Fragonard - O baloiço [I]
Fragonard - O baloiço [II], 1767 - o mais conhecido
Como balouça pelos ares no espaço
entre arvoredo que tremula e saias
que lânguidas esvoaçam indiscretas!
Que pernas se entreveem, e que mais
não vê o que indiscreto se reclina
no gozo de escondido se mostrar!
Que olhar e que sapato pelos ares,
na luz difusa como névoa ardente
do palpitar de entranhas na folhagem!
Como um jardim se emprenha de volúpia,
torcendo-se nos ramos e nos gestos,
nos dedos que se afilam, e nas sombras!
Que roupas se demoram e constrangem
o sexo e os seios que avolumam presos,
e adivinhados na malícia tensa!
Que estátuas e que muros se balouçam
nessa vertigem de que as cordas são
tão córnea a graça de um feliz marido!
Como balouça, como adeja, como
é galanteio o gesto com que, obsceno,
o amante se deleita olhando apenas!
Como ele a despe e como ela resiste
no olhar que pousa enviesado e arguto
sabendo quantas rendas a rasgar!
Como do mundo nada importa mais!
Assis, 8 abril 61
Jorge de Sena
Em memória de J.-F. C.
Um poema sensual de Jorge de Sena inspirado num quadro de Fragonard.
ResponderEliminarFesta em Rambouillet na Gulbenkian foi uma pintura que sempre
me fascinou e que várias vezes fui admirar, talvez pelo contraste
entre os personagens tão pequenos, e a pujante natureza.
Tenho de lá voltar, agora que Jorge de Sena me trouxe esta
recordação de Fragonard.
Também gosto muito desta pintura. E de A Ilha do Amor sobre a qual os historiadores se interrogam: o barco está a chegar ou a partir? Um dia destes hei de também voltar à Gulbenkian para a ver.
ResponderEliminarBom domingo!
Philippe Sollers conhecerá este poema?
ResponderEliminarTambém me lembrei de Les surprises de Fragonard. :)
ResponderEliminarBoa tarde!