terça-feira, 13 de abril de 2021

Leituras na pandemia - 54

Barcarena: Presença, 2019

Os homens que salvavam livros é a história dos habitantes do gueto de Vilna, na Lituânia, que resgataram milhares de livros e manuscritos raros da cultura judaica por duas vezes: primeiro das mãos dos nazis, mais tarde dos soviéticos. 
Tendo como base documentos judaicos, alemães e soviéticos, incluindo diários, cartas, memórias e entrevistas do autor com vários participantes da história, o livro trata das atividades de um grupo de poetas e eruditos que se tornaram combatentes e 'contrabandistas' na cidade conhecida como «a Jerusalém da Lituânia». Estes homens e mulheres, judeus, eram escritores, trabalhavam em bibliotecas ou eram professores na Universidade antes da Guerra e foram escolhidos para selecionar os tesouros da cultura hebraica existentes na Lituânia (e não só) que os nazis pretendiam levar para a Alemanha. O que não interessava era lixo, vendido para reciclagem de papel. Muitas livros em couro foram aproveitados para solas de sapatos. E as chaves da edição do Talmude da Editora Ronim de Vilna foram vendidas para derreter. Pesavam 60 toneladas. Perante isto, muitos desses homens começaram a esconder os livros mais raros; outros livros iam aumentar a biblioteca do gueto, muito importante para manter alguma saúde mental aos seus habitantes.
Shmerke Kaeserginski, um poeta, depois de em jovem ter sido «salvo pelos livros de uma vida de crime e desespero», achava que era a hora de ser ele a salvar livros, expressando «a sua fé de que haveria um povo judaico após a guerra, que precisaria de retomar a posse dos seus tesouros culturais.»
Este grupo reuniu uma regras para selecionar as obras:
- «Livros: Separar apenas um exemplar para contrabando. Duplicados podem ser enviados para a Alemanha ou para reciclar em fábricas de papel, [...]
- Livros: Os de formato pequeno e os folhetos são mais fáceis de contrabandear dentro da roupa do que grandes os fólios do Talmude ou os álbuns. Itens maiores têm de ficar separados dentro do edifício do YIVO, até que seja organizado o transporte para o gueto por meio de veículo [do lixo, por exemplo].
- Manuscritos: [...] prioridade a manuscritos literários e a cartas de escritores famosos. [...]
- Arquivos: Um grande problema. Coleções de arquivos eram grandes demais para contrabandear no corpo. [...] A brigada de papel designou a maioria dos arquivos para serem despachados para a Alemanha. [...]
- Obras de arte (pinturas e esculturas): contrabando por veículo.» (p. 115-116).

O diário de Herzl, que era dado como desaparecido, foi um dos tesouros encontrado e guardado pelos 'salvadores'.

A biblioteca do gueto tinha 2500 leitores registados. Na área de empréstimo estava afixado: «Os livros são o nosso maior alívio no gueto!» Os leitores requisitam principalmente romances (78,3%), literatura infantil (17,7%) e não ficção (4%). O livro mais requisitado era Os quarenta dias de Musa Dagh de Franz Werfel.

Abraham Sutzkever (à esq.) e Gershon Abramovitch (à dir.) com jornais e obras de arte recuperadas (um busto de Lev Tolstoi da autoria de Gintsburg), jul. 1944.
O portão do gueto de Vilna.

12 comentários:

  1. ¡ Cuántas obras se habrán perdido por la estulticia o la codicia de unos bárbaros!
    Personas como las que aparecen aquí, se merecen al menos que no los olvidemos. En un libro de Khaled Hosseini que teníamos en el Club de lectura, aparecía un personaje que clavaba los libros en el techo, creo que para salvarlos.
    Feliz día desde un Lugo con llovizna.
    Un abrazo.

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  2. Pensar que tem que haver sempre alguém, algures, que quer destruir livros faz-me doer a alma. São mesmo heróicos os que os decidem salvar! Este livro deve ser difícil de ler para quem ama livros.
    Boa tarde

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  3. Luísa,
    De Khaled Hosseini só li O menino de Cabul. Vou procurar esse livro.

