Prosimetron
sábado, 21 de junho de 2008
Guilhermina Suggia -concerto de homenagem
O CÍRCULO OSCAR WILDE
Stéphane Bern, Gonzague Saint-Bris, Yaguel Didier, os editores Patrick de Bourgues e Thierry Billard, e a historiadora Evelyne Lever.
O Círculo reúne artistas e intelectuais que fizeram da sua própria vida uma obra de arte.
DON CARLO no ROYAL OPERA HOUSE de COVENT GARDEN
Recuemos ainda mais ao passado: a 4 de Junho de 1867, decorridos apenas três meses após a estreia em Paris (11 de Março desse ano), Don Carlo subira ao palco em Londres.
A ligação do Royal Opera House a Verdi, e a Don Carlo em especial, foi sempre forte. Interessante por isso recordar a presença do Infante de Espanha nesta magnífica casa.
Frederick Gye, director da Royal Italian Opera (assim a designação do Royal Opera House na época), assistira à estreia mundial de Don Carlo em Paris. Pelo preço de £800, adquiriu o direito exclusivo de representação para a Grã-Bretanha e Irlanda. As dúvidas e os receios de Gye aumentavam com o aproximar da estreia. Os registos pessoais de Gye, pertencentes ao espólio das recordações do ROH, dão conta da complexidade de Don Carlo, porventura demasiado “heavy that it will be a failure”. As críticas, no entanto, foram mais benevolentes: “Verdi´s new opera, Don Carlos, in its Italian dress, was brought out at the Royal Italian Opera, on Tuesday evening, with complete success. The theatre was crowded to the doors, and the applause enthusiastic”.
A programação do ano seguinte incluía novamente Don Carlo. Mas 1868 foi marcado por enormes problemas financeiros, e as três récitas da ópera de Verdi agravaram a situação. Segundo Gye, a récita de 6 de Abril terá sido “the worst house we ever had at Covent Garden – only £36 in the house – but it is Passion week”.
Don Carlo voltaria a ser representado em Londres apenas em 1933.
Última nota: este Don Carlo é coproduzido com a Norwegian National Opera e será a primeira ópera a ser representada em Setembro na nova Oslo Opera House, a primeira casa noruguesa exclusivamente dedicada à ópera e inaugurada no passado dia 12 de Abril com uma gala. Os Noruegueses esperaram cem anos por este acontecimento e, certamente, não serão desiludidos ao ver e ouvir o Infante imortalizado por Friedrich von Schiller.
My Fair Lady na Ópera de Sydney
À medida que o musical se foi desenrolando, foi fascinante ver as expressões de felicidade das pessoas à minha volta: ou meneando alegremente a cabeça, ou cantarolando muito baixinho ou, no caso de um senhor de muita idade que estava ao meu lado, segredando recordações à mulher (bem, à senhora que o acompanhava, não há que fazer presunções) e rindo. Não costuma acontecer, pelo menos de forma tão generalizada e expressiva, nas óperas "clássicas".
Por ser na Austrália e o musical tratar de sotaques, achei imensa graça ao comentário de uma criancinha (seis anos? sete?) que estava atrás de mim. Quando a Eliza vocalizou o poderoso "The rain in Spain stays mainly in the plain" no inglês correcto, diz a criança para a mãe - "mas ela disse da mesma maneira..." De facto, o sotaque australiano com o seu twang faz o sotaque cockney parecer Oxfordiano... O catálogo era notável, cheio de informação interessante sobre a passagem de "Pigmaleão" a "My Fair Lady" e à recepção na Broadway (estreado em 1956, bateu o record de longevidade na sua passagem inaugural).
Envelhecer em Hollywood ...
Sol de Inverno
"Sabe Deus que eu quis contigo ser feliz
Viver ao sol do teu olhar mais terno
Morto o teu desejo, vivo o meu desejo
Primavera em flor ao sol de Inverno
Sonhos que sonhei, onde estão? - Horas que vivi, quem as tem?
