terça-feira, 11 de julho de 2017

Paris: La Rotonde

«Saí e desci pelo passeio ao Boulevard Saint-Michel, passei as mesas do Rotonde ainda cheias, olhei para o outro lado da rua para o Dôme, com as suas mesas até á beira do passeio. Alguém me acenou de uma das mesas, não vi quem era e segui. Queria chegar a casa. O Boulevard Montparnasse estava deserto. O Lavigne estava fechado a sete-chaves e à porta da Closerie des Lilas amontoavam-se as mesas. [...]
«[…] meti-me num táxi para o café Select. Ao atravessar o Sena  […]. O rio estava bonito. Era sempre agradável passar uma ponte em Paris. […]
«O táxi parou em frente do Rotonde. Seja qual for o café de Montparnasse para onde se mande quando o condutor nos traz da margem direita, é certo que nos põe no Rotonde. Daqui a dez anos será provavelmente o Dôme. Mas era bastante perto. Ladeei as mesas tristes do Rotonde, direito ao Select.»
Hemingway – O sol nasce sempre (Fiesta). Carnaxide: Livros do Brasil, 2007, p. 49, 60-61



Já aqui foi referido que Léon Zamaron convivia neste café com muitos artistas.
Antes da Grande Guerra, La Rotonde era um pequeno bistrot que Victor Libion comprou, em 1911, e alargou para um talho junto. Criou ainda uma esplanada onde os clientes podiam gozar o sol.
Victor Libion, que manteve o café até 1920, apoiava muito os artistas e conta-se que quando os que não tinham casa adormeciam no café, os empregados tinham ordem para não os acordar.
Soutine, Kisling, Derain, Vlaminck, Picasso, Modigliani, André Salmon e Max Jacob eram alguns dos frequentadores do café, assim como Lenine e Trotsky, que aí jogava xadrez.
Neste café encontravam-se pessoas provenientes de muitos países e ouviam-se conversas em muitas línguas.
Fonte: Jean-Paul Carcalla – Montparnasse: L’âge d’or


Modigliani, Picasso e André Salmon à frente do café, 1916.
Moïse Kisling, Pâquerette e Picasso no café, 1916.
Jean Cocteau - Picasso e Paquerette em la Rotonde.

5 comentários:

  1. Paris, Paris! Assim tenha forças para viver...

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  2. Gostei de Paris, dos cafés com esplanadas aquecidas, da imagem um tanto snob e à grega, de ali haver a maceração do ócio. Mas não é deles que tenho saudade. Antes gostei das pontes e das ruas, dos artistas que pintam à beira do Sena ou em Montmartre, de subir a rua do Arco do Triunfo e a que esqueci o nome, de sentar num dos jardins e descansar da lonjura de tudo; de tomar o pequeno almoço admirando os executivos que chegam ao serviço de skate, bicicleta e afins. De, enfim, ser turista.

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  3. Paris nestes tempos tinha uma grande riqueza
    intelectual, em várias artes. Hoje em dia tenho
    dúvidas se isso acontece. Mas, como diz a canção,
    Paris sera toujours Paris.
    Boa tarde.

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  4. Bea,
    Também o que mais gosto é das pontes, de poder atravessar o rio - gosto de cidades com pontes que se possam atravessar a pé -, de passear. E gosto da variedade de exposições que há sempre em Paris. Sempre algo para aprender.

    Maria Franco,
    Todos iam para Paris, até portugueses como o Amadeu ou o Mário de Sá Carneiro. Mesmo em épocas mais próximas aconteceu o mesmo.
    Ao contrário do que acontecia, e m Portugal hoje traduz-se pouco do francês - ate há dificuldade em arranjar um bom tradutor do francês - e conhecemos mal os novos escritores e pensadores franceses. Mas diz quem se debruça sobre estes assuntos que, nas humanidades, os franceses continuam imbatíveis.
    Também conhecemos pouco da música francesa atual. O cinema, que esteve meio moribundo, está pujante.
    Em todas as áreas destacam-se muitos franceses filhos de imigrantes.
    Bom dia!

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