Tommaso pretende impressionar Laura e pede ajuda a Bruno para fazer o jantar.
«- Vou-te ensinar a picar - disse Bruno a Tommasso. - Assim, quando ela chegar, dá ideia que és tu que estás a cozinhar.
«- Claro – disse Tommasso, confiante. Bruno pegou numa maçã e colocou-a na superfície de trabalho. Depois desenrolou o saco de lona das facas.
«- Se estragares as minhas facas - disse -, és um homem morto.
«- Não estrago. Tommasso pegou na maior, uma Wüsthof de aço. – Caramba, é pesada.
«Bruno retirou suavemente o cutelo da mão do amigo.
«- Não, não. Demasiado grande para ti. Deves começar com esta. – Passou-lhe a Global mais pequena. – É japonesa. Feita em aço vanádio. – Bruno verteu um pouco de azeite numa pedra de afiar. – Primeiro vou-te ensinar a afiá-la.
«- Ao fim de cinco minutos a afiar, Tommasso estava enfadado.
«- Já deve estar pronta.
«- Quase.
«Quando ficou satisfeito, Bruno pegou numa afiadeira de aço extraduro.
«- E agora vamos amolá-la.
«Decorreram alguns minutos antes de Bruno deixar o amigo começar com a maçã.
«-Usa-se a parte de cima da lâmina com objectos mais grossos e a ponta com os mais finos - instruiu. - Trabalha a maçã na oblíqua, assim. Não esperes que a primeira fatia caia para passares à seguinte. E mantém as pontas dos dedos encolhidas. Esta lâmina corta os chispes dum porco, os teus dedinhos não seriam obstáculo.
«Enquanto Tommasso praticava o corte, Bruno ocupava-se da doçaria. Ao contrário de muitos chefs, não menosprezava a doçaria. Adorava também carne e legumes, mas havia um prazer diferente em criar doces artificiais e deslumbrantes com açúcar e farinha ou em cozer um tabuleiro de simples bolachas.
«O dolce propriamente dito, depois de comida tão substancial, seria simples - o ricotta com mel e uns pós de canela, e um copo de vin santo - vinho branco doce - no qual seriam embebidos tozzetti, biscoitos de avelã feitos à mão. Bruno estava precisamente a colocar os biscoitos no forno [...].»
Anthony Capella - Receitas de amor. Lisboa: Leya, 2009, p. 51