terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Os meus poemas -17

VÊ COMO É LISA...

Vê como é lisa a mesa aonde pomos
as nossas mãos entrelaçadas; e
serenamente como nos sorri
o próprio instante que fugaz nós somos,
presos e livres neste estar aqui...

Alheios nos olhamos e escrevemos
no mármore o silêncio do futuro.
Pelas janelas sopra o vento puro
daquilo que sonhamos e não temos,
tamborilando sobre o mármor' duro.

A mesa lisa como os sonhos lisos,
a mesa dura como o dia a dia...
À nossa volta há gargalhadas, risos,
e nós entristecemos no seria,
pois o será se perde em ventania.

E o breve instante desta hora mansa
deixa na mesa o único sinal
do frio que em adeus nos fere e alcança:
em cada hoje um amanhã igual
nos alimenta espera da esperança.

António Salvado
(1936 - )

2 comentários:

  1. Muito bonito. Não conhecia.
    Devo agradecer-lhe esta mais-valia.
    A.R.

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  2. Qualquer poema que escolha, seja da sua autoria, seja de outrem, é simplesmente belo.

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