O Descanso e alivio dos discípulos de Marte, ou novo jogo militar (em grafia modernizada)
Trata-se de um folha estampado por ação de uma gravura aberta a buril (técnica água-forte) no século XVIII - trabalho de Michel Dosister - dedicado à instrução lúdica do príncipe do Brasil [título criado pelo rei João IV, para o seu filho primogénito masculino e que a partir de 1735, passa a ser atribuído aos herdeiros presuntivos do trono].
Corresponde ao hoje designado jogo da Glória (também designado por jogo dos gansos, dado todos os marcadores se seguirem em linha) - um jogo de tabuleiro em que se tem de ter especial atenção ao que está escrito em cada casa.
O Descanso e alívio dos discípulos de Marte, ou Novo jogo militar: trata-se de um jogo francês, traduzido em português no século XVIII. Embora não esteja datado, julgamos que o seu original foi posto à venda por Guilherme Danet, no começo do século, talvez em 1719, data em que foi igualmente traduzido um outro jogo, também dedicado ao Príncipe do Brasil, denominado Novo Jogo da Marinha. Vendia-se em Paris, na casa do livreiro que o mandou imprimir, situado na «ponte nossa senhora da sphera real». O seu gravador deve ter sido Michel Dosister, gravador francês, que não conhecia bem a língua portuguesa. Copiou as letras mas errou por vezes a sua forma, dando origem a outras letras semelhantes. O tradutor não deveria conhecer também a realidade militar do país, pois manteve certos termos e explicações que só faziam sentido em França ( por exemplo as casas com os números 10 e 19).
Houve contudo a preocupação de fazer parecer um jogo desenhado para Portugal, pois as armas do escudo central são as portuguesas.
Cada jogador lançava, simultaneamente, dois dados e avançava o número de casas correspondente aos números marcados nos dados. O objetivo era ir recebendo o maior número de condecorações ("tentos" na linguagem do século XVIII) ganhando o que tivesse esse maior número quando chegasse ao fim (se só dois jogadores ganhava o primeiro a chegar ao fim). O avanço de casas poderia ser premiado ou prejudicado pelo que nela estivesse inscrito.
Em 1989, aquando da realização da exposição evocativa «No 2.º Centenário da morte do príncipe D. José» foram feitas novas regras adaptadas ao lúdico do século XX e a Biblioteca Nacional e Quetzal Editores, produziram uma nova série do jogo com instruções de João José Alves Dias, que nessa edição escreveu:
«De acordo com Ernesto Soares, Dicionário de Iconografia Portuguesa, vol. IV, 1954, p. 209, n.º 4159 B, datámos, anteriormente, a feitura deste jogo como sendo da segunda metade do século XVIII, destinada a servir ao Príncipe D. José (1761-1788).«No entanto, tudo leva a crer que ele, na verdade, foi traduzido do francês para servir, em primeiro lugar, ao seu avô, igualmente Príncipe do Brasil e futuro Rei de Portugal, D. José (1714-1777). Isto não impede que, por sua vez, o seu neto tenha brincado também com ele».
Glória: chegar junto do rei com o maior número de condecorações, por feitos militares.
Magnífico!
ResponderEliminarNão fazia a menor ideia que este jogo tinha a sua origem tão recuada...
E, nota-se muito cuidado nos desenhos, letra...
JAD, muito obrigada por nos brindar com esta preciosidade!
Bom dia e boa semana!
Isto feito por quem 'descobriu', estudou, jogou e publicou o jogo é outra coisa. Quem sabe, sabe!
ResponderEliminarSaudades deste nosso Principezinho - já lá vão 33 anos! - e dos nossos outros setecentistas. E muitas saudades do João Pedro. O que nos divertimos!!!
Boa semana!
Parabéns por este post magnífico. Isto quem nasceu para ensinar... É um dom raro.
ResponderEliminarBoa semana!
Tenho jogo destes para venda
ResponderEliminar