quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

De Escritos em forma de grafonola

a propósito do meu francês de hoje

«Antes de escrever uma obra, dou várias vezes uma volta, na companhia de mim mesmo.» (Erik Satie)


Lisboa: &etc., 1993

.....
... falou-se muito da inteligência dos animais - são, além do mais, polidos...
.....
... É raro que um animal seja grosseiro face ao Homem - É o Homem que tem falta de cortesia face aos animais...
.....
... Exemplo: ... um gato dorme num sofá,... chega o Homem,... & escorraça o gato.
.....
... Nunca vi o contrário:... vir o gato,... & escorraçar o Homem,... do sofá...
.....
.....
(Erik Satie - «A Música & os Animais»)

É muito natural que Satie venha a pôr Sócrates a cantar. Não pertence ele a esse género de indivíduos misteriosos e excepcionais a quem a sociedade vaza a cicuta gota a gota e recusa a sabedoria por ela tomada como sendo farsas perigosas ou loucura? Este homem estranho a que todos chamamos o nosso bom mestre era de uma linha tão pura que se tornava invisível aos olhos duma multidão de juízes habituados a só ver uma linha pelas suas ampliações, e por assim dizer o tirso pelos seus pâmpanos de vinha, o caduceu pela boca da serpente.
Satie jamais teria aceite realçar-se através duma aparência. Ele compelia a probidade e o antinarcisismo até ao ponto de zombar do seu próprio reflexo, deitando-lhe mesmo a língua de fora.
(Jean Cocteau - «Satie Morreu. Viva Satie»)

2 comentários: