O Amor e a MORTE
União
Tenho, ainda, o teu corpo nos meus braços;
Sobre os meus ombros, teu cabelo.
Descansando dos meus e teus cansaços,
Tu dormes por nós ambos. Só eu velo.
Nos meus braços teu corpo estremeceu,
Desse tremor o meu foi percorrido.
Colados, curva a curva, onde começa o teu?
Onde acaba o meu? Teu e meu têm sentido?
Teu ligeiro suor penetra a minha pele:
Teu suor dos transportes de há momento
Que me atrevo a provocar como quem lambe
mel,
Em que refresco as mãos como num leve
unguento.
Brandamente, por vezes, te desvio
De mim, para melhor, depois, sentir
Que és bem tu que eu agarro, acaricio,
Bem tu que eu pude, em mim, fundir.
Aí, anular-te em mim sem te perder!
Aniquilar-me em ti, - mas sendo nós!
Velo, e nem sinto a noite discorrer.
Sonho, e que sonho de que amor feroz?
Se ela viesse agora, Aquela que em seu
manto
De silêncio e de sombra nos transporta,
Não seria melhor, meu doce encanto?:
Poder eu, ao morrer, ver-te já morta?
Porque amanhã,
Se não mesmo esta noite, o nosso inferno
Não mais permitirá que qualquer sombra vã
Da glória dum momento eterno.
José Régio - Filho do Homem:
versos. Lisboa, Portugália Editora, 1970, p. 33-35.
Transcrito, aqui, no dia Mundial da Poesia (2021),
a partir do livro comprado em 1976.
A poesia de Régio é chave de ouro neste dia solarengo.
ResponderEliminarIsso é que são arrumações! 😉😊 Sempre vamos espreitando e lendo uns livros...
ResponderEliminarBoa tarde!
No conocía este poema ni a este autor, que me recuerda a algún clásico del Barroco.
ResponderEliminarAbrazos soleados.
Nasceu em Vila do Conde e tem lá uma Casa-Museu. Foi professor em Portalegre e também nessa cidade tem uma Casa-Museu. Foi um grande colecionador de arte. E foi um dos poetas da Presença; talvez tenhas ouvido falar deste movimento que editou uma revista, em Coimbra.
ResponderEliminarGosto de alguns poemas dele, mas gosto mais dos seus contos.
Bom sábado!
Bom fim de semana, Jad!
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