VÊ COMO É LISA...
Vê como é lisa a mesa aonde pomos
as nossas mãos entrelaçadas; e
serenamente como nos sorri
o próprio instante que fugaz nós somos,
presos e livres neste estar aqui...
Alheios nos olhamos e escrevemos
no mármore o silêncio do futuro.
Pelas janelas sopra o vento puro
daquilo que sonhamos e não temos,
tamborilando sobre o mármor' duro.
A mesa lisa como os sonhos lisos,
a mesa dura como o dia a dia...
À nossa volta há gargalhadas, risos,
e nós entristecemos no seria,
pois o será se perde em ventania.
E o breve instante desta hora mansa
deixa na mesa o único sinal
do frio que em adeus nos fere e alcança:
em cada hoje um amanhã igual
nos alimenta espera da esperança.
António Salvado
(1936 - )
2 comentários:
Muito bonito. Não conhecia.
Devo agradecer-lhe esta mais-valia.
A.R.
Qualquer poema que escolha, seja da sua autoria, seja de outrem, é simplesmente belo.
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