Lisboa: Temas e Debates: Círculo de Leitores, 2017
Foi o primeiro livro de Catherine Merridale que li, que escolheu para epígrafe desta obra uma citação de N. K. Krupskaia, mulher de
Lenine: «Deve contar-se toda a verdade, a verdade nua e crua, às massas, sem
medo de que a verdade as assuste e afaste.»
Gostei, parece-me uma historiadora imparcial, tanto quanto se pode ser
em relação a um personagem como Lenine.
Merridale fez esta viagem cem anos
depois, quando certas linhas de comboio desapareceram ou foram alteradas.
Em abril de 1917, Lenine saiu de Zurique a 9 de abril, atravessou a
Alemanha em guerra (com a ajuda das autoridades deste país) e chegou a
Haparanda onde foi metido num comboio selado, tendo chegado à estação Finlândia
em Petrogrado a 16 de abril. Churchill, anos mais tarde, escreveu a este
respeito o seguinte: «Temos de tomar plenamente em consideração as apostas
desesperadas em que os líderes de guerra alemães já estavam empenhados. Todavia,
foi com um sentimento de pavor que viraram contra a Rússia a mais sinistra de
todas as armas. Transportam Lenine num vagão selado, como um bacilo da peste,
da Suíça para a Rússia.» (cit. p. 18).
«Neste momento, há quase
tanta instabilidade no Planeta como existiu no tempo de Lenine e um conjunto
ligeiramente diferente de grandes potências continua a trabalhar arduamente
para garantir a sua supremacia no topo. Uma técnica que utilizam nos conflitos
regionais, uma vez que o envolvimento militar direto tem tendência para custar
demasiado, é ajudar e financiar rebeldes locais, sendo que alguns estão no
terreno, mas outros têm de ser colocados lá precisamente como aconteceu com
Lenine. […] A história do comboio de Lenine não é propriamente exclusiva dos
soviéticos. Em parte, é uma parábola sobre a intriga das grandes potências e
uma das regras, aí, é que as grandes potências quase sempre interpretam mal as
coisas.» (p. 19)
Há quem defenda que foram os alemães que tomaram a iniciativa de "empurrar" Lenine (e o seu pacifismo) para a Finlândia e, posteriormente, para a Rússia, numa estratégia para vir a libertar a frente Leste (através da cessação das hostilidades) e poderem concentrar-se no ataque na frente ocidental.
ResponderEliminarContinuação de boas férias.
Toda a razão APS , não há dúvida até pelas facilidades concedidas pelos alemães. E a estratégia resultou , mas muito além do que os alemães esperqvam ...
ResponderEliminarEm tempos vi uma série realizada pelo cineasta italiano Damiano Daamiani, precisamente sobre esta viagem de Lenin ("Il treno di Lenin"-1988), com Ben kingsley no protagonista, onde acompanhamos os preparativos e depois a viagem, com a respectiva "intriga", que lhe estava associada.
ResponderEliminarMuito boa tarde!
APS e Luís,
ResponderEliminarNem tudo se controla.
Mister Vertigo,
Não sabia dessa série. Obrigada pela dica.
Bom fim de semana para todos.
P.S. - Houve um percalço com a colocação deste comentário. O seu a seu dono. :)