Prosimetron
sábado, 13 de março de 2010
Alice - 2
Versão port. de Maria das Mercês e Maria Isabel de Mendonça Soares; il. Eric Kincaid (1931-)
Lisboa: Verbo, 1991
«Alice pôs-se de joelhos, espreitou e avistou ao fundo um jardim tão lindo como nunca se vira outro assim.»
«- Se toda a gente se metesse na sua vida - disse a Duquesa, com um grunhido - o Mundo andaria mais depressa do que anda.»
«- Principia pelo princípio - disse o Rei com ar grave - e vai andando até ao fim; nessa altura, pára.»
Para saber mais sobre este ilustrador: http://www.erickincaid.com/
Song to the Siren
Mozart para o Carlos
Alice - 1
A nossa vinheta
Sébastien Le Clerc - Tapisseries du roy, [Augsburg] : Gedruckt daselbst durch Jacob Koppmayer,1690
Triplo retrato (10)
Livro de Horas de Spinola, fl. 10v ("Spinola Hours")
Los Angeles, Getty Center, J. Paul Getty Museum (Ms Ludwig IX 18)
Sandra Gamarra, uma pintora peruana!
Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía
x
Sandra Gamarra, The New Worshippers, II, 2007
Hino às Flores!
Obrigada!
A. S.: Escolhas Pessoais XXI
Retrato de Miguel Torga, por Guilherme Filipe
Estamos próximo dos idos de Março, do fim do Inverno, neste ano que tem sido áspero e duro, no país e no mundo. No frio, na chuva, nos cataclismos naturais. Ora, áspero, mas natural, foi também o transmontano Miguel Torga (1907-1995), de seu nome de baptismo: Adolfo Rocha. Que era também portador de uma grande ternura humana, mas selectiva. Um dia, encheu o quarto de estudante de Eugénio de Andrade, de flores silvestres que colhera – quando o visitou, em Coimbra. De outra vez, ainda aluno universitário, num intervalo das aulas, deu uma palmada nas traseiras de uma colega. Como ela protestasse, admitiu: “ É ternura, sua bruta!” Eu não sou um incondicional de Torga e até lhe prefiro a prosa à poesia. No entanto, o autor de “Bichos” tem um poema que é toda uma vida. E vale toda uma obra, para mim, pela sua simplicidade e força naturais.
BUCÓLICA
A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.
Retrato de Alberto de Lacerda, por Rui Filipe
Por outro lado há, por vezes, poemas que têm um início fulgurante, perfeito e, depois, no final afunilam de uma forma redutora ou banal, o que tinha sido um começo surpreendente e feliz. É o caso, entre muitos outros exemplos que poderia citar, de um poema de Alberto Lacerda (1928-2007) a quem Jorge de Sena chamou “um puro poeta”, aquando da publicação, em Londres, de “77 poemas”. Além de bom poeta, Alberto de Lacerda era, também, um grande “diseur” da sua própria poesia. Nem todos os poetas o são. Tive, aliás, o grato prazer de o ouvir. Ora, o poema de que eu falava acima, tem uma grandeza inspirada inicial que, de algum modo, desaparece no verso final, quase fazendo implodir a obra em si. Mesmo assim consegue, no seu todo, ser um belo poema. Tem por título:
DIOTIMA
És linda como haver Morte
depois da morte dos dias.
Solene timbre do fundo
de outra idade se liberta
nos teus lábios, nos teus gestos.
Quem te criou destruiu
qualquer coisa para sempre,
ó aguda até à luz
sombra do céu e da terra,
libertadora mulher,
amor pressago e terrível,
primavera, primavera!
Sol de Primavera
Nota: Esta será a minha última “Escolha Pessoal”. Que termina, exactamente, cinco meses depois de ter feito a primeira. Pesam-me algumas omissões, neste “Clube de Poetas Mortos”, que são de minha frequente leitura: Sá de Miranda, Pessanha, Cesário, Nemésio, Jorge de Sena, Ruy Belo, para só falar de poetas portugueses. Mas antes que o hábito se transforme em rotina e o gosto em obrigação, é salutar que acabe no limiar da Primavera – que é um tempo propício para viver a Poesia… Laus Deo.
