terça-feira, 18 de julho de 2023

Gino Bartali (1914-2000)


Há uns meses li um livro sobre pessoas que participaram na Resistência durante a II Guerra Mundial. Um deles foi o ciclista Gino Bartali, de que (parece-me) nunca tinha ouvido falar, que venceu o Giro de Itália em 1936, 1937 e 1946, e o Tour de França em 1938 e 1948. Desertou do exército italiano e foi preso em 1943, tendo sido libertado por intervenção de amigos. Nunca foi julgado porque os tribunais de guerra italianos foram desmantelados quando os nazis ocuparam a Itália. 
A partir de 1940 Gino Bartali rolava por Itália, afirmando que treinava mas, na verdade, ele transportava papéis falsos e dinheiro para famílias judias que se encontravam escondidas, tendo salvado imensas vidas.

Acrescento feito em 22 jul., devido a um comentário de ptcorvo, que agradeço:


8 comentários:

  1. Também não conhecia.
    Admirável. Eu , por vezes, penso que não sei se seria capaz de fazer estas coisas a causa do medo.
    Bom dia!

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  2. Em todas as guerras, há sempre muita maldade e também muito heroísmo.
    Bom dia!

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  3. Sim, também não me aprece que o conseguisse fazer nesse contexto.
    Bom dia para as duas.

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  4. Em Itália, mercê da popularidade do ciclismo, é um herói nacional.
    Já agora, cruzando com o post mais recente sobre Guido Harari (capista de discos de Paolo Conte), há uma música de Paolo Conte (um senhor muito cá de casa, como o De André...) que é, precisamente Bartali.
    Aqui (https://www.youtube.com/watch?v=hBaQaFRJsbk), vídeo da versão original, com imagens de Bartali a pedalar.
    Aqui (https://www.youtube.com/watch?v=FXrFhw3wvrM) duas belíssimas "variações da mesma canção ao vivo.

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  5. O que a gente aprende. Obrigada.
    Gosto muito de Paolo Conte, um dos meus italianos preferidos. Vou acrescentar a a canção dele ao post sobre Bartali.
    Bom sábado!

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  6. O que a gente aprende. Obrigada.
    Gosto muito de Paolo Conte, um dos meus italianos preferidos. Vou acrescentar a canção dele ao post sobre Bartali.
    Bom sábado!

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  7. Bartali e o(s) uso(s) da História

    Regresso ao post sobre Bartali incentivado pelo acaso: no cafarnaum bibliográfico em que vivo, redescobri dois livros de polémica, recentes, sobre o campeão italiano, que li em diagonal:

    - PIVATO, Marco, e PIVATO, Stefano, L’Ossessione della memoria : Bartali e il salvataggio degli ebrei: una storia inventata. – Roma : Castelvecchi, 2021;

    - BIDUSSA, David; FOOT, John; FULVETTI, Gianluca; MARCELLINI, Carla; PIVATO, Stefano; e SBETTI, Nicola, Il caso Bartali e le responsabilità degli storici. – Roma, Castelvecchi, 2021;

    Resumo da questão, tal como me pareceu exposta nestes livros: não há certezas históricas sobre a eventual participação de Bartali no auxílio a judeus durante a 2ª Guerra — há testemunhos de 2ª mão, uma lenda grata, mas nem o próprio se manifestou (publicamente) sobre a questão, nem há fontes diretas que sustentem o enredo. Isto, apesar do frenesi oficial. E é, precisamente, nesta vertente do aproveitamento político-institucional que a história me parece mais interessante.

    Da “conexão” política de Bartali (à revelia do próprio, diga-se) já se sabia: sustenta-se que em 1948 evitou a guerra civil em Itália, porque a sua vitória no Tour de France aplacou, pela euforia nacional, a indignação de grande parte da população causada pelo atentado a Palmiro Togliatti; porque era católico, a sua figura foi “apropriada” por setores democrata-cristãos, em contraponto ao seu rival, Fausto Coppi, que não sendo católico foi “alinhado” aos comunistas — numa versão real e verdadeiramente concorrencial das personagens Don Camillo e Peppone, de Giovannino Guareschi (e este autor também teve o seu ativo papel político, extra-literário, por exemplo, na calúnia a De Gasperi, só muitos anos depois dilucidada).

    Socorro-me das indicações de John Foot, em capítulo do segundo livro referido supra, “San Gino” (já antes publicado como artigo no «London Review of Books», 23 Fevereiro 2021): as primeiras referências ao papel de Bartali no auxílio a judeus durante a guerra foram publicadas em 1978 (ainda em vida de Bartali) num livro de Alexander Ramati, para o qual este entrevistou o Padre Rufino Niccacci, fonte inicial da história. O livro, publicado originalmente em inglês, não teve impacto em Itália. Em 2006 (já após a morte de Bartali, ocorrida em 2000), Paolo Alberati, ex-ciclista, recuperou a história na sua tese, e desta vez o enredo pegou, sendo divulgado e consolidado por diversos órgãos de informação. O próprio historiador John Foot, na sua história do ciclismo italiano (Pedalare! Pedalare!, 2011) a repescou. Em 2013 Bartali foi elevado a “Justo entre as Nações” pelo Yad Vashem, com base em testemunhos a que, ao que parece, só o próprio comité teve acesso. Em 2018 as três primeiras etapas do Giro d’Italia foram disputadas em Israel e a Bartali foi conferida, postumamente, a cidadania israelita — enquanto em Itália começava a correr a possibilidade da sua canonização.

    Entretanto, em 2017, Michele Sarfatti, historiador do Holocausto, tinha já começado a lançar dúvidas sobre a veracidade integral da história, soterradas pela onda mediática de homenagens e celebrações. Em 2021 Marco e Stefano Pivato publicaram o primeiro livro acima referido, recebido por um coro de acusações de antissemitismo e revisionismo histórico; face ao clamor, um grupo de historiadores, italianos e estrangeiros, publicou em seu desagravo o 2º livro referido, designado por “panfleto”. Numa Itália ainda a contas com a sua participação na perseguição aos judeus e com uma Igreja Católica também em busca de uma solução histórica menos comprometedora, John Foot termina o seu artigo de forma resignada: «O livro dos Pivato será ignorado. O mito Bartali durará. Poderá ainda ser feito santo.»

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  8. Obrigada por mais estas achegas. É pena eu ler muito mal italiano, senão candidatava-me a dois empréstimos.
    Mais santo menos santo... Há por aí cada santo, como o nosso Nuno Álvares Pereira, um mercenário...
    Boa semana!

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