Lisboa, Colecção O.M.
Aqui fica em homenagem aos lindos dias de Primavera.
Óleo s/madeira de carvalho,89,5x122 cm Stedelijk Museum De Lakenhal, Leyden.
"A opacidade da morte
(...) Para o homem vulgar (para cada um de nós também, quase sempre) a vida resolve-se numa presença em, num ser o mundo que existe como por si mesmo, sem pensar-se que é através de nós, daquilo que somos. E porque a vida é assim, se resolve assim na contrafacção de eternidade, nessa fácil imitação de uma presença divina, nesse inconsciente e ilusório modo de ser-se quotidianamente um deus – por isso, a morte não tem ainda senão um significado de vida: uma presença de nós para lá dela, essa presença que nos inventamos agora, enquanto vivos, como memória, nela, da vida, como é em nós memória, agora, tudo aquilo que já perdemos – a infância, a juventude. Mas a morte é algo absurdo, porque é o nada inimaginável, a impensável destruição do absoluto que conhecemos na irredutível e necessária pessoa eu somos. Pobres palavras vãs: um «nada» imaginamo-lo sempre como algo que é… Mas o nada é a desaparição de nós próprios, a anulação desta evidência que é a pessoa que está em nós, o puro vazio deste quid único, desta realidade que há em nós e nos assusta, porque é terrivelmente viva e verdadeira. A massa de tudo o que nos habita não é um aglomerado de coisas que se dispersem e fiquem como ficam as pedras de um muro que se desmorona: é a totalização de nós próprios incrível individualidade, fulgurante presença, acto puro de ser, absurda necessidade de estar vivo, que é como se fosse maior que nós e nos dominasse e nos vivesse – essa flagrante evidência que nos assusta quando nos olhamos a um espelho (…)"
Vergílio Ferreira, Carta ao Futuro, Lisboa: Bertrand, 1981, p. 62-64.
Como é que deveremos ver este texto de Vergílio Ferreira?
Um especial agradecimento a Margarida Elias que me fez procurar e ir à descoberta.
Já tinha colocado esta balada mas é tão bela que a junto para agradecer o Sol que nos acorda!
Vladimir Horowitz, Chopin's Ballade nº 1
Depois de a ter escutado ontem na voz de Maria de Medeiros.
Te recuerdo, Amanda,
la calle mojada,
corriendo a la fábrica
donde trabajaba Manuel.
La sonrisa ancha,
la lluvia en el pelo,
no importaba nada,
ibas a encontarte con él.
[...]
Letra e música de Victor Jara
- Philip Roth, The Humbling, 2009.
Roth é actualmente o romancista americano. Continua a dar-nos, apesar da idade, um livro por ano, sem que a qualidade da sua escrita diminua. Esta frase que enquadra o suicídio como último acto- no sentido teatral da expressão, é lapidar.
Os arqueólogos chegaram à conclusão que a imagem era anterior ao Concílio de Niceia (325).
A imagem é curiosa porque revela a presença do cristianismo ainda intolerado. Ligando-o ao meu objectivo, o papel desta inscrição é uma"caricatura" depreciativa, o desenho é uma blasfémia. Li que durante a Idade Média e o Renascimento o burro foi usado na pintura em relatos da vida de Jesus, não tendo o sentido pejorativo que muitas vezes lhe atribuímos.
Qual será a simbologia (as) deste animal que agora é tão grato para o homem?
Nota: Na época era comum os criminosos serem condenados à crucificação. Seguindo a ideia dos arqueólogos e estudiosos estamos perante um possível cristão condenado por o ser. Será?