Prosimetron
sábado, 18 de setembro de 2010
Novidades - 142
Oktoberfest
A propósito da proposta para o novo mapa de freguesias de Lisboa
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6gTMOjlITuXnRbOfFw2hZ8mj8IZ7D0iyqebUpcCOYvbFiighwLdp2I_5qRLyk7sCAkcZXporoIgBq6qNrqaTKaTd9pXoBTIujAGF0soa-qRpXa8eN_k7-kDxGpc8RsLmbFhTJUO2BON4/s400/mapa.bmp
«Um autarca manifestou incómodo por, numa reforma deste tipo, poderem vir a misturar-se grupos sociais com características muito diferentes. Mas isso é que é a cidade, que não pode, para sobreviver, aceitar que existam freguesias de primeira e de segunda, ilhas de pobreza segregadas dos paraísos afluentes, bolsas de desafogo urbano no meio de um deserto sem perspectivas de crescimento. A cidade ou é democrática e interclassista ou não é uma cidade.»
In: Notícias Sábado, 18 Set. 2010, p. 22
O destaque em bold (vermelho) é da minha responsabilidade.
Guerra Junqueiro e João Penha
http://i44.tinypic.com/21lvccl.jpg
(Despique, numa noite de boémia académica, na bodega do Campos da Baixa - do Homem do Gás - em Coimbra.)
PENHA:
Iam caminho de Sintra,
Montados num só jumento,
Um vate e um dandy pelintra,
Soltando canções ao vento.
Pára o burro; é como chumbo.
Diz-lhe o bardo: «Ó gâmbias podres!»
Responde o triste: «Sucumbo
Sob o peso de tais odres.»
... ... ...
Junqueiro, que vens de junco,
Tu, que és pássaro bisnau,
Não abres o bico adunco?
Pois não me sentiste o pau?
JUNQUEIRO:
O Penha borracho
Corria, cantando,
No dorso dum macho,
Mas eis senão quando
A besta o estira
Na lama da praça.
Quebrou-se-lhe a taça,
Quebrou-se-lhe a lira,
Quebrou-se-lhe tudo
E o pobre Oliveira
Só não diz asneira
Quando fica mudo.
PENHA:
Afinaste a veia chata,
Bebeste o copo dum borco,
E a cidade, estupefacta,
Ouviu o grunhir dum porco.
JUNQUEIRO:
Porco és tu, meu animal,
Porque as vermelhas canções,
Que sacas do teu bestunto,
São vermelhos salpicões,
Não são versos, são presunto.
PENHA:
Acertou-te a pedra, e de arte
Que te fiz na testa um galo,
E forcejas por vingar-te
Como se vinga um cavalo.
JUNQUEIRO:
Dou-te um conselho, Oliveira,
Como estás com muita pressa,
Vai coser a borracheira,
Meu menestral de tripeça!
... ... ...
In: Obras de Guerra Junqueiro. Porto: Lello & Irmão, s.d., p. 1043-1045
Nota: João Penha chamava-se João de Oliveira Penha Fortuna.
Um dia destes ponho um conto, adaptado por Junqueiro e que faz parte dos Contos para a infância - não dou com o livro, que inclui uma cabra.
Em português - 32
Sai de casa e vem comigo para a rua. Ouviste?
Ainda Berlusconi...
Lotte Lenya
ONDE ME APETECIA ESTAR - 41 : Parc Floral
E no cinema
Tal como Garbo depois fez, escolhendo quando e como sair de Hollywood, vivendo depois uma célebre vida de reclusão.
A solução : Cristina da Suécia
É realmente esta extraordinária rainha, patrona das artes e das ciências e protectora de Descartes, a única mulher que está sepultada na cripta da Basílica de São Pedro em Roma. Não por vontade dela, que não o queria, mas por decisão papal.
E tal como eu disse ontem em comentário, foi um acontecimento espectacular: a mais famosa conversão da Europa Moderna.
Relembro o contexto para os mais esquecidos: depois de uma guerra terrível, que devastou a Europa Central, terminada pela Paz de Vestefália, eis que um dos protagonistas "muda de campo"- a rainha da Suécia decide converter-se ao catolicismo, e percebe que na sua Suécia protestante tal implica abdicar do trono, o que faz, deixando em estado de choque os seus súbditos mas também as outras nações, protestantes e católicas.
