no Expresso do passado Sábado.

Humor pela manhã


É claro que também se podia fazer uma listinha destas para os homens e suas namoradas bem mais jovens, mas os homens escapam mais por entre os pingos da chuva ...

Bom dia !





Chopin pelo grande Vladimir Sofronitsky.

Marcadores de livros - 202

 
Já aqui apresentei outro marcador (n.º 199) do mesmo estilo.
Paul Henry pintou muito Connemara. Aqui ficam outras paisagens desta região irlandesa:
Connemara landscape, ca1930
A Connemara Village, ca 1933-1934
Dublin, National Gallery of Ireland

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Mr. Turner

Vai estrear, no Natal, o novo filme de Mike Leigh sobre Turner. Dois homens que admiro imenso: o realizador e o pintor.

De algum modo, em geminação com o Arpose. :)

Grande Guerra - 20


Otto Dix deixou-nos as suas impressões da I Guerra Mundial: em 1924, publicou um porfolio com algumas gravuras, de que aqui se apresentam três; e cinco anos depois começou um tríptico sobre a mesma temática.

A Guerra, 1929-1932

Mini-livros - 28

Três mini-livros da ed. Diogenes, de Zurique. São da col. Diogenes mini-Taschenbuch, respetivamente, os n.os 19, 11 e 13. não têm data de ed., nem de impressão e os cop. são, respetivamente, de 1969 e  1977 (os dois da direita). 
Já li O Misantropo de Milière, conheço Ludwig Marcuse, e não conheço Alfred Andersch.

El Greco

El Greco, Anunciação, c. 1600             El Greco Anunciação, c.1570
Museu de Arte de S. Paulo                               Museu do Prado

    

El Greco, Anunciação c. 1596-1600                                                       El Greco, Anunciação, c. 1600
Museu do Prado                                             Museu de Belas Artes Budapeste
              

Ver na Wkipedia - El Greco: Anunciação.

Uma escolha de Doménikos Theotokópoulos em diferentes anos e com a sua visão sobre a Virgem.
Seria assim?

Boa noite.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Boa noite!

Los Sírex, um grupo catalão, será o último destes «recuerdos».

Leituras no Metro - 193


François Busnel perguntou a Patrick Modiano (Lire, nov. 2014) qual a relação que este tem com a autobiografia, ao que o escritor lhe respondeu:
«En fait, ça perspective de l'autobiographie m'a toujours perturbé. L'écriture autobiographique m'a toujours embêté. Il est délicat de parler vraimente de choses intimes. Les écrivains qui écrivent sur eux-mêmes font souvent preuve d'aveuglement. J'ai toujours trouvé qu'il y avait quelque chose d'un peu faux dans l'autobiographie.Un ton qui est faux. On se met en valeur. Ou bien on oublie beaucoup de choses, ou bien on les cache... L'autobiographie m'a toujours paru bizarre. Suspecte. On pourrait d'ailleurs faire un apstiche des differents formes d'autobiographies. J'ai aimé en lire mais il y a toujours, Même dans les meilleurs, une forme de mensonge. Il y a lá une sorte d'impudeur. On ment parfois par omission, ou en présentent les choses sous un angle qui n'est pas celui de la vérité mais de la trahison. Tout cela est un peu bizarre. L'entreprise autobiographique m'a toujours paru une sorte de leurre. Sauf si elle a une dimension poétique, comme nabokov a pu le faire dans Autres rivages, par exemple. mais je trouve que le ton autobiographique a quelque chose d'artificiel car il implique toujours une mise en scène. Ma démarche ne consiste pas á écrire pour essayer de me connaître moi-même. Je ne fais pas d'introspection. C'est plutôt, avec les pauvres éléments de hasard qui sont les miens - ma naissance après la guerre, les parents que j'ai eus... -, essayer de trouver un peu de magnétisme à des éléments qui sont en eux-mêmes sans grand intérêt. Je tente de les réfracter à travers une sorte d'imaginaire.
«- Et Un pedigree, alors?
«- On peut classer ce livre du côté des autobiographies - c'est d'ailleurs ce que l'on a fait - mais j'ai toujours eu l'impression que ce livre se rattachait aux autres, aux romans. Dans Un pedigree, je ne racontais pas une vie, la mienne. Je parlais de choses qui m'avait été imposées. Ce n'est pas la même perspective, vous comprennez. Pas du tout la même. Je parlais de choses qui m'avait fait souffrir mais qui m'était étrangères, qui ne m'étaient pas intimes. Bien sûr, il s'agissait de mes parents. mais ces choses m'avaient été imposées par eux et étaient presque comme des corps étrangers. J'ai écrit ce livre pour me débarrasser de ces éléments étrangers, pas pour raconter ma vie. Le pedigree, comme pour les chiens ou les chevaux, renvoie aux choses dont nous ne sommes pas responsables: nos parents, par exemple.
«Mais ce livre ne relevait absolument pas d'une démarche pour essayer de me comprendre moi-même. [...]»
A autobiografia de Nabokov referida por Modiano.

D. João IV

1º de Dezembro de 1640, Restauração de Portugal.
Uma data memorável.
D. João IV em criança com 4 anos, segundo os dados que encontrei.

Pedro Américo, Dom João IV infante, Duque de Bragança (em 1608), 1879 (século XIX) (link)
Museu Belas Artes, Rio de Janeiro
File:Pedro Américo - Dom João IV infante, Duque de Bragança - 1879.jpg

Para o anónimo este acrescento:
Ver o link, a pintura está datada de 1879. Será D. João IV? 

domingo, 30 de novembro de 2014

Boa noite!

Também me parece que ando por «La maleta de los recuerdos»...

LX 70

Um livro que deve ter graça.
Memórias visuais dos anos 70.

Viagem a Lisboa dos anos 60 e 70, em dois livros assinados pela jornalista Joana Stichini Vilela e pelos designers gráficos Pedro Fernandes e N. Mrozowski.

Do Poeta que faleceu há 79 anos

Lisboa: Clube do Autor, 2014

Sozinho no cais deserto, a esta manhã de verão,
Olho pro lado da barra, olho pelo Indefinido,
Olho e contentaa-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
[...]
Olho de longe o paquete, com uma grande independência e alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente.
[...]

Álvaro de Campos

Uma bela edição que agora já podemos oferecer a alguém que domine o inglês. :)