Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe - d’água.
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Manuel Bandeira
1930
Para APS e porque também eu me lembrei deste poema sobre Pasárgada, onde está o túmulo de Ciro II.
Arriscaria a dizer que este é um poema clássico de Manuel Bandeira, na sua rede intemporal.
ResponderEliminarMal eu sabia, e foi preciso chegar até aqui, que o nome "Pasárgada" não era uma pura invenção do Poeta brasileiro. O que não diminui a qualidade universal do poema.
Uma boa Páscoa.
Eu não sabia era que em Pasárgada estava o túmulo de Ciro II.
ResponderEliminarBoa Páscoa!