P.S.: A LB, com reconhecimento e estima.
Post de Alberto Soares
Em torno do silêncio! 3
Leituras no Metro - 12
http://media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-s/00/19/db/80/rue-cadet-opera-cadet.jpg
Aspecto actual da Rue Cadet.
sexta-feira, 12 de março de 2010
Boa noite, Mark Linkous!
Neste vídeo, ouve-se «Hundreds of Sparrows» do álbum Good Morning Spider.
PENSAMENTO(S) - 104
Sound Of Silence!
I've come to talk with you again
Because a vision softly creeping
Left its seeds while I was sleeping
And the vision
That was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence
In restless dreams I walked alone
Narrow streets of cobblestone
Beneath the halo of a street lamp
I turned my collar to the cold and damp
When my eyes were stabbed
By the flash of a neon light
That split the night
And touched the sound of silence
And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more
People talking without speaking
People hearing without listening
People writing songs that voices never share...
And no one dare
Disturb the sound of silence.
"Fools," said I, "you do not know
Silence like a cancer grows."
"Hear my words that I might teach you,
Take my arms that I might reach you."
But my words like silent raindrops fell,
And echoed in the wells of silence.
And the people bowed and prayed
To the neon god they made.
And the sign flashed out its warning
In the words that it was forming.
And the signs said: "The words of the prophets
Are written on the subway walls
And tenement halls,
And whisper'd in the sound of silence."
«Silence is golden»
Como eram...
... e em 2006, talvez 40 anos depois.
Não pude deixar de me lembrar desta canção. Há quantos anos não a ouvia.
Em torno do silêncio! 2
Matt Lucas
Números - 8 : Muitos pela Paz.
Frase da Semana
" Os esquálidos estão a fazer votos para que não chova, mas vai chover, porque Deus é bolivariano. A natureza está connosco. "
E a minha escolha reside em vários factores: o inusual adjectivo para qualificar os opositores ao regime- esquálidos, a certeza sobre as convicções de Deus ( Deus é bolivariano ) e sobre o apoio da Natureza. Já não se fazem líderes assim...
Biografias, autobiografias e afins - 68
A mais recente obra de Irene Flunser Pimentel é uma biografia do Cardeal Cerejeira, incontornável figura da Igreja Católica Portuguesa durante o século XX e do regime do Estado Novo. O subtítulo do livro está muito certo: O Príncipe da Igreja. Manuel Gonçalves Cerejeira foi realmente o nosso último cardeal-patriarca a incarnar a figura cardinalícia com a pompa de outros tempos, como se vê nestas fotos que encontrei onde está a usar a famosa (e longa) capa magna.
Happy Birthday Liza Minelli !
Cinenovidades - 114 : Eclipse
Micarême
Encontrei um convite, com história, para L'Isle-aux-Grues (Québec, Canadá) o que mostra que a tradição continua viva também na América.
"Fête de la Micarême", em França (Rennes), 1910.
Coisas do céu... 19
Os Instantes Superiores da Alma
Os instantes Superiores da Alma
Acontecem-lhe - na solidão -
Quando o amigo - e a ocasião Terrena
Se retiram para muito longe -
Ou quando - Ela Própria - subiu
A um plano tão alto
Para Reconhecer menos
Do que a sua Omnipotência -
Essa Abolição Mortal
É rara - mas tão bela
Como Aparição - sujeita
A um Ar Absoluto -
Revelação da Eternidade
Aos seus favoritos - bem poucos -
A Gigantesca substância
Da Imortalidade
Emily Dickinson, in "Poemas e Cartas", (Tradução de Nuno Júdice)
quinta-feira, 11 de março de 2010
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Coisas do Inferno ... - 10
Este meu "inventário infernal" prossegue hoje em terras lusas, tendo por protagonista o empresário Carlos Santos, que vemos supra, mais conhecido como O Diabo de Gaia. Desta vez, porém, não se trata de bater em árbitros de futebol mas sim coisas mais graves: Carlos Santos foi um dos 6 detidos anteontem por alegado envolvimento numa rede de contrabando de tabaco, tendo sido apreendidos 30.000 maços de tabaco que escaparam ao pagamento de 85.000 euros de impostos...