Segue-se depois a ida para Roma, onde se instala no Palácio Farnese e é muito acarinhada pelo Papa e pelos romanos- melhor propaganda para a Santa Sé não se pode imaginar...- e onde virá a morrer anos depois.
Termino este curtíssimo esboço biográfico com uma dúvida que muitos historiadores e biógrafos de Cristina continuam a levantar: a abdicação e subsequente conversão da rainha sueca deveram-se apenas à sua fé, ou também ( e sobretudo dizem alguns) ao seu grande desejo de liberdade pessoal, de viver a sua vida fora dos constrangimentos de um trono? Entre viver em Estocolmo, presa a obrigações, ou na Roma do séc.XVII livre de preocupações que não as intelectuais e estéticas...
Apelo!
Hoje queria relembrar um poema... Junqueiro (?) talvez... mas já não tenho a certeza de nada... Era acerca de uma cabra que ia para o matador, calada, enquanto que os outros dois animais (cevado e um porco (?)), seus companheiros "berravam", mas ela como era cabra, e tinha outra condição, não berrava sem ter razão....
Quem me recorda o poema... será que o APS se lembra?
Sobre a escrita.
"Quando comecei a escrever, pensei que tudo devia ser definido pelo escritor. Dizer, por exemplo, «a lua» era estritamente proibido; era necessário encontrar um adjectivo, um epíteto para a lua. (Claro que eu estou a simplificar as coisas. Sei disso porque escrevi por diversas vezes La luna, mas isto é uma espécie de símbolo que eu fazia.) Bem, eu pensava que tudo tinha de ser definido e que não podiam ser usadas frases com fórmulas comuns. Eu nunca teria dito; fulano de tal entrou e sentou-se, porque isso era demasiado simples e demasiado fácil. Pensei que tinha de encontrar uma forma interessante de o dizer. Agora, descobri que esse tipo de coisas, em geral, é um aborrecimento para o leitor. Mas julgo que a raiz da questão reside no facto de que quando um escritor é jovem sente, de certa forma, que aquilo que vai dizer é bastante tolo ou óbvio, um lugar-comum, e por isso tenta escondê-lo sob uma ornamentação barroca; ou, se não for isso, caso ele se mostre moderno, faz o contrário: põe-se permanentemente a inventar palavras ou a referir-se a aviões, a comboios ou ao telégrafo e ao telefone porque está a fazer tudo o que pode para ser moderno. Depois, à medida que o tempo passa, sentimos que as nossas ideias, boas ou más, devem tentar passar essa ideia ou esse sentimento ou esse estado de espírito para o leitor. Se, ao mesmo tempo, estamos a tentar ser, digamos, um Sir Thomas Browne ou um Ezra Pound, então é impossível. Por isso acho que um escritor começa sempre por ser demasiado complicado – está a jogar diversas partidas em simultâneo. Quer proporcionar um determinado estado de espírito; ao mesmo tempo tem de ser contemporâneo, e se não for contemporâneo, então é um reaccionário e um clássico. Quanto ao vocabulário, a primeira coisa que um jovem escritor decide fazer, pelo menos neste país, é mostrar aos seus leitores que possui um dicionário, que conhece todos os sinónimos de uma palavra […] "
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Livros de cozinha - 35
5.ª ed. Paris: Pierre Téqui, s.d.
Segundo ela, Deus criou os quatro elementos (o fogo, a terra, a água e o ar) e Hildegarda «garante-nos que estes quatro elementos se encontram no homem e que este age com eles. Estão de tal modo associados que não podem ser separados uns dos outros e asseguram a estrutura do corpo. Devemos concluir que a saúde depende da harmonia dos elementos e a doença da sua desordem.»
Assim, Hildegarda trata dos alimentos que devemos ou não ingerir, os primeiros chamados «alimentos da alegria», já que nos trazem boa disposição. Entre estes alimentos encontram-se, por exemplo, o funcho («De qualquer modo que se coma, ele traz alegria ao coração... assegura uma boa digestão») e a castanha. Esta útil contra todas as doenças que atacam o homem. Hildegarda assegura-nos que comendo castanhas «os nervos fortificar-se-ão... o coração reencontrará o seu vigor», etc. E as especiarias da alegria são, de acordo ela, por exemplo, a canela, o cominho, a noz moscada e a pimenta.
