quinta-feira, 25 de abril de 2024

Viva o 25 de Abril! Para sempre!


«No decorrer de uma recente entrevista, longa e simpática, em que se falou dos tempos da resistência, houve um aspeto que muito intrigou o jovem operador de câmara. Os encontros. Aqueles tais encontros que tanto trabalho davam a preparar, em sítios previamente escolhidos, no final de percursos calculados ao milímetro, serviam afinal para quê? O que se fazia nesses tais encontros [...]? 
«É reconfortante, para mim, dar nota desta pergunta e assinalar o espanto do moço. Significa que ele vive num mundo para que nós contribuímos - mesmo em modestíssima escala, como foi o meu caso -, no qual práticas normais e inofensivas deixaram de estar proibidas e sancionadas, com risco de prisão.
«Por mais que resmunguemos e protestemos, por desagradáveis e condenáveis que sejam alguns traços do quotidiano de hoje, o facto é que ganhámos.
«Já não temos que nos levantar às seis da madrugada, deslocar-nos de táxi até certo ponto, mudar para um elétrico, depois para um autocarro, andar cem ou duzentos metros desconfiados até á esquina determinada para dar e receber informações, dar ou receber jornais [...].
«Em suma: atividades e práticas em absolutos correntes, abertas e normais, numa sociedade democrática, como aquela em que, felizmente, nos encontramos hoje.
«Sem termos de nos esconder de ninguém e sem que alguém nos peça (pesadas) contas.»
Mário de Carvalho - «Encontros». In: De maneira que é claro. Alfragide: Caminho, 2021, p. 154-155.

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