Agradeço o agradável almoço do Prosimetron com "Flores" da Biblioteca Municipal de Lisboa, Palácio Galveias, Lisboa
Prosimetron
sábado, 30 de abril de 2011
Livros de cozinha - 48
RECEITAS COM CERVEJA
M. Margarida Pereira-Müller
Colares: Feitoria dos Livros, 2011
€14,70
Conta a lenda... que a cerveja teria nascido por acaso, há 6000 anos, graças à técnica de fermentação dos cereais praticada pelos sumérios. Os egípcios foram aperfeiçoando a sua produção e no século XII a.C. o faraó Ramsés passou a ser conhecido como o «faraó-cervejeiro» depois de ter doado aos deuses no Templo de Amon 466308 ânforas de cerveja, o que equivalia a um milhão de litros proveniente das suas cervejeiras.
A cerveja tem atravessado os séculos, mantendo a tradição do seu consumo, a que os
monges associaram a qualidade de fortificante. Com a industrialização desenvolveu-se a pesquisa científica que confirmou que a abundância de silício incrementava o processo de mineralização dos ossos. A generalização do seu consumo implementou a diferenciação da oferta de vários tipos de cerveja, descritos neste livro. Uma breve obordagem da história das cervejas portuguesas permite-nos a identificação das características de cada uma, de forma a responder à evolução do mercado.
Por sua vez a gastronomia associou a cerveja como ingrediente poderoso desde as
sopas e entradas, aos pratos de mariscos, de carne, dos legumes aos doces e bolos e às bebidas desde o poncho ao bloody mary de cerveja e ainda enriquecendo o sabor no fabrico do pão.
Neste livro, Margarida Pereira-Müller apresenta mais de uma centena de receitas onde a cerveja é a protagonista.
M. Margarida Pereira-Müller
Colares: Feitoria dos Livros, 2011
€14,70
Conta a lenda... que a cerveja teria nascido por acaso, há 6000 anos, graças à técnica de fermentação dos cereais praticada pelos sumérios. Os egípcios foram aperfeiçoando a sua produção e no século XII a.C. o faraó Ramsés passou a ser conhecido como o «faraó-cervejeiro» depois de ter doado aos deuses no Templo de Amon 466308 ânforas de cerveja, o que equivalia a um milhão de litros proveniente das suas cervejeiras.
A cerveja tem atravessado os séculos, mantendo a tradição do seu consumo, a que os
monges associaram a qualidade de fortificante. Com a industrialização desenvolveu-se a pesquisa científica que confirmou que a abundância de silício incrementava o processo de mineralização dos ossos. A generalização do seu consumo implementou a diferenciação da oferta de vários tipos de cerveja, descritos neste livro. Uma breve obordagem da história das cervejas portuguesas permite-nos a identificação das características de cada uma, de forma a responder à evolução do mercado.
Por sua vez a gastronomia associou a cerveja como ingrediente poderoso desde as
sopas e entradas, aos pratos de mariscos, de carne, dos legumes aos doces e bolos e às bebidas desde o poncho ao bloody mary de cerveja e ainda enriquecendo o sabor no fabrico do pão.
Neste livro, Margarida Pereira-Müller apresenta mais de uma centena de receitas onde a cerveja é a protagonista.
(Da nota do Editor)
Um quadro por dia - 164
Grigory Myasoyedov, O almoço do Zemstvo, 1872, óleo sobre tela, 125x74cm.
Hoje também tenho um almoço de grupo, mas não se vai falar da educação dos camponeses ou do que é preciso construir na região como acontecia quando os Zemstvos se reuniam na Rússia. Mas, tal como nesta tela, vai predominar a informalidade.
Quanto aos Zemstvos, criados pelo czar reformista Alexandre II, ainda há que dizer que foram democratizados com a Revolução de Fevereiro, desde logo no modo de eleição, mas extintos meses depois com a Revolução de Outubro pelos mais radicais bolcheviques.
O futuro era o centralismo "democrático" que iria dominar a Velha Rússia durante as décadas seguintes...
Hoje também tenho um almoço de grupo, mas não se vai falar da educação dos camponeses ou do que é preciso construir na região como acontecia quando os Zemstvos se reuniam na Rússia. Mas, tal como nesta tela, vai predominar a informalidade.
Quanto aos Zemstvos, criados pelo czar reformista Alexandre II, ainda há que dizer que foram democratizados com a Revolução de Fevereiro, desde logo no modo de eleição, mas extintos meses depois com a Revolução de Outubro pelos mais radicais bolcheviques.
O futuro era o centralismo "democrático" que iria dominar a Velha Rússia durante as décadas seguintes...
A nossa vinheta
Assinalando o almoço do 3.º aniversário do Prosimetron, hoje, lá para as bandas do Cais do Sodré.
