Procuras um país no teu país
que não existe nem existiu nunca.
O rosto com que fita o teu país
é uma face feita rocha adunca
a tirar-nos da terra, não esqueças:
" o meu país é o que o mar não quis ";
e vê a aridez, que pede meças
à meseta deserta de Madrid !
Pois da Europa assim fomos dizendo:
" o rosto com que fita é Portugal".
Mas o mar, por temível e tremendo,
era mesmo assim o nosso igual.
Agora fita a Boca do Inferno,
vem meditar no Portugal moderno!
-
Luís Filipe de Castro Mendes,
Boca do Inferno ( com versos de Ruy Belo e Fernando Pessoa ), in Outro Ulisses Regressa a Casa, Assírio&Alvim, fevereiro de 2016.
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