De que serve ter coração e não ter o amor de ninguém?
Beijos que te dei, onde estão? - A quem foste dar o que é meu?
Vale mais não ter coração do que ter e não ter, como eu
Eu em troca de nada dei tudo na vida
Bandeira vencida, rasgada no chão
Sou a data esquecida, a coisa perdida que vai a leilão
Sonhos que sonhei, onde estão? - Horas que vivi, quem as tem?
De que serve ter coração e não ter o amor de ninguém?
Vivo de saudades, amor, a vida perdeu fulgor
Como o sol de Inverno não tenho calor
De que serve ter coração e não ter o amor de ninguém?
Vivo de saudades, amor, a vida perdeu fulgor
Como o sol de Inverno não tenho... calor"
Ei-la no Festival RTP da Canção de 1965, que venceu:
Um já-agorismo: se alguém souber onde encontrar as versões de Simone de Oliveira de "Maldita Cocaína" e a sua abertura do "Passa Por Mim no Rossio" de Filipe LaFéria, agradece-se a indicação
Supanova Sydney 2008
PENSAMENTO DO DIA
- Ortega y Gasset
A casa de Nietzsche
HAPPY BIRTHDAY
Grandes filmes (esquecidos?): 3 - A Place in the Sun
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Súplica de D. Inês de Castro
E amanhã chega o Verão
Vasco Pulido Valente e as energias
- Vasco Pulido Valente, Público , 20/06/2008
Não é assustadora a lucidez do Vasco Pulido Valente ?
Crónicas de Itália - V
A Fundazione Palazzo Bricherasio, em Torino [Turim], teve patente, até ao dia 15 de Junho, uma magnífica exposição, comissariada por Bożena Anna Kowalczyk, dedicada a dois dos mais famosos pintores de Venezza: Canaletto [Giovanni Antonio Canal (1697-1768)] e Bellotto, dito “el Canaletto” [Bernardo Francesco Belloto (1722-1780)].
Colocava-se em diálogo/confronto directo a composição, a técnica e o estilo, de tio e sobrinho. Observavam-se lado a lado os quadros que representavam um percurso comum (Venezia). Mostravam-se as influências nos percursos individualizados (Canaletto: Grand Tour pela Inglaterra; Belloto: pela Europa continental - Dresda, Vienna, Monaco e Varsavia, onde vem a morrer).
A tristeza que eu senti ao recordar que três dos quadros de Canaletto que se encontravam em Portugal, pertença de António Champalimaud – Il Bucintoro al Molo il Giorno dell’ Ascensione [O Bucintoro no Molo, Veneza, no Dia da Ascensão], Piazetta e Piazza San Marco –, tinham sido vendidos em Londres, num leilão da Christie’s, (Julho de 2005). Pode ser que um dia voltem...
Aniversário do INSEAD
Com campuses em Fontainebleau, França, e em Singapura, possui uma aliança com Wharton, nos EUA, instalações no Médio Oriente e nas Américas. Conta com professores de 30 nacionalidades e alunos de mais de 70, com nenhuma nacionalidade ultrapassando 15% da classe. Antigos alunos não lusos incluem presidentes da BP, da LVMH, da Roche, da MTV, da easyJet, da Dunhill, da Heineken, da Reuters, da Kodak, da Unilever, da BHP Billiton, … além de um realizador de cinema óscarizado em 2006 com “Totsi”, Melhor Filme Estrangeiro.
Portugal tem uma forte ligação a esta escola: o Professor António Borges, ex-Banco de Portugal e ex-Goldman Sachs, foi reitor do INSEAD entre 1993 e 2000. Professores incluem ou incluíram o expoente de Finanças João Amaro de Matos, Luís Almeida e Costa, de Negociação, e Daniel Traça, em Política Industrial. Entre os seus alunos lusos incluem-se António Viana Baptista, que presidiu à Telefónica España e à Telefónica Móviles e António Horta Osório, do grupo Santander, actual presidente do Abbey no Reino Unido.