Ca 1910.
Ca 1910.
CAIS DO SODRÉ
É entre um marinheiro e uma taça,
é entre uma cerveja e um navio
que fica o veio mais fundo que te enlaça
ao vulto da cidade e ao seu desvio
por estúrdias e volteios, por tangos e seus braços
com esplenderosas curvas de meneio,
até à cama infinda, ao pleno enleio
de converter em sono o que era cio,
até ao céu de astros e guindastes
com vozes em surdina, de cansaço,
até ao marulhar do Tejo rio.
É entre uma sirene e uma guitarra,
é entre uma gaivota e uma falua
que está bem preso o teu cabo de amarra
de transformar laranja numa lua,
de transformar em sal o sul da lava,
de semear de limo as tuas ruas.
João Rui de Sousa
Quem sabe se com uma passagem pelo British Bar...
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBPigqfZhzY0UBbv401_c6jq7M6z6B5iMjQ4nUyLyBKmvYrSstXIYn54z6ujJiNESqFipqKFrMUGZqh-ZxjIpOzFnL0u3drtzuVWpUStZFbwwd4ljx5cdzi4aZhC381W8_h-HOln89SaUv/s1600/TroiaAg-10+011.jpg
«No British Bar os anos passam, as gerações mudam, vêm literatos, vêm contrabandistas, vêm estivadores à mistura com meninas de civilização, mas o espírito e a cor local mantêm-se inconfundíveis.»
José Cardoso Pires - Lisboa, livro de bordo
é entre uma cerveja e um navio
que fica o veio mais fundo que te enlaça
ao vulto da cidade e ao seu desvio
por estúrdias e volteios, por tangos e seus braços
com esplenderosas curvas de meneio,
até à cama infinda, ao pleno enleio
de converter em sono o que era cio,
até ao céu de astros e guindastes
com vozes em surdina, de cansaço,
até ao marulhar do Tejo rio.
É entre uma sirene e uma guitarra,
é entre uma gaivota e uma falua
que está bem preso o teu cabo de amarra
de transformar laranja numa lua,
de transformar em sal o sul da lava,
de semear de limo as tuas ruas.
João Rui de Sousa
Quem sabe se com uma passagem pelo British Bar...
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBPigqfZhzY0UBbv401_c6jq7M6z6B5iMjQ4nUyLyBKmvYrSstXIYn54z6ujJiNESqFipqKFrMUGZqh-ZxjIpOzFnL0u3drtzuVWpUStZFbwwd4ljx5cdzi4aZhC381W8_h-HOln89SaUv/s1600/TroiaAg-10+011.jpg
«No British Bar os anos passam, as gerações mudam, vêm literatos, vêm contrabandistas, vêm estivadores à mistura com meninas de civilização, mas o espírito e a cor local mantêm-se inconfundíveis.»
Paris au temps des impressionnistes
Paris au temps des impressionnistes : l'exposition por mairiedeparis
Na Câmara Municipal de Paris, até 30 de Julho.
Lisboa na literatura
17 de Novembro de 1942. Lisboa. Portugal. Numa única e interminável noite, enquanto refugiados de toda a Europa esperam a partida do navio Boa Esperança para se porem a salvo dos nazis, a gesta do Cônsul argentino é o crivo em que se entrecuzam, como num folhetim, as “histórias mais secretas” de um período sem par na História. Pode uma longa e intensa noite marcar e mudar irreversivelmente a história de um conflito? Podem a fadista Amália, o casal Tânia e Enrique Santos Discépolo, o Cônsul argentino, o misterioso Ricardo De Sanctis que assegura ser banqueiro e «refugiado pessoal» do Patriarca de Lisboa, ser personagens principais do momento em que tudo parece mudar?
O autor, Leopoldo Brizuela, nasceu na Argentina, em 1963.
(Da nota enviada pela editora.)
Maurice Ravel & Shéhérazade
MR falou ontem na Shéhérazade de Ravel. Hoje sou eu que volto ao tema. Confesso a minha ignorância e parece-me que nunca tinha prestado grande atenção nem à música nem à letra.
Mas ontem, ao escutar a canção escrita por Tristan Klingsor (pseud. de Arthur Justin Léon Leclère), L'Indifférent, fez-se-me Luz sobre alguns aspectos que suspeitava mas nunca tinha investigado... o que unia o grupo "Société des Apaches".
Esse grupo foi formado em Paris, nos finais do século XIX ou começos do século XX. Tinha como hino o primeiro andamento da Sinfonia n.º 2 de Aleksandr Borodine que aqui deixo:
.