Citações - 68 : A crise e os bancos
(...) Escrevi Freefall: Free Markets and the Sinking of the Global Economy para sublinhar a responsabilidade primordial dos banqueiros. Não só não fizeram o seu trabalho e destruíram a nossa economia, como fizeram a campanha para atribuir a culpa a outros. Os banqueiros falharam por incompetência e por avidez: puseram em prática um sistema de remunerações que incentiva a assumpção de riscos excessivos e as estratégias a curto prazo. É verdade que os reguladores não impediram os bancos de se portarem mal. Mas quando alguém rouba uma loja, acusamos o ladrão... não a polícia, por não estar no local. E os economistas também tiveram um papel importante, ao legitimarem a ideologia da desregulamentação.
São palavras de Joseph Stiglitz, o sempre lúcido Nobel da Economia de 2001, constantes da entrevista publicada na Visão desta semana.
O SOL É GRANDE
Do tempo em tal sazão, que sói ser fria.
Esta água que de alto cai acordar-me-ia,
Do sono não, mas de cuidados graves.
Ó cousas todas vãs, todas mudaves,
Qual é tal coração que em vós confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
Incertos muito mais que ao vento as naves.
Eu vira já aqui sombras, vira flores,
Vi tantas águas, vi tanta verdura,
As aves todas cantavam de amores.
Tudo é seco e mudo; e, de mistura,
Também mudando-me eu fiz doutras cores.
E tudo o mais renova: isto é sem cura!
Sá de Miranda, In Poesias Escolhidas,(Introdução, seleção e crítica de José V. de Pina Martins) Lisboa: Editorial Verbo, 1969.
Para agradecer a APS.
Il Gatto
Pintura de Giovanni Reder (1693-1764 ?)
Roma, Museu di Roma
Este gato serve de enquadramento a um soneto do Abade Bertazzi.
Para ver o quadro completo
Leituras no Metro - 11
Denis-Paul Noyer (1940 –) – Place Furstemberg (Paris)
Litografia
In: Paris / trad. Carlos Vaz Marques. Lisboa: Tinta-da-China, 2008, p. 86
Coloquei este excerto apenas por se referir à minha praça de Paris.
Centenário da República: Edições - 2
Dois olhares, Semelhanças e Dissemelhanças na arte!2
Este retrato fez-me lembrar a Judy Garland quando jovem.
Garland em Till the Clouds Roll By (1946)
quarta-feira, 10 de março de 2010
Antes que o dia acabe gostava de lembrar o lançamento da revista Presença a 10 de Março de 1927!
A Presença publicou o último número em 1940, e a sua história compõe-se de 54 números .
No Museu do Prado...
"De marzo a mayo de 2010, el Museo ofrecerá al público el privilegio probablemente único e irrepetible de poder contemplar Las hijas de Edward Darley Boit, obra maestra de John Singer Sargent, junto a Las Meninas de Velázquez, su fuente directa de inspiración. El viaje a España de este excepcional retrato familiar constituye un acontecimiento inédito y de singular importancia, ya que la obra apenas ha salido del Museum of Fine Arts de Boston al que fue donada en 1919, siendo esta la primera ocasión en la que se exhibirá en una ciudad europea distinta a Londres, ciudad especialmente vinculada a Sargent por tratarse del lugar en el que se estableció y murió."
Ainda o Haiti, mas na primeira pessoa.
-Sabes onde acabei de passar um mês?
- Eu não.
- Estive um mês no Haiti.
E o Carlos, que é médico, lá me explicou que está a fazer um mestrado em Medicina de Emergência e de Catástrofes na Faculdade de Medicina de Sevilha e encontrava-se nesta cidade quando teve conhecimento do terrível sismo haitiano. Não hesitou- imediatamente voluntariou-se para ir para o Haiti enquadrado numa missão espanhola. Foi, pois, dos primeiros médicos a chegar.