“Enrichment through diversity”
INSEAD motto
PENSAMENTO DO DIA
- Heródoto
Acabou o sonho
Para ajudar a planear as férias - Trip Advisor
Pois existe um site onde podemos conhecer milhões de opiniões sobre hoteis e locais de férias provenientes de quem já lá esteve. É o Trip Advisor- http://www.tripadvisor.com/
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Crónicas pelo mundo - II
Embora a entrevista tenha sido publicada em Abril, foi-o em Macau [Hoje Macau, de 03-04-2008], com o título "as pessoas são visualmente iletradas".
Para ler o texto na integra carregue aqui.
Obrigado M. por mais uma viagem em conjunto.
Jean Arthur
Jonas Kaufmann uma voz, uma presença
A cavalo pela Ásia
"The Vatican said Wednesday that it is working on a set of guidelines for what it considers "good cinema.""
SOBRE OS RICOS
Encontros e desencontros
- Fernando Alvim, Metro , 12 de Junho de 2008.
Quem se lembra dela ?
Marisa Berenson
E passaram 60 dias
Crónicas de Itália - IV
Homenagem a Callas
[Fato de Alexandre Benois para Maddalegna di Coigny (Andrea Chénier, Giordano); 1955]
[Ulisse Sartini (1943-), Retrato de Callas, óleo sobre tela, Milano, Museo Teatrale alla Scala]
A homenagem, que o la Scala organizou a Callas, foi composta por duas mostras e um filme: “I costumi di scena” [Trajes de palco] (Museo Teatrale); “Immagini dietro le quinte” [Imagens de bastidor] (Ridotto dei palchi “A. Toscanini”); e “Callas Assoluta”, estreia mundial do documentário de Philippe Kohly (Teatro alla Scala).
Continua ainda em cena a exposição dedicada à roupa usada por Callas durante as representações no la Scala. São cerca de uma trintena os vestidos expostos usados pela diva na década de cinquenta. Embora a maioria sejam desenhados e concebidos por Nicola Benois, temos também criações assinadas por Franco Zeffirelli; Alexandre Benois; Piero Zuffi; Salvatore Fiume; Leonor Fini; e Mario Vellani Marchi. Perante cada um tentamos idealizar a personagem. Desde Imogene (Il pirata, Bellini) a Fedora Romazoff (Fedora, Giordano), passando por Elisabetta di Valois (Don Carlo, Verdi), por Lady Macbeth (Macbeth, Verdi), por Rosina (Il barbiere di Siviglia, Rossini), por Costanza (Il ratto dal serraglio, Mozart), e tantas, tantas outras... Sonhamos com a voz de Callas em confronto com a veste.... imaginamos o corpo e a cena.
Vale a pena revisitar o elegante “mundo” de Callas.
As mostras foram acompanhadas pela edição de um maravilhoso catálogo, sob a responsabilidade de Vittoria Crespi Morbio, Maria Callas : Gli anni della Scala, (Allemandi & C.), que integra ainda um disco, La Callas alla Scala, onde se podem escutar trechos das mais memoráveis representações, para além de duas partes de uma entrevista.
“La Diva invade la scena e invade la vita”... fica-nos a lembrança da forma de um corpo de onde saiu uma das vozes mais imortais. A ver, ou rever, até 30 de Setembro de 2008.
[Em 6 de Setembro de 2007, o Scala ficou ainda marcado no nosso imaginário, por outro acontecimento. Foi lá que, num êxtase de comoção, prestamos homenagem a Luciano Pavarotti, no dia da sua morte, minutos antes de assistirmos ao Don Quixote, numa coreografia de Rudolf Nureyev para a Música de Lugwig Minkus]
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Anastasia Romanov
Em 1991 foram exumados os cadáveres entretanto descobertos em Ekatarinburg e sepultados na Catedral de S. Pedro e S.Paulo, em São Petersbugo, com a desaprovação da Igreja Ortodoxa Russa, que duvidou da veracidade dos restos mortais, já que dos onze, só apareceram nove, faltando nomeadamente a do Czarevich Alexei e o de uma das Grã- Duquesas. Os restos, calcinados, terão sido descobertos e identificados em Agosto de 2007, como sendo Alexei e Maria. Mesmo assim as dúvidas persistem. O corpo de Anastasia, que jaz na capela de Sta. Catarina, media 1,70 m, quando se sabe que era uma das mais baixas filhas de Nicolau II.
