Prosimetron

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quarta-feira, 18 de junho de 2008

AFI 10 Top 10

O American Film Institute anunciou na noite passada a mais recente das suas séries “AFI… 100 Years”, que desde 1998 celebra o centenário da 7ª Arte. A eleição desde ano incidiu sobre os 10 Top 10, ou seja, os dez maiores (greatest, no original) filmes da história do cinema em dez géneros clássicos (cá está a celebração do classicismo da pop art, mais uma vez). A própria definição de “os maiores” cabe a cada um; não se trata de os melhores, nem os mais premiados, pelo que a avaliação por artistas e líderes da indústria compilada pelo Instituto terá o mesmo valor subjectivo de, por exemplo, … um Óscar. Adicionalmente, o método de selecção faz com que haja um peso maior da memória recente; é difícil expurgar o peso relativo de quem viu os filmes no cinema, ou seja, da “geração actual”, dos filmes dos últimos 30 anos.

Os dez géneros sob escrutínio foram: animação, fantasia, ficção científica (sim, separado de fantasia, uma vitória de reconhecimento para os géneros), desportos, western, gangster, mistério, comédias românticas, dramas de tribunal e épicos. Uma escolha aliás hábil, que lhes permite evitar contradições com eleições feitas em anos anteriores (por exemplo musicais, comédias, thrillers), permitindo assim manter uma visão única do gospel da verdade única do cinema (mais ou menos, como se verá).

A lista dos 100 vencedores pode ser consultada no site do AFI; vou deter-me apenas em alguns dos vencedores que me foram cativando a atenção.

Em animação, o #1 foi para “Branca de Neve e os Sete Anões”, de 1937, a primeira longa-metragem de animação. Pioneiro, mantém-se actual e fez nascer o género, parece-me uma justa homenagem. O pódio foi completado por “Pinóquio” e “Bambi”. Entre os dez, cinco filmes recentes: “Toy Story”, “A Bela e o Monstro”, “Shrek”, “Finding Nemo” e “O Rei Leão”. Destes, provavelmente guardaria “A Bela e o Monstro”, até porque fez renascer o género.

Fantasia: #1 – “O Feiticeiro de Oz”, seguido pela primeira parte de “O Senhor dos Anéis” e por “It’s a Wonderful Life” de Frank Capra, actualmente a quinta-essência dos filmes de Natal. Excelente pódio; alguns dos outros laureados entram no inenarrável, pelo que espero que desapareçam na geração seguinte.

Em ficção científica, “2001 – Odisseia no Espaço” ocupa o número 1. Curiosamente, na lista dos 100 melhores filmes elaborada em 2007, era ultrapassado por “A Guerra das Estrelas”, que aqui ocupa o segundo lugar. Eu por mim mantenho “A Guerra das Estrelas” no topo e juntava-lhe “Blade Runner – Perigo Iminente”, que está em sexto, e “Gattaca”, que não entra na lista. Mas enfim. A lista não está mal.

Em desportos, nada particularmente interessante (em sintonia com o género) – o #1 é o “Raging Bull” de Scorsese, com Robert de Niro, sobre a vida de Jake LaMotte.

No primeiro género über-norte-americano, western, venceu “The Searchers – A desaparecida”. Muito bem. A lista ainda inclui outros dos meus favoritos, “Red River”, “Stagecoach” e “Shane” (vá lá, para não serem todos com John Wayne), pelo que encantado.

No segundo género über-norte-americano, gangsters, “O Padrinho” lidera e “O Padrinho – Parte II” também está no pódio, com ambos os “Scarface” na lista.

Na categoria mistério, “Vertigo” lidera (são quatro ao todo os filmes de Hitchcock, embora não os que eu escolheria), com sorrisos inevitáveis à presença de “Laura” de Otto Preminger e “O Falcão de Malta” de John Huston.

Nas comédias românticas, uma surpresa: “City Lights”, um filme mudo de Chaplin, lidera. A resposta tradicional, “It Happened One Night” de Frank Capra, o primeiro vencedor dos “Big 5” da Academia, está em terceiro lugar. “Annie Hall” de Woody Allen tem a medalha de prata. A presença de “Adam’s Rib” e “The Philadelphia Story” vai-me forçar a rever a lista dos grandes filmes esquecidos – claramente, não o estão! Senti a falta de Pretty Woman (deve ser o efeito geracional a funcionar ao contrário...)

Nos dramas de tribunal (über-norte-americano?), “To Kill a Mockingbird”, o filme do maior herói do cinema americano, Atticus Finch (interpretado por Gregory Peck e mui justamente homenageado pelo Filipe há uns dias) é o número 1. Pela previsibilidade de alguns dos anteriores, pensei que ganharia “12 Angry Men”, com Henry Fonda: ficou em segundo.

Por fim, épicos. Tive pena de não ver a apresentação na CBS, mas cai a meio do dia seguinte na Austrália. O apresentador foi Kirk Douglas. O horripilante “Titanic” entrou na lista – esperemos pela próxima geração para ver se sai… “E Tudo o Vento Levou” ficou em 4º lugar (embora na lista dos 100 filmes ultrapasse este #1). E quando tudo parecia perdido (ou seja, que “Ben-Hur” ia ser o #1 – está empatado com “Titanic” no maior número de Óscares da Academia), eis que o vencedor foi o excelente “Lawrence da Arábia”. Ora ainda bem. Mas como não podia deixar de ser, “Ben-Hur” ficou em segundo… Estranhei a ausência do “Dr. Jivago” - mas pelo menos escapámos aos Mel Gibsons.

All in all, um pouco previsível, mas uma trip down memory lane divertida e com algumas boas ideias para rever certos filmes.

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