E por falar em judeus...

Tatiana Salem Levy é um nome a fixar para quem gosta de acompanhar o panorama da literatura brasileira. Escritora, nascida em Lisboa há 29 anos mas a viver desde os nove meses de idade no Rio de Janeiro, esta judia com ascedência turca é já considerada "autora revelação", graças à intensidade que imprimiu o seu romance autobiográfico a que deu o título de A chave de casa. Audaciosa, Tatiana Levy, sobrepõe uma narrativa de viagem a uma história de paralisia. Um corpo que percorre a Turquia na esperança de encontrar uma casa de família e um corpo que jaz e sofre na cama. Um paralelo tão contraditório como as confissões expressas na obra; confissões sobre um amor que vai sobrevivendo graças a instantess de delírio sexual, em que tudo é permitido, aliados a momentos de medo. E, ao mesmo tempo, por entre narrativas ficcionais e memorialísticas, a figura maternal, a mãe que se ama, a mãe que já morreu mas que se quer ressuscitar, a mãe de que se precisa. Ainda não li o livro, mas quem já o fez afirma ser difícil supor como uma jovem adulta, de aspecto frágil, pudesse escrever de forma tão crua ao ponto de provocar uma sensação de quase claustrofobia nos seus leitores. A edição tem a chancela Livros Cotovia que também tem publicadas obras de Bernardo Carvalho (1960, Rio de Janeiro). Aberração, Teatro, Nove noites, Mongólia e O Sol se Põe em São Paulo, são os títulos daquele que é tido como o mais original escritor brasileiro dos anos 90 graças a uma escrita depurada e cerebral, em que nada é o que aparenta ser e que agarra o leitor como um vício.