terça-feira, 20 de outubro de 2020

O chá das cinco - 135

 

Foto © Pedro Loureiro

Não podia deixar de evocar Helena Marques que faleceu na segunda-feira. Conheci-a como jornalista e o seu primeiro livro. O último cais (1992), foi uma agradável surpresa. Li todos os seus livros (de cariz autobiográfico ou vivencial) e ofereci alguns.

Theo's Restaurante- Bar, Funchal, 1941
Fortaleza e Palácio de São Lourenço e Café Kit Kat, Funchal, 1941

«"Lembras-te da tua mãe, quando falava dos chás do Theo's nesses tempos antes da guerra, antes de nós nascermos? É curioso deixei de ir à Madeira há tantos anos, guardo pouquíssimas recordações e, no entanto, nunca me esqueço da tia Bia a falar dessas tardes, desses chás, do ambiente, das pessoas... Lembras-te, Laura?"
«"Lembro-me. Como não havia de lembrar-me?..."

«O melhor chá do Funchal, contava Beatriz, era o do Theos, À tarde - e nas memórias de Bi nunca havia Inverno, o sol pairava baixo e radioso mas não demasiado quente, e a brisa do mar perpassava, fresquíssima, sem jamais se transformar em vento, muito menos em frio, nem se sobrecarregar do cheiro impertinente a maresia - à tarde, dizia Bi, no seu ligeiro, idealizado recordar, descíamos ao Theo's ou ao Kit Kat para tomar chá. O Theos era um restaurante grande resguardado em penumbras e conforto, em cortinados sombrios e madeiras antigas, com pesados talheres de Christofle, louças inglesas e velhos empregados solenes, que abria para uma varanda larga e longa, resvés com as copas floridas dos jacarandás. Umas dezenas de metros mais abaixo, quando a Avenida de Zarco faz esquina com a Avenida do mar, o Kit Kat centrava-se todo na grande esplanada empedrada em preto e branco,, bum dos muitos padrões geométricos que se multiplicavam pelas praças e passeios da cidade. Os frequentadores sentavam-se em amplas cadeiras de vime, á volta de mesas com tampo de mármore cobertas de linho branco, bebendo um chá forte e perfumado, enquanto as crianças sorviam sumos acabados de espremer [...].»
A deusa sentada. 2.ª ed. Lisboa: Dom Quixote, 1994, p. 30-31

6 comentários:

  1. Eu li O Último Cais e gostei muito. Gostava muito de um dos filhos dela: Paulo Camacho, tive pena quando deixei de o ver na SIC.
    Foi nessa varanda que eu bebi pela primeira vez sumo de maracujá, mas penso que já não se chamava Theo's, embora não consigo recordar-me do nome.
    Lembro-me é que me apaixonei pelo passion-fuit...

    Boa noite!
    🍁

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  2. Uma bonita homenagem a mostrar a prosa da autora.

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  3. Li todos os livros de Helena Marques e espantosamente A deusa sentada é o único livro que tenho dela. Devo ter oferecido os outros.
    Fui à Madeira em 1973 e 1975, mas não me lembro se fui ao Theo's e ao Kit Kat. Pelo que vi na net ainda existem os dois.
    Boa tarde!

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  4. Só li O Último Cais, era uma edição da Visão/JL, penso que ainda o tenho.
    Fui espreitar os cafés do Funchal e vi um outro (também com uma varanda esplanada) onde recordo ter estado: o Golden Gate, quase em frente à estátua do João Gonçalves Zarco e do Banco de Portugal. Foi todo remodelado, aliás foram todos. A Madeira foi uma boa surpresa para mim, é uma ilha bem bonita, estive lá nos anos oitenta muitos anos depois de ter ido aos Açores.

    A Bárbara anda a jogar às escondidas: ora chove, ora faz sol.
    Bom entardecer!
    🌅

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  5. Gostei bastante da Madeira, mas hoje não tem nada a ver com o que era. Felizmente!
    Por aqui hoje o tempo não esteve nada mau. Veremos amanhã...
    Boa noite!

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