domingo, 2 de abril de 2017

Umas portas para a Isabel - 1

Porto, 21 jan. 2017

VERDADE

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.

E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os dois meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram a um lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em duas metades,
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
As duas eram totalmente belas.
Mas carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade

5 comentários:

  1. Carlos Drummond de Andrade, é sempre tão bom lê-lo!
    A primeira porta não reconheço, mas as outras sim.:))
    Pertinho da Trav. da Cedofeita...
    Boa noite, MR!

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  2. Bonito poema.
    Não conheço qualquer porta salvo a minha. Mas gosto de portas e candeeiros de rua. A bem dizer, olhando a sério para as coisas, gosto da maioria.

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  3. Cláudia,
    A primeira já não me lembro de que rua é, mas as outras são de onde diz. :)

    Boa semana para as duas.

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  4. Concordo com a Cláudia sobre Drummond de Andrade!

    Adorei as portas, especialmente a primeira...muito obrigada!
    Espero também fotografá-las um dia destes...

    Boa semana, MR:)

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  5. Drummond é um dos poetas que mais leio.
    Boa viagem até ao Porto, Isabel.
    Boa semana!

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