Parece que caminhavam "excentricamente" pela Rue de Rome, em Paris, quando alguém gritou (parece que foi um ardina) "Attention les Apaches"... E o grupo durou até os seus membros serem separados pela I Guerra Mundial.
Aqui fica o terceiro poema de Shéhérazade na voz de Teresa Berganza, acompanhada pela orquestra Du Capitole de Toulouse, conduzida por Michel Plasson:
Tes yeux sont doux comme ceux d'une fille,
Jeune étranger, et la courbe fine
De ton beau visage de duvet ombragé
Est plus séduisante encore de ligne.
Ta lèvre chante sur le pas de ma porte
Une langue inconnue et charmante
Comme une musique fausse.
Entre! Et que mon vin te réconforte...
Mais non, tu passes
Et de mon seuil je te vois t'éloigner
Me faisant un dernier geste avec grâce
Et la hanche légèrement ployée
Par ta démarche féminine et lasse...
P.S.: Ravel dedicou cada uma das cinco partes da sua composição Miroirs aos seus cinco amigos "Apaches", mais intimos: Léon-Paul Fargue; Ricardo Viñes; Paulo Sordes; MD Calvocoressi; e Maurice Delage. Fizeram também parte de "Les Apaches": Erik Satie; Manuel de Falla; Jean Cocteau; André Gide; Paul Valéry; Igor Stravinsky; Nijinsky; ... para além do Tristan Klingsor (que juntou o herói e o vilão de Wagner).
Mas ontem, ao escutar a canção escrita por Tristan Klingsor (pseud. de Arthur Justin Léon Leclère), L'Indifférent, fez-se-me Luz sobre alguns aspectos que suspeitava mas nunca tinha investigado... o que unia o grupo "Société des Apaches".
Esse grupo foi formado em Paris, nos finais do século XIX ou começos do século XX. Tinha como hino o primeiro andamento da Sinfonia n.º 2 de Aleksandr Borodine que aqui deixo:
.
Parece que caminhavam "excentricamente" pela Rue de Rome, em Paris, quando alguém gritou (parece que foi um ardina) "Attention les Apaches"... E o grupo durou até os seus membros serem separados pela I Guerra Mundial.
Aqui fica o terceiro poema de Shéhérazade na voz de Teresa Berganza, acompanhada pela orquestra Du Capitole de Toulouse, conduzida por Michel Plasson:
Tes yeux sont doux comme ceux d'une fille,
Jeune étranger, et la courbe fine
De ton beau visage de duvet ombragé
Est plus séduisante encore de ligne.
Ta lèvre chante sur le pas de ma porte
Une langue inconnue et charmante
Comme une musique fausse.
Entre! Et que mon vin te réconforte...
Mais non, tu passes
Et de mon seuil je te vois t'éloigner
Me faisant un dernier geste avec grâce
Et la hanche légèrement ployée
Par ta démarche féminine et lasse...
P.S.: Ravel dedicou cada uma das cinco partes da sua composição Miroirs aos seus cinco amigos "Apaches", mais intimos: Léon-Paul Fargue; Ricardo Viñes; Paulo Sordes; MD Calvocoressi; e Maurice Delage. Fizeram também parte de "Les Apaches": Erik Satie; Manuel de Falla; Jean Cocteau; André Gide; Paul Valéry; Igor Stravinsky; Nijinsky; ... para além do Tristan Klingsor (que juntou o herói e o vilão de Wagner).
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Carta a um diplomata finlandês
Já agora, no seguimento do post do MLV, aqui vai um post delirante (no bom sentido), de Francisco Seixas da Costa, colocado no seu blogue duas ou três coisas: notas pouco diárias do embaixador português em França, no dia 19 de Abril.
Caro Steinbroken
Por estes dias, recordo as noitadas em que nos cruzávamos nos salões dos Maias, no Ramalhete, às Janelas Verdes, nas tertúlias que o José Maria retratou no livro a que deu o nome daquela família.
Lembro-me da generosidade com que você, diplomata finlandês, era recebido naquele cenáculo, onde, com carinho lusitano mas cosmopolita, entre mesas de whist ou numa ronda de bilhar, ou ouvindo-o a si como "barítono plenipotenciário", procurávamos atenuar a sua nórdica solidão.
Muita água passou sob as pontes. Você regressou aos gelos da sua Finlândia, eu por aqui fiquei, com a escassa fortuna que Celorico me deixou.
Há uns anos, caro Steinbroken, você escreveu-me para Lisboa, dizendo do agrado com que vira Portugal apoiar, com entusiasmo, a entrada do seu país na União Europeia. Elogiou o facto de, ao contrário de outros, não termos achado que a "finlandização" havia sido um imperdoável pecado histórico de agnosticismo estratégico, um genérico triste da "realpolitik". E recordar-se-á de eu lhe ter respondido, na volta do correio, que, conhecendo-o a si, nunca o tivera por seguidor do "better red than dead".