MARIA KODAMA E SARAMAGO NA BNP
Noite de Santo António
CENAS PORTUGUESAS : 4 - Os do 28
Há vários grupos de carteiristas e um deles tem um modus operandi bastante sui generis: trata-se de um trio, um casal jovem e um homem mais velho, este sempre com uma bolsa a tiracolo e um casaco por cima da bolsa. Enquanto o rapaz e a rapariga se aplicam em cenas de intensa "marmelada", assim distraíndo os turistas, o terceiro elemento aproveita para ir " aliviando " as carteiras de quem está junto dele , arrumando-as na dita bolsa a tiracolo, com uma grande rapidez, qual Houdini do gamanço.
Vale a pena andar no 28, mas não se distraia com a "marmelada " alheia...
CONGRESSO INTERNACIONAL DO FADO
AS 65 HORAS SEMANAIS
Petits morceaux de bonheur: 3 - iPods from outer space
Já que parece ser um fenómeno universal, ao menos que alinhemos pelo modelo (red): sempre se contribui para causas humanitárias. Ninguém vai saber – excepto o portador.
Jean-Luc Nancy : Sobre a poesia - 1
In Memoriam Cyd Charisse
Sequência "Broadway Melody" de "Singin' in the Rain"
AFI 10 Top 10
Os dez géneros sob escrutínio foram: animação, fantasia, ficção científica (sim, separado de fantasia, uma vitória de reconhecimento para os géneros), desportos, western, gangster, mistério, comédias românticas, dramas de tribunal e épicos. Uma escolha aliás hábil, que lhes permite evitar contradições com eleições feitas em anos anteriores (por exemplo musicais, comédias, thrillers), permitindo assim manter uma visão única do gospel da verdade única do cinema (mais ou menos, como se verá).
A lista dos 100 vencedores pode ser consultada no site do AFI; vou deter-me apenas em alguns dos vencedores que me foram cativando a atenção.
Em animação, o #1 foi para “Branca de Neve e os Sete Anões”, de 1937, a primeira longa-metragem de animação. Pioneiro, mantém-se actual e fez nascer o género, parece-me uma justa homenagem. O pódio foi completado por “Pinóquio” e “Bambi”. Entre os dez, cinco filmes recentes: “Toy Story”, “A Bela e o Monstro”, “Shrek”, “Finding Nemo” e “O Rei Leão”. Destes, provavelmente guardaria “A Bela e o Monstro”, até porque fez renascer o género.
Fantasia: #1 – “O Feiticeiro de Oz”, seguido pela primeira parte de “O Senhor dos Anéis” e por “It’s a Wonderful Life” de Frank Capra, actualmente a quinta-essência dos filmes de Natal. Excelente pódio; alguns dos outros laureados entram no inenarrável, pelo que espero que desapareçam na geração seguinte.
Em ficção científica, “2001 – Odisseia no Espaço” ocupa o número 1. Curiosamente, na lista dos 100 melhores filmes elaborada em 2007, era ultrapassado por “A Guerra das Estrelas”, que aqui ocupa o segundo lugar. Eu por mim mantenho “A Guerra das Estrelas” no topo e juntava-lhe “Blade Runner – Perigo Iminente”, que está em sexto, e “Gattaca”, que não entra na lista. Mas enfim. A lista não está mal.
Em desportos, nada particularmente interessante (em sintonia com o género) – o #1 é o “Raging Bull” de Scorsese, com Robert de Niro, sobre a vida de Jake LaMotte.