    Paula,
    A maioria destes homens não se salvaram. E sabiam: 1) que podiam ser enviados para os campos de concentração para serem mortos; 2) se fossem descobertos seriam imediatamente mortos.

    Boa tarde para as duas.

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  4. Um livro a ler, sem dúvida!
    A expressão 'salvar livros' fez-me recordar alguns livros, entre eles:

    O inesquecível Fahrenheit 451 do Ray Bradbury e o filme do Truffaut (que penso todos conhecem);

    O 'Wasted Vigil' do Nadeem Aslam, um livro passado no Afeganistão e onde aparece uma personagem que pregava os livros no tecto para os salvar, pois quando vinham as rusgas que tudo levavam, nunca olhavam para cima...
    Um livro belo e brutal, que comprei em 2009 e que me fez compreender melhor o sofrimento do povo Afegão.
    Quando penso que peguei no livro porque tinha romãs na capa... às vezes acertamos, mais tarde li críticas muito boas deste paquistanês criado em Londres.
    Para quem estiver interessado:
    Uma Espera em Vão (Civilização)
    La Casa de los Sentidos (Alfaguara)
    La Vaine Attente (éd. du Seuil)
    Todas de 2009.

    Gosto muito do Khaled Hosseini, médico e escritor Afegão de quem já li alguns livros, sendo que de um deles também vi o filme: The Kite Runner.

    Boa tarde para as três!
    📚📖

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  5. Vou por Uma espera em vão na minha lista de próximas leituras. Não conheço Nadeem Aslam, mas Mapas para amantes perdidos tb está traduzido em português.
    Boa tarde!

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  6. Há gente extraordinária, arrisca a vida pelo amor aos livros mas também a pensar nos vindouros. Apesar de todo o propalado amor que temos aos livros, não creio que a maioria de nós fosse capaz de fazer o mesmo. Eu não seria, certamente.

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  7. Maria : Yo he leído lo mismo, pero no conozco a Nadeem Aslam.Supongo que esos episodios se repetirían realmente para poder salvar algo.
    He leído Cometas en el cielo Y Mil soles espléndidos. No he visto la película de Cometas en el cielo.
    Probablemente lea Mapas para amantes perdidos.
    Bea : Aunque me encantan los libros, no creo que fuese capaz de esas heroicidades. Por eso tal vez les admiro más.
    Buenas noches a todas.

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    Respostas
    1. Luisa, também li o Mil Sóis Resplandecentes e gostei.
      O Cometas en el cielo deve ser o The Kite Runner, que em Portugal saíu com o nome O Menino de Cabul: li o livro depois de ver o filme.

      O livro do Nadeem Aslam marcou-me muito, mesmo muito, a ponto de chegar ao fim e voltar a reler algumas partes, o que não me acontece muitas vezes...
      Mas é um livro muito muito duro de ler.

      Um abraço.
      🤗

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  8. Os livros eram a vida deles e estavam a ver a sua cultura a ser destruída e os seus concidadãos a serem mortos. Sabiam que a tarefa de selecionar livros para os nazis levarem lhes podia adiar um pouco a morte e resolveram arriscar. Muitos no princípio não aceitaram, mas foram-se juntando. Chegaram a ser 40 homens e mulheres.
    Acho que nenhum de nós saberia o que faria porque são situações limite.
    Bom dia para todos.

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  9. Há uns anos comprei um CD de que gosto muito: "Les chants de la guérilla des juifs. Chants antinazis du ghetto de Vilno".
    Obrigada por ter trazido este livro que vou ler.
    Boa tarde!

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  10. Já estive a ver e ouvir. Tem uma ou duas canções interpretadas pela Chava Alberstein, de que gosto muito.
    Alguns destes homens eram poetas e escreveram poemas que eram cantados no gueto. Não consegui ver se alguma destas canções tem 'letra' de algum deles.
    Bom dia!

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