Onde foi a casa do poeta
agora é um pátio de escola em que brincam crianças
e tem à frente um baloiço
e lá atrás duas árvores.
Na esquina da rua com o seu nome
um mendigo serrazina a sua viola
e o som alonga-se chorado,
chora e perde-se devagar
nas outras ruas que levam
à Travessa do Pagode,
à porta da loja onde ainda o espera
o amigo antiquário Ah-Men.
Já ninguém sabe o destino
do cachimbo com que inventava
paraísos e princesas
ou sereias, com seus cantos,
músicas e campos de liliáceas,
cores de mil maravilhas
ao mundo que bem sabia
que era mais o daquele mendigo
àquela esquina para a Sam Má-lô
e a sua viola chorando
pela moeda de meia pataca
que também eu me esqueci de deitar
na tigela que tinha ao lado.
Pedro da Silveira
In: Corografias. Lisboa: Perspetivas & Realidades, 1985.
Se assim é, é de lamentar, mas não de estranhar!
ResponderEliminarPois poucas são as casas de escritores que são preservadas por não serem valorizadas.
Pelo menos, a de Camilo Pessanha tem crianças a brincar...
Um poema limpo a recordar Camilo Pessanha e um lugar a que pertenceu. Que pouco há quem hoje lembre o poeta.
ResponderEliminarBom fim de semana para as duas.
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