No primeiro género über-norte-americano, western, venceu “The Searchers – A desaparecida”. Muito bem. A lista ainda inclui outros dos meus favoritos, “Red River”, “Stagecoach” e “Shane” (vá lá, para não serem todos com John Wayne), pelo que encantado.
No segundo género über-norte-americano, gangsters, “O Padrinho” lidera e “O Padrinho – Parte II” também está no pódio, com ambos os “Scarface” na lista.
Na categoria mistério, “Vertigo” lidera (são quatro ao todo os filmes de Hitchcock, embora não os que eu escolheria), com sorrisos inevitáveis à presença de “Laura” de Otto Preminger e “O Falcão de Malta” de John Huston.
Nas comédias românticas, uma surpresa: “City Lights”, um filme mudo de Chaplin, lidera. A resposta tradicional, “It Happened One Night” de Frank Capra, o primeiro vencedor dos “Big 5” da Academia, está em terceiro lugar. “Annie Hall” de Woody Allen tem a medalha de prata. A presença de “Adam’s Rib” e “The Philadelphia Story” vai-me forçar a rever a lista dos grandes filmes esquecidos – claramente, não o estão! Senti a falta de Pretty Woman (deve ser o efeito geracional a funcionar ao contrário...)
Nos dramas de tribunal (über-norte-americano?), “To Kill a Mockingbird”, o filme do maior herói do cinema americano, Atticus Finch (interpretado por Gregory Peck e mui justamente homenageado pelo Filipe há uns dias) é o número 1. Pela previsibilidade de alguns dos anteriores, pensei que ganharia “12 Angry Men”, com Henry Fonda: ficou em segundo.
Por fim, épicos. Tive pena de não ver a apresentação na CBS, mas cai a meio do dia seguinte na Austrália. O apresentador foi Kirk Douglas. O horripilante “Titanic” entrou na lista – esperemos pela próxima geração para ver se sai… “E Tudo o Vento Levou” ficou em 4º lugar (embora na lista dos 100 filmes ultrapasse este #1). E quando tudo parecia perdido (ou seja, que “Ben-Hur” ia ser o #1 – está empatado com “Titanic” no maior número de Óscares da Academia), eis que o vencedor foi o excelente “Lawrence da Arábia”. Ora ainda bem. Mas como não podia deixar de ser, “Ben-Hur” ficou em segundo… Estranhei a ausência do “Dr. Jivago” - mas pelo menos escapámos aos Mel Gibsons.
terça-feira, 17 de junho de 2008
SINCRONICIDADE
Meyrinck acreditava que o reino dos mortos penetrava no mundo dos vivos e que o nosso mundo visível era incessantemente invadido pelo outro mundo, invisível. "
- Jorge Luís Borges, Introdução a O Cardeal Napellus , de Gustav Meyrinck,trad.port. de Maria Jorge Vilar de Figueiredo, Editorial Presença ( Biblioteca de Babel ) , Lisboa, 2007 .
Depois percebi porque é que os meus olhos se detiveram neste volume. Sábado passado, 14 de Junho, era o aniversário da morte de Borges, um dos deuses do meu panteão literário.
Ao reler as palavras de Borges sobre Gustav Meyrinck, vejo pela primeira vez a coincidência : Meyrinck a morrer junto ao lago de Starnberg, o mesmo lago bávaro onde morreu Luís da Baviera num dia 13 de Junho, um dia antes de Borges embora com várias décadas de permeio.
Claro, não há coincidências, é esse mesmo o sentido da sincronicidade...
Já agora, se alguém conhecer uma tradução inglesa, francesa ou castelhana de Das grune Gesicht do Meyrinck, agradeço que me informe. Há anos que tenho essa leitura adiada.
