sábado, 7 de novembro de 2015

Um poema ...

a propósito dos tempos políticos que atravessamos. Ontem vi e apreciei o discurso de António Costa. É preciso alguma mudança, é preciso mudar a página e já se fez História neste pequeno país, quer se goste quer não.

Um bom Domingo!:))


A Ponte

Vidraças que me separam 
Do vento fresco da tarde 
Num casulo de silêncio 
Onde os segredos e o ar 
São as traves duma ponte 
Que não paro de lançar 

Fica-se a ponte no espaço 
À espera de quem lá passe 
Que o motivo de ser ponte 
Se não pára a construção 
Vai muito mais a vontade 
De estarem onde não estão 

Vem a noite e o seu recado 
Sua negra natureza 
talvez a lua não falte 
Ou venha a chuva de estrelas 
Basta que o sono consinta 
A confiança de vê-las 

Amanhã o novo dia 
Se o merecer e me for dado 
Um outro pilar da ponte 
Cravado no fundo do mar 
Torna mais breve a distância 
Do que falta caminhar 

Há sempre um ponto de mira 
O mais comum horizonte 
Nunca as pontes lá chegaram 
Porque acaba o construtor 
Antes que a ponte se entronque 
Onde se acaba o transpor 

Sobre o vazio do mar 
Desfere o traço da ponte 
Vá na frente a construção 
Não perguntem de que serve 
Esta humana teimosia 
Que sobre a ponte se atreve 

Abro as vidraças por fim 
E todo o vento se esquece 
Nenhuma estrela caiu 
Nem a lua me ajudou 
Mas a ruiva madrugada 
Por trás da ponte aparece. 

José Saramago, Provavelmente Alegria. Alfragide: Caminho, 1985, p. 83.

6 comentários:

  1. Passaram 40 anos sobre o PREC e 41 anos sobre o 25 de Abril. Nunca vi esse pessoal que anda aí muito eriçado contra um acordo parlamentar da esquerda e com muito medo do PCP e do BE tão encrespado com os representantes do pré-25 de Abril, a não ser quando eles estão na mó de baixo. A maioria desta gente já viu as virtualidades do viver em democracia, assim como os comunistas. Acham que os votantes e dirigentes atuais do PCP queriam o PREC de volta? Tenham juízo!

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  2. Aguardemos pela reunião do CC do PC. Estou confiante.

    Em relação ao comentário de MR, realmente já é tempo de enterrar as facas. Não queriam correr com o Coelho?!
    Quando o PSD-PP se aliou ao BE e ao PC para chumbarem o PEC-4 não vi tanta histeria. Nesse caso convinha e já não fez mal a direita (bastante direita, que ali não há nada de centro) aliar-se à extrema-esquerda?!

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  3. O grande mal de tudo isto é que poucos conseguem perceber que a maioria (que votou) do país nao quer o Passos Coelho e companhia). Mas, por norma, o português só está de acordo com a sua própria opinião. Não percebe que a Sociedade é o conjunto das opiniões. Se todos votaram em consciência o parlamento é a consciência do País. Não me falem da abstenção - esses em consciência estam-se nas tintas. Qualquer maioria - em LIBERDADE e VOTO LIVRE - é maioria. Depois disso, ou se juntam ou não se juntam e todas as uniões são válidas (até a Sociedade já aceita qualquer união de facto e casamentos do mesmo género).

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  4. Esqueci-me de dizer, boa escolha poética. Infelizmente não vi a entrevista.

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