O Lamento por Ícaro, de Herbert Draper, foi um dos quadros que vi na Tate Britain que me encantou. As ninfas que rodeiam Ícaro lamentam a perda dele. Ícaro que o desejo de voar mais alto levou até ao Sol, acabaria por perecer ao derreter-se a cera das suas asas. A história de Ícaro, figura da mitologia grega, fascina-me.
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Herbert Draper, O Lamento por Ícaro, exibido em 1898
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Óleo sobre tela, 182,9 x 155,6 cm, Tate Britain, Londres
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Ícaro
A minha Dor, vesti-a de brocado,
Fi-la cantar um choro em melopeia,
Ergui-lhe um trono de oiro imaculado,
Ajoelhei de mãos postas e adorei-a.
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Por longo tempo, assim fiquei prostrado,
Moendo os joelhos sobre lodo e areia.
E as multidões desceram do povoado,
Que a minha dor cantava de sereia...
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Depois, ruflaram alto asas de agoiro!
Um silêncio gelou em derredor...
E eu levantei a face, a tremer todo:
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Jesus! ruíra em cinza o trono de oiro!
E, misérrima e nua, a minha Dor
Ajoelhara a meu lado sobre o lodo.
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José Régio, Poemas de Deus e do Diabo, Lisboa: Quasi, 2005