«Saí e desci pelo passeio ao Boulevard Saint-Michel, passei
as mesas do Rotonde ainda cheias, olhei para o outro lado da rua para o Dôme,
com as suas mesas até á beira do passeio. Alguém me acenou de uma das mesas,
não vi quem era e segui. Queria chegar a casa. O Boulevard Montparnasse estava
deserto. O Lavigne estava fechado a sete-chaves e à porta da Closerie des Lilas
amontoavam-se as mesas. [...]
«[…] meti-me num táxi para o café Select. Ao atravessar o
Sena […]. O rio estava bonito. Era
sempre agradável passar uma ponte em Paris. […]
«O táxi parou em frente do Rotonde. Seja qual for o café de
Montparnasse para onde se mande quando o condutor nos traz da margem direita, é
certo que nos põe no Rotonde. Daqui a dez anos será provavelmente o Dôme. Mas
era bastante perto. Ladeei as mesas tristes do Rotonde, direito ao Select.»
Hemingway – O sol
nasce sempre (Fiesta). Carnaxide:
Livros do Brasil, 2007, p. 49, 60-61
Já aqui foi referido que Léon Zamaron convivia neste café com muitos artistas.
Antes da Grande Guerra, La Rotonde era um pequeno bistrot que Victor Libion comprou, em 1911, e alargou para um talho junto. Criou ainda uma esplanada onde os clientes podiam gozar o sol.
Victor Libion, que manteve o café até 1920, apoiava muito os artistas e conta-se que quando os que não tinham casa adormeciam no café, os empregados tinham ordem para não os acordar.
Soutine, Kisling, Derain, Vlaminck, Picasso, Modigliani, André Salmon e Max Jacob eram alguns dos frequentadores do café, assim como Lenine e Trotsky, que aí jogava xadrez.
Neste café encontravam-se pessoas provenientes de muitos países e ouviam-se conversas em muitas línguas.
Fonte: Jean-Paul Carcalla – Montparnasse: L’âge d’or
Modigliani, Picasso e André Salmon à frente do café, 1916.
Moïse Kisling, Pâquerette e Picasso no café, 1916.
Jean Cocteau - Picasso e Paquerette em la Rotonde.
Paris, Paris! Assim tenha forças para viver...
ResponderEliminarEste homem!... :)
ResponderEliminarGostei de Paris, dos cafés com esplanadas aquecidas, da imagem um tanto snob e à grega, de ali haver a maceração do ócio. Mas não é deles que tenho saudade. Antes gostei das pontes e das ruas, dos artistas que pintam à beira do Sena ou em Montmartre, de subir a rua do Arco do Triunfo e a que esqueci o nome, de sentar num dos jardins e descansar da lonjura de tudo; de tomar o pequeno almoço admirando os executivos que chegam ao serviço de skate, bicicleta e afins. De, enfim, ser turista.
ResponderEliminarParis nestes tempos tinha uma grande riqueza
ResponderEliminarintelectual, em várias artes. Hoje em dia tenho
dúvidas se isso acontece. Mas, como diz a canção,
Paris sera toujours Paris.
Boa tarde.
Bea,
ResponderEliminarTambém o que mais gosto é das pontes, de poder atravessar o rio - gosto de cidades com pontes que se possam atravessar a pé -, de passear. E gosto da variedade de exposições que há sempre em Paris. Sempre algo para aprender.
Maria Franco,
Todos iam para Paris, até portugueses como o Amadeu ou o Mário de Sá Carneiro. Mesmo em épocas mais próximas aconteceu o mesmo.
Ao contrário do que acontecia, e m Portugal hoje traduz-se pouco do francês - ate há dificuldade em arranjar um bom tradutor do francês - e conhecemos mal os novos escritores e pensadores franceses. Mas diz quem se debruça sobre estes assuntos que, nas humanidades, os franceses continuam imbatíveis.
Também conhecemos pouco da música francesa atual. O cinema, que esteve meio moribundo, está pujante.
Em todas as áreas destacam-se muitos franceses filhos de imigrantes.
Bom dia!