Relatou-me o cenário encontrado de milhares de cadáveres nas ruas que, mesmo para um médico a fazer o dito mestrado, foi um terrível "baptismo de fogo", bem como as condições em que ele e os colegas tiveram de trabalhar nos primeiros dias: a primeira noite em sacos-cama, dormindo no meio dos escombros, apenas protegidos por uma cerca de lona, e os primeiros duches a partir de baldes de água fornecidos pelas autoridades militares, sendo que faltava tudo a todos, especialmente à população local.
Seguiu-se um mês de trabalho intenso, e depois o necessário descanso na República Dominicana antes de regressar a Portugal e ao hospital algarvio onde presta serviço. Um relato impressionante de coisas vistas e feitas, que não vale a pena aqui reproduzir em pormenor e que a comunicação social foi "filtrando" e se calhar bem, mas que me tirou o sono.
Novidades - 122 : Otto Dix
1979 : Gloria Gaynor
Quotidianos - 28
Henri Rousseau em Basileia
terça-feira, 9 de março de 2010
Ainda a propósito de Maria Helena da Rocha Pereira
Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia, D.L. 2006
Ó sempre inviolada noiva da quietude!
Ó filha adoptiva do Silêncio e do Tempo lento,
Rústica cantora, que assim sabes contar
Um conto flóreo com mais doçura do que os vossos versos:
Que legenda orlada de folhagem envolve a tua forma
De deidades ou mortais, ou de ambos,
No Tempe ou nos vales da Arcádia?
Que homens ou que deuses são estes? Que virgens relutantes?
Que louca perseguição? Que luta para escapar?
Que flautas e pandeiros? Que êxtase selvático?
Doces são melodias ouvidas, mas as não ouvidas
São inda mais doces; por isso, suaves flautas, continuai a tocar;
Não pra os ouvidos do corpo, mas, mais ternas,
Cantai para o espírito canções sem tom:
Belo efebo, debaixo das árvores, não podes deixar
De cantar, nem essas árvores perder a folhagem;
Amante ousado, nunca, nunca poderás beijar,
Mesmo com o alvo sedutoramente perto mas, não te lamentes,
Que ela não pode murchar; inda que não alcances a ventura,
Para sempre amarás e ela será bela!
Ah! felizes, felizes ramos! que não podeis perder
As vossas folhas, nem dizer nunca adeus à Primavera;
E tu, feliz aulete, infatigável,
Sempre a tocar canções para sempre novas;
Mais feliz amor! mais feliz, feliz amor!
Pra sempre ardente e para ser gozado ainda,
Sempre ofegante e para sempre jovem;
Muito acima do hálito de toda humana paixão
Que deixa o coração tão cheio de tristeza e saciedade,
A fronte febril e a língua ressequida.
Quem são estes que vão pra o sacrifício?
Para que verde altar, ó misterioso sacerdote,
Levas tu a vitela que vai mugindo os céus,
De flancos sedosos todos engrinaldados?
Que vilazinha à beira-rio ou junto ao mar,
Ou assente num monte c’uma acrópole pacífica,
Se esvaziou do seu povo nesta manhã piedosa?
E as tuas ruas, vilazinha, para sempre
Ficarão silenciosas; e nem viv’alma, pra contar
Porque ficaste deserta, pode jamais voltar.
Ó forma ática! Atitude bela! C’uma renda
Bordada de homens e de virgens de mármore,
Com ramos dos bosques e ervas que os pés calcaram;
Tu, forma silenciosa, intrigas e esgotas o nosso pensar
Como o faz a Eternidade: Fria Pastoral!
Quando a velhice tiver consumido esta geração,
Tu continuarás, no meio de outras dores
Que não as nossas, amiga do homem a quem dizes:
“Beleza é verdade, verdade é beleza!”, - e eis tudo
O que se sabe cá na terra, e tudo o que é preciso saber.
John Keats
Trad. Paulo Quintela