Domingos Costa
Canção de primavera
Eu, dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores,
Pois que Maio chegou,
Revesti-o de clâmides de cores!
Que eu, dar, flor, já não dou.
Eu, cantar, já não canto. Mas vós, aves,
Acordai desse azul, calado há tanto,
As infinitas naves!
Que eu, cantar, já não canto.
Eu, invernos e outonos recalcados
Regelaram meu ser neste arrepio...
Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
Que eu, é de mim o frio.
Eu, Maio, já não tenho.
Mas tu, Maio, Vem com tua paixão,
Prostrar a terra em cálido desmaio!
Que eu, ter Maio, já não.
Que eu, dar flor, já não dou; cantar, não canto;
Ter sol, não tenho; e amar...
Mas, se não amo,
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?
José Régio - Filho do Homem
Viva a Primavera!
ResponderEliminarUm tempo feliz.:))
Bom Domingo.
Os opostos atraem; na velhice mais se clama pela primavera que recobre a natureza. A gente não se renova, mas o tempo circunda-nos a irromper e ajuda à ilusão. É até irónico que a única eternidade que nos pertença seja a sua cíclica e circular viagem pelas estações. Que não é eterna e de que somos um ínfimo momento. E que, para cúmulo, seja esse destino de frágil efeméride que nos importe a raridade.
ResponderEliminarPor acaso, aprecio mais a primavera agora; dantes, gostava mais do outono. Será da idade?! Pensava que era da falta de 'definição' que passou a haver nas estações do ano.
ResponderEliminarBoa Primavera!