Noutra ocasião, você veio bater-me epistolarmente à porta, pedindo que deixasse cair uma palavra nas Necessidades, com vista a evitar que Portugal cedesse a um compreensível egoísmo, por mor dos fundos estruturais, a ponto de poder criar obstáculos aos Estados bálticos, “primos” da Escandinávia, que queriam então aceder à NATO e à União Europeia. A resposta da nossa diplomacia foi, reconheça, soberba: embora o alargamento fosse um passo que tinha em Portugal um dos países mais prejudicados, adoptávamos uma visão solidária da Europa, pelo que entendíamos que um mínimo de respeito histórico nos obrigava a acolher aqueles Estados no nosso seio. Da caixa de vodka que você me mandou, com um cartão catita, a agradecer a diligência, ainda me resta uma botelha.
Pensava partilhá-la consigo, Steinbroken, numa sua próxima vinda a Portugal, à cata de sol e de olho nos corpos morenos, Chiado abaixo. Passaríamos pelo Grémio, jantaríamos no Tavares e iríamos degustar o resto dos álcoois no meu terraço, Tejo à vista. Eu contar-lhe-ia a poética aventura eleitoral do Alencar, a carreira como banqueiro da besta do Dâmaso, o folhetim da venda da “Corneta do Diabo” à Prisa, a colaboração do Cruges com os “Deolinda”, a agitação do Gouvarinho e de outros tantos, nas lides que levam às Cortes.
Mas, agora, o que me chega? Que você foi ouvido, num dos últimos dias, passeando sob as árvores onde o verde já brota, ali na Promenade, no centro de Helsínquia, recém-saído do spa do vizinho Kämp, de braço dado com um alemão, com tiradas muito pouco simpáticas sobre Portugal e os portugueses. E que dizia você? Que, afinal, o compromisso político que a Finlândia havia dado à estabilidade do euro, que servira para a Grécia e para a Irlanda, poderia já não valer para Portugal. Ao seu lado, o alemão ecoava coisas parecidas, quiçá esquecido que o meu país, como todos os outros parceiros europeus, andou anos a pagar elevadas taxas de juro, para liquidar a fatura da reunificação da Alemanha, que hoje é, como sempre foi, o grande beneficiário do mercado interno europeu.
É triste, caro Steinbroken, é muito triste que a frieza do vosso egoísmo lhes faça esquecer que a solidariedade é uma estrada de dois sentidos. Aqui, por Portugal, estamos a atravessar uma conjuntura difícil. Outras já tivemos, todas ultrapassámos. Mais recentemente, cometemos alguns erros, revelámos fragilidades que a crise sublinhou. Pensávamos poder contar com os amigos. Ao longo dos tempos, aprendemos a ser gratos a quem nos ajuda, a ser-lhes leais quando de nós necessitam. Não somos rancorosos, porque alimentar ressentimentos mesquinhos não está na nossa maneira de ser. E sabe porquê? Porque, na vida internacional, mantemos alguns sólidos valores, os mesmos que nos permitiram sobreviver nove séculos como país, um dos mais antigos do mundo, sabia?
A vossa atitude, a vossa quebra de solidariedade, porque revela o conceito instrumental que têm da Europa, para utilizar uma frase que você repetia, entre outras platitudes árticas, pelas noites do Ramalhete, “c’est très grave, c'est excessivement grave…”.
Receba um abraço, ainda amigo, orgulhosamente (quase) mediterrânico do
João da Ega
http://duas-ou-tres.blogspot.com/2011/04/carta-um-diplomata-finlandes_19.html#ixzz1KvDidK3A
Por estes dias, recordo as noitadas em que nos cruzávamos nos salões dos Maias, no Ramalhete, às Janelas Verdes, nas tertúlias que o José Maria retratou no livro a que deu o nome daquela família.
Lembro-me da generosidade com que você, diplomata finlandês, era recebido naquele cenáculo, onde, com carinho lusitano mas cosmopolita, entre mesas de whist ou numa ronda de bilhar, ou ouvindo-o a si como "barítono plenipotenciário", procurávamos atenuar a sua nórdica solidão.
Muita água passou sob as pontes. Você regressou aos gelos da sua Finlândia, eu por aqui fiquei, com a escassa fortuna que Celorico me deixou.
Há uns anos, caro Steinbroken, você escreveu-me para Lisboa, dizendo do agrado com que vira Portugal apoiar, com entusiasmo, a entrada do seu país na União Europeia. Elogiou o facto de, ao contrário de outros, não termos achado que a "finlandização" havia sido um imperdoável pecado histórico de agnosticismo estratégico, um genérico triste da "realpolitik". E recordar-se-á de eu lhe ter respondido, na volta do correio, que, conhecendo-o a si, nunca o tivera por seguidor do "better red than dead".
