domingo, 1 de fevereiro de 2015

Raúl Rêgo (15 de Abril de 1913 - 1 de Fevereiro de 2002)


 
O BIBLIÓFILO….

Raúl Rêgo assinou, nos diferentes jornais em que colaborou, crónicas ensaísticas realizadas com o conhecimento profundo e sábio de um homem culto, que lia, estudava e amava os livros que lhe chegavam às mãos: os “Meus Livros” – nome retirado de uma das sessões semanais de um jornal. Para além delas, apresentou, prefaciou, divulgou ou estudou tantos outros livros, não esquecendo os Catálogos de livraria ou de leilões que também eram enriquecidos com palavras de abertura, em que contava algumas histórias sobre as histórias dos livros ou de seus antigos proprietários. É certo que Raúl Rêgo colecionava livros. Era um dos grandes bibliófilos portugueses. Mas colecionar livros é diferente de ser bibliófilo; ser bibliófilo também é diferente de ser um estudioso e um expert no assunto: um livro cerrado não traz cultura! O bibliófilo não gosta apenas do livro pelo conhecimento (ou divertimento) que o mesmo lhe pode proporcionar... gosta do livro pelo cheiro, pelo formato, pela época em que foi feito, pelo autor que o escreveu, pela tipografia que o imprimiu e, também, pelo seu conteúdo. Enfim, gosta do livro pelo livro. Raúl Rêgo era esse expert, esse bibliófilo, que se passeava de livraria em livraria na busca de saciar o seu prazer infinito. Depois de ter caçada a presa, anotava-a, estudava-a e, na maioria das vezes, escrevia sobre ela. Divulgava e, com isso, fazia chegar a todos nós, seus leitores, o seu amor e a sua cultura. Estudava o passado e criticava os costumes do presente. Quando escrevia, numa crónica publicada no Diário Popular, em 30 de agosto de 1979, sobre os Censores de ontem não dissertava apenas sobre o século XVI... olhava também o presente: Difícil é de destrinçar, através de toda esta viagem pelos índices censórios impressos portugueses, o que se proíbe e o que se autoriza. A regra geral poderíamos dizer que é proibir tudo quanto seja contra a fé, os bons costumes, o consenso geral admitido pelos fiéis, ou simplesmente aquilo que não convenha que chegue ao conhecimento das almas simples, que é como quem diz ao Zé Povinho; autoriza-se quanto não produza qualquer choque ou dúvida moral ou espiritual nos fiéis. [...] No mínimo que escrevia colocava o máximo que podia, para desbaste da pedra bruta: numa luta contra a ignorância, o preconceito e o fanatismo.

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