O KGB invadiu a casa de Vassili Grossman (1905-1964) e manuscrito bem como todas as notas relacionadas Vida e destino, tendo Suslov informado o escritor que o livro não iria ser editado nos próximos 200 anos (imagine-se!). Todas as cópias do livro desapareceram, exceto uma em microfilme que foi enviada por Sakharov para o estrangeiro e o livro foi publicado pela primeira vez no estrangeiro. Após a queda da União Soviética, o manuscrito que estava nos arquivos do KGB foi localizado. É uma obra-prima.
Depois da confisco do livro, Grossman resolveu aceitar o trabalho de rever a tradução para russo de um romance arménio. Só o fez porque isso lhe possibilitou visitar a Arménia e porque parece que o governo soviético também o queria fora de Moscovo.
Dessa viagem nasceu Bem hajam!, relato dos dois meses que passou naquele país: as conversas com os arménios, muitas vezes em língua gestual, dado que Grossman desconhecia arménio e os habitantes do país não falavam russo. Por vezes, havia um intérprete.
Fala-nos das pessoas, das paisagens, das cidades, dos monumentos, dos costumes. Um relato intimista e comovente.
« Foi surpreendente para mim: entre os arménios, há muitos loiros, de olhos cinzentos, azul-claros, azul-escuros. Vi na aldeia crianças de cabelo clarinho, vi a encantadora Rossana, de quatro anos, de olhos celestes e cabelo dourado. Entre as mulheres e os homens arménios há caras de uma beleza de antiguidade clássica, com feições de rosto ideais, nariz pequeno e regular, olhos azuis amendoados. Vi pessoas com maçãs de rosto salientes, narizes achatados e o rasgo dos olhos um pouco asiático; vi pessoas com narizes arrebitados, vi arménios com caras alongadas, agudas, narizes incrivelmente grandes, aguçados, aduncos. Encontre pessoas de cabelo tão negro que parecia azulado [...].
«Como teriam surgido, contudo, os desvios de feições arménios consideradas típicas?
«Creio que tal variedade reflete a história das milenárias invasões, incursões, quedas em cativeiro, a história dos contactos comerciais e culturais [...].» (p. 33)
«[...] a exaltação nacionalista dos pequenos povos oprimidos surge como um meio de defesa da sua dignidade e liberdade.» (p. 39)
Deve ser muito interessante.
ResponderEliminarBom dia, boas leituras!🍂
Gostei muito. E tb gostei de Vida e destino, uma obra-prima. Os outros livros deste escritor estão na lista à espera de tempo.
ResponderEliminarBom dia!
Não conheço este livro de Vassili Grossman. Já li três romances dele e comprei há dias "O povo é imortal", o primeiro romance que ele escreveu mas que só agora foi editado em Portugal. Vou ler este "Bem hajam!"
ResponderEliminarBem haja, MR!
Que bom não se ter perdido a obra de um grande escritor de que não li mais que o exposto no post. O vídeo também tem interesse, mas ainda não consegui vê-lo na totalidade.
ResponderEliminarBom domingo para ambas.
ResponderEliminarEstive agora a ver o vídeo e gostei imenso. Penso que nunca tinha visto nada sobre a Arménia (lembrei-me do Charles Aznavour).
ResponderEliminarTantos países acerca dos quais pouco ou nada sei...
Boa tardinha!🍂
Tb me lembrei. E do Gulbenkian. Aprendi bastante sobre a Arménia quando li uma biografia do Gulbenkian, da autoria de José Rodrigues dos Santos.
ResponderEliminarParece que vem aí uma biografia do Espinosa que tb vou ler. A família fugiu de cá e o homem (que pensava pela sua cabeça) acabou excomungado pelos judeus de Amesterdão. Sempre quero ver como JRS trata isto.
Boa tarde!
Pois é, o Gulbenkian, não me lembrava...
ResponderEliminarNão li essa biografia de JRS, aliás não li quase nada dele, mas quando quiser ler sei que posso encontrar os livros dele na biblioteca.
Boa tarde.
Fora esta biografia li um sobre os repórteres na Guerra Mundial, que não é romance. E A filha do capitão que ele devia ter condensado um pouco. Mais nada. Mas estou interessada no Espinosa.
ResponderEliminarBom dia!