Hildegarda insiste na estreita relação existente entre o homem e o universo. Logo, a natureza ajuda-nos fornecendo-nos, em cada estação, os alimentos que nela devem ser consumidos. Se comemos contra a estação, arriscamos a nossa saúde. Este ensinamento é interessante. Ainda há pouco li algo sobre isto. que não devíamos comer as frutas fora da estação, o mesmo em relação às frutas exóticas.
Sopa de castanha*
1 kg de castanhas
1 l de água
Porto ou Madeira
sal e pimenta
Cozer as castanhas descascadas cerca de 3/4 hora em água, passá-las no passe-vite. Cozê-las novamente juntando a quantidade de água desejada para que a mistura fique untuosa. Juntar sal e pimenta. Antes de servir, juntar 1 colher de sopa de Porto ou Madeira.
* Gosto de castanhas, mas não de sopa de castanhas.
Frase da semana ( que passou )
Paulo Teixeira Pinto, um dos responsáveis pelo projecto de revisão constitucional do PSD.
Obviamente, o preâmbulo da Constituição está muito datado,mas a carga simbólica parece-me ser demasiado pesada para permitir alterações.
De passarem aves
http://www.zaroio.com.br/i/o/2007121702481213.jpg
De como e de quando
as aves passaram
Tão leves aflando
as sombras pousando
no ar que cortaram,
falei, mas não sei
que melancolia
sentida no dia
por tarde eu lembrei
na tarde que havia.
As aves passaram
e delas falei.
Do ar que cortaram
as sombras ficaram
mas onde, não sei.
Jorge de Sena
Cinenovidades - 140: Marginais
Citações - 115 : Linces e polvos
pública são as duas espécies mais protegidas do País.
Só a primeira é que está em vias de extinção.
- Ricardo Araújo Pereira, We all live in an expensive submarine, na Visão desta semana.
Hesitei entre ilustrar esta citação com um lince ou um polvo da administração pública, mas como há sempre risco de processo escolhi o belo lince da Malcata...
Por falar em rissóis de camarão...
Douro Jazz 2010
O festival termina a 16 de Outubro, com Al Di Meola e a sua World Sinfonia.
Já agora, o meu serão de ontem...
http://media.photobucket.com/image/riss%2525C3%2525B3is/Fernandal/DSC09616.jpg
Começou com uns rissóis de camarão num restaurante do BA - não estavam nada mal -,
e acabou no São Carlos a ouvir Cañizares - soberbo! -, e não só.
Cinenovidades - 139 : Lisboa Domiciliária
O meu serão de ontem - 11
Cinema Avis
Trivia Quiz
Um quadro por dia - 85
Hildegard de Bingen
Colecção de cromos: Marisol
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Canção de alta noite
Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.
Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.
Acaba-se a última porta,
o resto é o chão do abandono.
Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.
Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.
Andar... - enquanto consente
Deus que seja a noite andada.
Porque um poeta, indiferente,
anda por andar - somente.
Não necessita de nada.
Cecília Meireles
Para APS que há tempos colocou no ARPOSE dois versos desta poesia. Hoje encontrei o poema em Poesia sempre II, uma antologia organizada por Sophia de Mello Breyner Andresen.
Bird Song
x
Cinenovidades - 138 : A espada e a rosa
A ESPADA E A ROSA- A primeira longa-metragem do João Nicolau teve ontem estreia no Festival de Veneza, na secção Horizontes.
PENSAMENTO(S) - 138
Amanhã somos nós.
Frase que ouvi esta manhã, à porta da Igreja das Furnas, proferida por uma velhota que via passar um cortejo fúnebre. Simples e sábia frase, embora tantos tenham dificuldade em "encaixá-la" e viver em conformidade.
Na mesma manhã em que, na TSF, ouvi que no ano passado morreram por atropelamento 319 pessoas, só na cidade do Porto!. E muitas das quais, não me lembro precisamente quantas, a atravessar passadeiras.
Tão simples quanto isto, simples no sentido em que ocorre a morte completamente fora do previsível e do expectável, longe da doença, dos excessos alimentares e outros que vamos mais ou menos combatendo.
Em português - 31
Biografias, autobiografias e afins - 80
Uma vida que dava um filme, um romance etc.
O lançamento é no próximo dia 21 de Setembro, pelas 18h30, no Salão Nobre do Palácio da Independência (Largo de S.Domingos, Lisboa ).
