quarta-feira, 2 de maio de 2018

Leituras no Metro - 973

Trad. Aníbal Fernandes.
Lisboa: Sistema Solar, 2012

«Élie Faure [...] um médico, mas sobretudo escritor que em jornais, revistas e livros pensava a arte, toda a arte, como "o grande mistério da transposição lírica", e os homens como "construtores" obscuros com um esforço colectivo ignorado, responsável pelo aparecimento dos espíritos superiores no mundo. […] O texto Paul Cézanne é de 1914 e está entre os que dedicou a notáveis "construtores do mundo", ou seja, a autores de "um trabalho de organização esboçado numa sociedade destruída". São a esta luz significativas as considerações que a sua História propõe sobre o pintor: "Mesmo quando tenta compor, como nessas extraordinárias reuniões de personagens nuas onde fez o esforço, visivelmente obcecado pela memória de Poussin, de construir com inabilidade uma longa melodia sensual no meio do grande coro das árvores, do vasto céu, das águas correntes, mostra-se mesmo então livre de toda a espécie de intenção psicológica ou literária. E o seu clacíssismo, essa necessidade de ordem e medida que desde a infância o perseguia, mesmo então se engana sobre o seu verdadeiro sentido. Ele provinciano, ele católico, está de acordo com o ritmo secreto do seu século, é impelido em direção ao organismo desconhecido, que hesita, por forças profundas das quais não tem mais consciência do que os pedreiros das últimas igrejas romanas perante uma nave que ia de repente saltar, aligeirar-se, alongar-se, planar como uma asa com a geração que ascendia". [...]
«Joachim Gasquet [...] deixou na literatura francesa uma imagem quase esquecida de poeta lírico, tendo chegado a dizer-se que a mais forte desde Victor Hugo. […]
Só era um dia mais velho do que Élie Faure, mas os seus pulmões – roídos pelo gás clorídrico dos ataques químicos da Primeira Guerra Mundial – reduziram-lhe a vida a quarenta e oito anos, os últimos passados numa luta sem êxito pela sobrevivência. […]
Embora Cézanne fosse amigo de infância do seu pai, Joachim só o conheceu em Abril de 1896 (o ano do retrato onde hoje o vemos, exposto na Galeria de Arte Moderna de Praga e com um aspecto difícil de associar aos vinte e três anos de idade que nessa altura ele tinha). Entre os dois houve um convívio intenso, os quatro anos de encontros e cartas que veremos refletidos em O Que Ele Me Disse…, aos quais outros se sucederam de relativo afastamento até ao desacordo político que em 1904 definitivamente os separou.»
Da introdução de Aníbal Fernandes.

Acabei há poucos dias este livro, cuja leitura me deu um grande prazer.

«A natureza é mais em profundidade do que à superfície».
Cézanne

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