Noutra ocasião, você veio bater-me epistolarmente à porta, pedindo que deixasse cair uma palavra nas Necessidades, com vista a evitar que Portugal cedesse a um compreensível egoísmo, por mor dos fundos estruturais, a ponto de poder criar obstáculos aos Estados bálticos, “primos” da Escandinávia, que queriam então aceder à NATO e à União Europeia. A resposta da nossa diplomacia foi, reconheça, soberba: embora o alargamento fosse um passo que tinha em Portugal um dos países mais prejudicados, adoptávamos uma visão solidária da Europa, pelo que entendíamos que um mínimo de respeito histórico nos obrigava a acolher aqueles Estados no nosso seio. Da caixa de vodka que você me mandou, com um cartão catita, a agradecer a diligência, ainda me resta uma botelha.
Pensava partilhá-la consigo, Steinbroken, numa sua próxima vinda a Portugal, à cata de sol e de olho nos corpos morenos, Chiado abaixo. Passaríamos pelo Grémio, jantaríamos no Tavares e iríamos degustar o resto dos álcoois no meu terraço, Tejo à vista. Eu contar-lhe-ia a poética aventura eleitoral do Alencar, a carreira como banqueiro da besta do Dâmaso, o folhetim da venda da “Corneta do Diabo” à Prisa, a colaboração do Cruges com os “Deolinda”, a agitação do Gouvarinho e de outros tantos, nas lides que levam às Cortes.
Mas, agora, o que me chega? Que você foi ouvido, num dos últimos dias, passeando sob as árvores onde o verde já brota, ali na Promenade, no centro de Helsínquia, recém-saído do spa do vizinho Kämp, de braço dado com um alemão, com tiradas muito pouco simpáticas sobre Portugal e os portugueses. E que dizia você? Que, afinal, o compromisso político que a Finlândia havia dado à estabilidade do euro, que servira para a Grécia e para a Irlanda, poderia já não valer para Portugal. Ao seu lado, o alemão ecoava coisas parecidas, quiçá esquecido que o meu país, como todos os outros parceiros europeus, andou anos a pagar elevadas taxas de juro, para liquidar a fatura da reunificação da Alemanha, que hoje é, como sempre foi, o grande beneficiário do mercado interno europeu.
É triste, caro Steinbroken, é muito triste que a frieza do vosso egoísmo lhes faça esquecer que a solidariedade é uma estrada de dois sentidos. Aqui, por Portugal, estamos a atravessar uma conjuntura difícil. Outras já tivemos, todas ultrapassámos. Mais recentemente, cometemos alguns erros, revelámos fragilidades que a crise sublinhou. Pensávamos poder contar com os amigos. Ao longo dos tempos, aprendemos a ser gratos a quem nos ajuda, a ser-lhes leais quando de nós necessitam. Não somos rancorosos, porque alimentar ressentimentos mesquinhos não está na nossa maneira de ser. E sabe porquê? Porque, na vida internacional, mantemos alguns sólidos valores, os mesmos que nos permitiram sobreviver nove séculos como país, um dos mais antigos do mundo, sabia?
A vossa atitude, a vossa quebra de solidariedade, porque revela o conceito instrumental que têm da Europa, para utilizar uma frase que você repetia, entre outras platitudes árticas, pelas noites do Ramalhete, “c’est très grave, c'est excessivement grave…”.