Aqui fica, para dar uma amostra do estilo de Meyrinck, um excerto do livro introduzido por Borges e acima citado :
" Nos meus vales, existe uma seita religiosa denominada os Frades Azuis; quando um deles sente aproximar-se o fim, faz-se sepultar vivo. O convento ainda existe; por cima do portal, está o brasão esculpido na pedra: uma flor venenosa com cinco pétalas azuis, e a pétala superior parece o capuz de um monge. É o aconitum napellus ou napelo azul .
Era ainda um rapaz quando me refugiei na ordem dos Frades Azuis e era quase um velho quando a abandonei.
Dentro dos muros do convento, há um jardim onde, no Verão, floresce um canteiro repleto dessas mortíferas plantas azuis , que os monges regam com o sangue das chagas abertas pelo cilício. Quem passa a fazer parte da comunidade tem de plantar uma dessas flores, que recebe como no baptismo o nome do neófito. "
ACABEI DE LER
Crónicas pelo mundo
... Seguindo o mapa saí da povoação por uma estrada que havia ao lado da sua casa. Depois apanhei a 247, perdendo-me várias vezes, até que cheguei ao Convento dos Capuchos. Estava fechado e com aspecto abandonado. Nem um carro, nem uma alma. Só se ouvia o rumor dos riachos, o canto dos pássaros, o movimento das folhas das árvores. Toquei à campainha que havia junto a uma porta desengonçada, mas não apareceu ninguém, de modo que decidi dar um passeio pelo bosque. Cheguei, depois de me perder na direcção norte, a um lugar húmido de abundante arvoredo, onde havia fetos secos ao lado de outros verdejantes. ... Parecia um botânico a auscultar plantas... Os feixes luminosos davam um certo mistério ao bosque... Senti medo e voltei de novo ao convento. Quando cheguei vi um homem à entrada, que era, afinal, um frade capuchinho, mas sem sotaina, e que me sorriu e convidou a entrar. Disse-me que o convento devia estar fechado durante o tempo que durasse a restauração. Andavam assim há três anos e ainda não tinham começado as obras, de modo que tinha decidido abri-lo a pessoas que o solicitassem. Informou-me, então, que o convento tinha sido construído em 1560. Perguntei-lhe porque eram as celas dos monges tão pequenas e como resposta sorriu-me. As salas eram escavadas na rocha e as suas portas baixíssimas, como se aqueles clérigos fossem na realidade gnomos da floresta. Ele não respondia a algumas perguntas. Fazia-se surdo quando não queria responder, só se referia ao que era convencional e enunciava as respostas que sabia por pura lógica. Limitava-se a dizer as frases típicas, as lendas que aparecem em todos os guias portugueses. Mostrou-me o refeitório, a cozinha e os aposentos. Era tudo austeridade, pobreza e abandono de bens mundanos. Contou-me que o próprio Filipe II, quando foi rei de Portugal, disse que tinha no seu reino o convento mais rico e o mais pobre: o Escorial e os Capuchos. Eu observava de uma maneira convencional, como quem não espera nada porque só aguarda que o tempo passe rapidamente e não presta muita atenção à realidade presente. Mas na passagem de um recinto para outro, justamente ao chegar ao refeitório, comecei a ficar com pele de galinha. Parei. Os pêlos dos braços pareciam esticar-se como se um íman os atraísse para as pedras das paredes. Senti um calafrio que saía da minha garganta e que descia pela minha coluna. O capuchinho que me guiava e que me ia contando histórias sobre o seu convento parou de repente e começou a observar-me. Andou à minha volta e perguntou-me:
- E tu quem és? ...
- E eu quem sou?
[O meu companheiro de viagem é Antonio Rodríguez Jiménez, A Alquimia do Unicórnio, Lisboa, Vega, 2007]
Os melhores fingidores...
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Grandes filmes (esquecidos?): 2 - Gaslight
SAVAGE GRACE
ONDE ME APETECIA ESTAR - 3 : Tschuggen Bergoase
Acordei hoje de tal forma "partido" que pensei para comigo: "o que eu não daria para ter acordado em Arosa, na recepção do Tschuggen Bergoase, e passar o dia deambulando por esse maravilhoso spa ".