México - 200 Anos
Breve tipologia do beijo ... (6)
Uma leitura nascida do acaso
“Deveria destruir a carta que te escrevi e que tão ciosamente tenho guardado. Conservá-la-ei no entanto. Ela testemunha um momento do meu coração inquieto e da minha vida incerta. Uma frase que lá se escreve tenho, porém, que rectificar: não é verdade que só o sentimento perdure, multiplicando-se de corpo em corpo; a verdade é outra mais bela: só o espírito perdura multiplicando-se de alma em alma”.
Miguel Real, Carta de Sócrates a Alcibíades, seu vergonhoso amante, Editora Licorne, 2010, (2ª edição) p. 63-64
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Um quadro por dia - 84
Muito há para dizer sobre esta bela e enigmática tela, das mais visitadas no Louvre, que prefiro à versão "barroca"( está em Chatsworth ) que Poussin pintou primeiro. Hoje não é a ocasião.
Mas fica a mensagem que apoquenta os pastores da Arcádia que a leêm na pedra, mensagem para todos, na Arcádia e fora dela.
Biografias, autobiografias e afins - 79
É preciso recuar a 1849, quando George Sand desiludida com a Revolução de 1848 se refugia em Nohant, aí conhecendo o jovem Alexandre, amigo do seu filho e 13 anos mais novo...
Seguem-se anos de paixão intensa, mas também dramas familiares e cívicos: a ruptura com a filha Solange, a morte da neta e o golpe de estado de Luís Napoleão (NapoleãoIII) que criará o Segundo Império Francês.
Le dernier amour de George Sand, Evelyne Bloch-Dano, Grasset, 317p, Julho de 2010.
Yvette Chauviré
E neste vídeo do YouTube podemos vê-la, com uma graciosidade admirável, a ajudar outra grande bailarina francesa, Sylvie Guillem.
Livros de cozinha - 34
«A receita mais estranha que conheço é uma que Antónia aprendeu em um velho livro de cozinha de mamãe, publicado ainda no seculo XIX, chamado O cozinheiro nacional.
«Era assim: ela pegava um bom peso de carne, chã ou lombo, deixava em vinha-d'alhos de um dia para o outro. Temperava então como de costume, enfiava na carne umas lascas de toucinho e depois a enrolava muito bem em folhas de bananeira. Aí cavava no chão do quintal um buraco fundo, de uns quarenta centímetros de profundidade, fazia um lastro de pedra e, sobre elas, lá no fundo, enterrava a carne. Cobria tudo, primeiro com pedras, depois com terra, e arrumava um fogo em cima. Sob essa fogueira, mantida sempre acesa, deixava a carne por algumas horas. O embrulho, ao ser retirado do buraco e aberto, espalhava um cheiro tão bom de carne que até parecia aroma de cozinha francesa. Mas tínhamos cisma de comê-la, até de prová-la, por causa do nome. Chamava-se 'carne sepultada'.»
Rachel de Queiroz (1910-2003)
Quanto ao livro Cozinheiro nacional, se quiser, saiba algo sobre ele em:
http://eptv.globo.com/terradagente/terradagente_interna.aspx?273549
1956 : Elvis
Colecção de cromos: Pernell Roberts
Continuando com Agatha Christie...
Picasso em Cascais
Picasso - Retrato de Jacqueline com chapéu de palha
Mougins, 14 Jan. 1962
Linóleo / papel Arches
Picasso - Retrato de homem com gola plissada
1962
Linóleo/papel
Para além de obras de Picasso, estão também expostas gravuras de Miró, Kandinsky, etc.
Lembrando Bocage
Poema declamado por Luís Gaspar
Despedindo-se da Pátria, ao partir para a Índia
Eu me ausento de ti, meu pátrio Sado,
Mansa corrente deleitosa, amena,
Em cuja praia o nome de Filena
Mil vezes tenho escrito e mil beijado.
Nunca mais me verás entre o meu gado,
Soprando a namorada e branda avena,
A cujo som descias mais serena,
Mais vagarosa para o mar salgado.
Devo, enfim, manejar, por lei da Sorte,
Cajados não, mortíferos alfanges,
Nos campos do colérico Mavorte;
E talvez entre impávidas falanges
Testemunhas farei da minha morte
Remotas margens, que humedece o Ganges.