Receba um abraço, ainda amigo, orgulhosamente (quase) mediterrânico do
João da Ega
http://duas-ou-tres.blogspot.com/2011/04/carta-um-diplomata-finlandes_19.html#ixzz1KvDidK3A
Excertos da Carta Aberta aos Finlandeses
Encontrei por bem contar aqui os pormenores de uma história que, por muito que pareça pertencer ao passado, tão facilmente nos lembra a todos das travessuras partidas de que a História é capaz de pregar. (...) O local foi Lisboa, e o ano, 1940, mais concretamente o trigésimo nono dia após o final da primeira e heróica guerra combatida pelo perseverante povo Finlandês contra a tentativa estrangeira de apagar a vossa pequena nação do mapa dos países livres e independentes da Europa. A Guerra do Inverno n qual a Finlândia contariamente ao que todos julgavam poder ser possível derrotou o bolchevismo, o imperialismo russo, teve na altura um impacto muito maior do que o que julga hoje a maior parte dos finlandeses. Os gritos de sofrimento e os horrores da primeira guerra Russo-Finlandesa e os terríveis sacrifícios impostos ao vosso pequeno país, comoveu e tocou o coração do povo Português no outro longínquo canto deste velho continente chamado Europa. (...) a ânsi de ajudar a Finlândia rapidamente emergiu entre os portugueses, tão orgulhosos que são hoje qunto orgulhosos eram antão dos valores da independência e da nacionalidade. (...)Os Portugueses eram nesses tempos quase todos invariavelmente pobres, analfabetos, oprimidos e infelizes, mas também trabalhadores, honestos, orgulhosos, unidos e cheios de compaixão, mobilizados em solidariedde para oferecerem o que mais pequenino conseguiam repescar para ajudarem o necessitado e desesperado povo Finlandês. (...) agricultores, operários e estudantes, pais e mães, que aos milhões talvez possuíssem não mais do que apenas três mudas de roupa, ofereceram os para si mais modestos e preciosos bens que, mal grado a penúria, conseguiram prescrever como dispensáveis: cobertures, casacões, sapatos, e para os mais felizardos sacos de trigo e quilos de arroz cultivados a mão nas lezírias e terras baixas dos rios portugueses. As ofertas foram recolhidas por escolas e igrejas do norte e do sul, e embarcadas para Helsínquia com a autorização prévia da Alemanha Nazi e Aliados. Num extraordinário gesto de gratidão, o Sr. George Winekelmann, que era o então representante diplomático da Finlândia em Lisboa e Madrid, publicou um apontamento na primeira página do prestigioso jornal "Diário de Notícias" para agradecer ao povo Português a ajuda e assistência prestadas à Finlândia no mais difícil de todos os inconsoláveis tempos. O bem-haja a Portugal foi publicado no vigésimo primeiro dia de Abril de 1940, há 70 anos.
(...) Por mais corrupta que a sua elite se comporte, por mais desgovernado que o seu país ande, e por mais caloteiro que o seu Estado seja, os homens e mulheres comuns de Portugal, filhos e filhas e netos e netas daqueles que viviam há 70 anos atrás, sentem-se e são reféns e vítimas inocentes de uma Guerra financeira que viram ser-lhes declarada contra os seus bolsos e carteiras, e que ameaça as suas honestas e modestas poupanças.Mas não obstante confrontados nos agora tempos de hoje, em aparente insolvênci e nas mais sozinhas de todas as suas horas, com o desespero e adversidade, eu estou confiante e seguro de que os Portugueses de hoje, mães e pais, agricultores, trabalhadores, padres e estudantes, e até mesmo crianças, de lés e lés naquele país se elevariam da consciência, a fim de mostrar os seus mais sinceros e genuínos sentimentos de nacionalismo e humildade para ajudarem e confortarem a Finlândia e o povo finlandês, se alguma outra vez cataclismo ou desastre batesse à porta da Finlândia e iluminasse a ideia oscura da extinção da heróica nação Finlandesa, tal como aconteceu há sete décadas passadas. Todos nós podemos aprender com as pequenas e genuínas lições dos tempos que lá vão.
Hélder Fernandes, Correspondente da TSF
Se, por enquanto, a classe política da Finlândia ainda não reagiu a estas palavras, dois diplomatas portugueses estacionados no Norte da Europa já telefonaram ao autor da crónica para o felicitar.
(...) Por mais corrupta que a sua elite se comporte, por mais desgovernado que o seu país ande, e por mais caloteiro que o seu Estado seja, os homens e mulheres comuns de Portugal, filhos e filhas e netos e netas daqueles que viviam há 70 anos atrás, sentem-se e são reféns e vítimas inocentes de uma Guerra financeira que viram ser-lhes declarada contra os seus bolsos e carteiras, e que ameaça as suas honestas e modestas poupanças.Mas não obstante confrontados nos agora tempos de hoje, em aparente insolvênci e nas mais sozinhas de todas as suas horas, com o desespero e adversidade, eu estou confiante e seguro de que os Portugueses de hoje, mães e pais, agricultores, trabalhadores, padres e estudantes, e até mesmo crianças, de lés e lés naquele país se elevariam da consciência, a fim de mostrar os seus mais sinceros e genuínos sentimentos de nacionalismo e humildade para ajudarem e confortarem a Finlândia e o povo finlandês, se alguma outra vez cataclismo ou desastre batesse à porta da Finlândia e iluminasse a ideia oscura da extinção da heróica nação Finlandesa, tal como aconteceu há sete décadas passadas. Todos nós podemos aprender com as pequenas e genuínas lições dos tempos que lá vão.
Hélder Fernandes, Correspondente da TSF
Se, por enquanto, a classe política da Finlândia ainda não reagiu a estas palavras, dois diplomatas portugueses estacionados no Norte da Europa já telefonaram ao autor da crónica para o felicitar.
