Má trad. deC ristina Rodrigues e Artur Guerra.
Alfragide: Asa, 2016
Visão - «Somos hoje filhos, ou talvez netos, do Iluminismo…
A.P.-R . - «A nossa boa parte sim. A parte má vem das
sombras, da barbárie, do medievo… A liberdade de falarmos, de nos vestirmos
como queremos vem daí, desses homens. Devemo-lo às Luzes.
Visão – «O filósofo alemão Jürgen Habermas dizia que a
modernidade, que começou aí, é um projeto inacabado. Mas não sente que estamos
numa espécie de beco sem saída?
A.P.-R . - «A modernidade será sempre inacabada, nunca se
cumprirá. É um caminho frustrado. Sou muito pessimista. Acho que já chegámos
onde podíamos ter chegado e agora estamos em declínio. Creio que o ser humano
já não alcançará o nível de liberdade, intelectualidade e cultura que alcançou
a partir do fim do século XVIII e ao longo do século XIX. O caminho está
fechado. E a memória faz, hoje, muita falta… Sem referências, sem História, não
podes entender o presente. Em vez de construirmos sobre as nossas pegadas
estamos a construir sobre… nada. Estamos desorientados. […]
«A barbárie e a violência estão sempre aí. O problema, o
grande erro, foi acreditarmos que esta espécie de Disneylândia onde vivemos era
o mundo real. Eu sabia, outros sabiam, mas muita gente falava só de um mundo
ideal, dos direitos humanos universais, de ser solidário.
Visão – «Está a falar, também, de uma crise nos discursos
sobre a multiculturalidade e globalização…
A.P.-R . - «Sim, claro. O mundo é um sítio perigoso, cheios
de filhos de puta. O terrível é que o Ocidente e tudo o que custou tanto a
construir ao longo dos séculos, liberdades e direitos, com os bons e nobres
valores de que falam os protagonistas do meu romance, está a morrer,a
desaparecer… E não voltará. Os jovens ignoram-no. Nem se ensina nas escolas…
Visão – «Porquê?
A.P.-R . - «É uma cultura de facilidade. Temos medo de
traumatizar os meninos com a Iíada,
ou com a História… O objetivo principal passou a ser não haver insucesso
escolar, e nivela-se tudo muito por baixo.»
Arturo Pérez-Reverte, em entrevista à Visão, 16 set. 2016
Li esta entrevista com muito interesse. Concordo com o escritor, matar a história e o esforço escolar é matar a cultura que importa preservar e sem ela não somos verdadeiros humanos, talvez não passemos de uns humanóides.
ResponderEliminarEstou a ler o livro e estou a gostar muito.
ResponderEliminarBom dia!