A nossa vinheta
Desenho de Almada Negreiros
In: Atlântida, Lisboa, 15 Jan. 1918
Se não fosse o post da Ana, não me lembraria que é o hoje o Dia Internacional da Dança. O meu primeiro impulso foi colocar uma foto de... ? Mas, depois, e no seguimento de um magnífico concerto a que assisti ontem na Gulbenkian - que integrava uma peça de Ravel, Shéhérazade: ouverture de féerie, bem como Pulcinella, de Stravinsky -, lembrei-me de uns desenhos que Almada fez para um artigo de Manuel de Sousa Pinto sobre os Bailados Russos, aquando da sua vinda a Lisboa. Aqui fica a parte do artigo referente ao bailado Sherazade, de Rimsky-Korsakov, bem como as duas ilustrações de Almada.
In: Atlântida, Lisboa, 15 Dez. 1917Memorabilia de outros tempos
Francisco José da Áustria (1830-1916) e Elizabeth, conhecida como Sissi, no dia do seu casamento, 24 de Abril de 1854.
Gravura comemorativa.
500 reis D.Pedro V, emitida no ano do seu casamento, 18 de Maio de 1858.
Leque comemorativo do casamento dos Príncipes D. Carlos e D. Amélia, em 22 de Maio de 1886, na Igreja de S. Domingos, Lisboa.
Paris, 1886
Tartaruga, prata, diamantes; litografia sobre cetim de seda
Lisboa, Palácio Nacional da Ajuda
Memorabilia à volta do casamento de hoje
O comércio à volta de recuerdos deste casamento vai desde a venda de canecas até cartas de jogar, magnets, chapéus de chuva, lenços, pratos, t-shirts, etc. Até cópias do anel de noivado, neste momento em saldo - pode adquiri uma por £34,42.
Aqui ficam alguns exemplos mais comuns:
William and Kate Dress-up Dolly Book.
Sunbird, 2011
William & Kate Paper Dolls.
Dover Publications Inc., 2011
Dois livros com bonecos e fatos de papel para recortar.
Em tempos fiz colecção de canecas, de modo que vou mostrar-vos alguns exemplares que vão fazer a inveja de três prosimetronistas. :)
Aqui ficam alguns exemplos mais comuns:
William and Kate Dress-up Dolly Book.
Sunbird, 2011
William & Kate Paper Dolls.
Dover Publications Inc., 2011
Dois livros com bonecos e fatos de papel para recortar.
Em tempos fiz colecção de canecas, de modo que vou mostrar-vos alguns exemplares que vão fazer a inveja de três prosimetronistas. :)
E como isto já vem de longe, também vos trarei alguns exemplos do século XIX.
Dia Internacional da Dança!
Extrait du spectacle "Brel Barbara par Béjart" (filmé en Avril 2005) de Maurice Béjart, créé en 2001.
Une variation dansée par Gil Roman sur "avec élégance" de Jacques Brel.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
A idade e a sapiência- Vitorino Magalhães Godinho
Vitorino Magalhães Godinho, fotografia retirada do blogue "Estrolábio"
Li no Jornal das Letras uma entrevista efectuada por Maria João Martins a Vitorino Magalhães Godinho (90 anos) há dois anos. Dela retirei um trecho acerca da democracia por me identificar com esta análise.
Ver aqui a entrevista na integra.
Todo o processo económico está estrangulado de tal maneira que o mundo é dirigido por grandes redes em relação aos quais os governos não têm qualquer poder, como se vê agora com os preços do petróleo. Dizem-nos que não pode haver emprego que não seja precário? Quem diz isto não ganha 400 ou 500 euros nem tem empregos precários. As políticas ditas neoliberais fracassaram, desembocando numa crise mundo de incalculáveis dimensões, mas certamente estrutural. A orientação do equilíbrio das contas públicas não integradas num planeamento económico que vise o bem público não evita essa derrapagem. Lembre-se que Salazar saneou as fi nanças, chegando a obter superavite - e o que tivemos depois? 40 anos de atraso do país. Além do fracasso das democracias e do triunfo de uma economia da desigualdade, defrontamo-nos com outro problema crucial: o fanatismo religioso e o ataque à laicidade. Volta-se à obsessão da tradição como combate à modernidade, violando-se direitos humanos essenciais. Esse enquistamento de doutrinas e práticas que consideraríamos obsoletas ateiam vagas de extrema violência, tornando insuportável a vida quotidiana. Porque não voltamos à utopia?
Todo o processo económico está estrangulado de tal maneira que o mundo é dirigido por grandes redes em relação aos quais os governos não têm qualquer poder, como se vê agora com os preços do petróleo. Dizem-nos que não pode haver emprego que não seja precário? Quem diz isto não ganha 400 ou 500 euros nem tem empregos precários. As políticas ditas neoliberais fracassaram, desembocando numa crise mundo de incalculáveis dimensões, mas certamente estrutural. A orientação do equilíbrio das contas públicas não integradas num planeamento económico que vise o bem público não evita essa derrapagem. Lembre-se que Salazar saneou as fi nanças, chegando a obter superavite - e o que tivemos depois? 40 anos de atraso do país. Além do fracasso das democracias e do triunfo de uma economia da desigualdade, defrontamo-nos com outro problema crucial: o fanatismo religioso e o ataque à laicidade. Volta-se à obsessão da tradição como combate à modernidade, violando-se direitos humanos essenciais. Esse enquistamento de doutrinas e práticas que consideraríamos obsoletas ateiam vagas de extrema violência, tornando insuportável a vida quotidiana. Porque não voltamos à utopia?
Fixem este nome: Liquid
O Chiado tem uma nova lojinha onde se podem saborear os mais diversos sumos, smothies e shots de fruta e vegetais. Feitos no momento para não perderem as suas propriedades, têm nomes originais e sugestivos como Samba (com laranja, maçã, aipo, cenoura e beterraba), Monkey (maçã, banana, gengibre e limão) ou Poppeye (cenoura e espinafres). Isto nos sumos. Nos immune smothies, a escolha também pode não ser fácil, embora se recomende o Marrakesh (com gelado de iogurte, maçã, kiwi, frutos silvestres, hortelã e espirulina) ou o Gourmet (uvas, frutos silvestres, banana, maçã e espirulina). Quanto aos shots e para quem quiser estar sempre em forma, pode optar pela variedade que leva erva de trigo, uma autêntica bomba de vitaminas, minerais e antioxidantes. A loja chama-se Liquid, a antiga Merendinha que servia as famosas limonadas. Fica na Rua Nova do Almada, 45
Primavera cá em casa - 4
A maior surpresa primaveril cá em casa: uma vez mais, apesar dos meus cuidados ( paus espetados neste e noutros vasos ), voltou a haver ninho de pombos na varanda e já nasceram estes borrachos. A fotografia já tem uns dez dias, pelo que os passarocos devem estar quase a ganhar autonomia e voar da varanda para fora.
Cinenovidades - 185 : Lixo Extraordinário
Um documentário carregado de prémios, com realização anglo-brasileira, sobre o maior aterro da América Latina, nos arredores de Rio de Janeiro, e os muitos que dele vivem. Estreia-se hoje nas nossas salas.
Humor pela manhã... - 17
(...) O dia 25 de Abril deu-nos a liberdade toda, incluindo a liberdade de sermos uns palermas. Por isso, muito obrigado, Otelo. E continue a desfrutar, se tem mesmo de ser.
- Ricardo Araújo Pereira, A complexa iconoclastia de Otelo, na Visão.
Há dias, foi mais outra: " Portugal precisa de um novo Salazar, mas de esquerda.". Esta ouvi-a da boca dele, num canal de televisão. Se calhar foi aquilo que ele sonhou ser no início da década de 80...
- Ricardo Araújo Pereira, A complexa iconoclastia de Otelo, na Visão.
Há dias, foi mais outra: " Portugal precisa de um novo Salazar, mas de esquerda.". Esta ouvi-a da boca dele, num canal de televisão. Se calhar foi aquilo que ele sonhou ser no início da década de 80...
"Correio interno"
O almoço do 3ºaniversário do Prosimetron será nesta zona de Lisboa, à volta da praça onde pontifica o Marechal Duque da Terceira, al fresco se o tempo permitir ( parece que não vai ajudar ), e por volta das 13h de sábado. Receberão a localização precisa por correio electrónico.
Um quadro por dia - 163
Emil Nolde ( 1867-1956 ), Máscaras, 1911, óleo sobre tela, The Nelson-Atkins Museum of Art, Kansas City, E.U.A.
Porque hoje começa em Lisboa ( Rossio ) o VI Festival Internacional Máscara Ibérica, que durará até 1 de Maio.
Porque hoje começa em Lisboa ( Rossio ) o VI Festival Internacional Máscara Ibérica, que durará até 1 de Maio.
Leituras no Metro - 60
Brinquedos - 5
Mais uma exposição em Paris, desta vez sobre brinquedos, no Musée des Arts Décoratifs. Brinquedos de madeira do fabricante Vilac, marca nascida em 1911.
Um dos brinquedos expostos é este cão com rodas de Benjamin Rabier (1864-1939).
Reedição de um brinquedo dos anos 1910, 1991.
Madeira lacada e metal.
Visite o sítio web da fábrica: http://www.vilac.com/
Auto-retrato(s) - 105
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