Exmo. Sr. Presidente dos EUA, Presidente do Júri, elementos do Júri, meus Amigos, minhas Senhoras e meus Senhores,
Só quando recebi o convite dizendo “Eduardo Souto de Moura of Portugal” é que acreditei que tinha ganho o Pritzker 2011. Não posso esconder que fiquei feliz, por mim, pela minha família, colaboradores, amigos e clientes. Em nome de todos, os meus sinceros agradecimentos.
Aprendi a desenhar na Escola Italiana do Porto, cidade onde nasci, e no liceu decidi ser arquitecto. Não é que tivesse alguma paixão especial pela disciplina, mas na crise agnóstica dos 15 anos, duvidei se Deus devia ter descansado ao 7º dia. É que, pensando bem, ficou por fazer uma geografia como a de Delfos, a Acrópole para receber o Parténon ou secar um pântano no Illinois, onde a Farnsworth pudesse ficar.
Em 1975 depois da Revolução dos Cravos, comecei a trabalhar com o Arqº Siza Vieira. Não só pela arquitectura, mas sobretudo pela pessoa em si, foi uma experiência excepcional que ainda hoje continuo a fazer com o mesmo prazer. Saí do seu escritório nos anos 80, para ser arquitecto. Foi difícil começar, mas usar a sua “linguagem” parecia-me uma traição e mesmo que o quisesse, não o conseguia fazer, por pudor.
Depois da Revolução, e restabelecida a Democracia, abriu-se a oportunidade de redesenhar um país, onde faltavam escolas, hospitais, outros equipamentos, e sobretudo meio milhão de casas. Não era certamente o Pós-Modernismo, na altura em voga, que nos poderia resolver a questão. Construir meio milhão de casas, com frontões e colunas seria uma perda de energia, pois a ditadura já o tinha ensaiado. O Pós-Modernismo chegou a Portugal, sem quase termos passado pelo Movimento Moderno. É essa a ironia do nosso destino: “antes de o ser já o éramos”.
Do que precisávamos era de uma linguagem clara, simples e pragmática para reconstruir um país, uma cultura, e ninguém melhor que o proibido Movimento Moderno poderia responder a esse desafio. Não era só um problema ideológico, mas sobretudo de coerência entre material, sistema construtivo e linguagem. Se “arquitectura é a vontade de uma época traduzida num espaço”, Mies van der Rohe abriu-nos as portas na redefinição da disciplina tão massacrada até aí, pela linguística, semiótica, sociologia e outras ciências afins. O importante é que a arquitectura fosse “construção”, assim com urgência, nos pedia o país.
Com dez séculos de História, Portugal encontra-se hoje numa grande crise social e económica, como já aconteceu em vários períodos anteriores. Hoje, como ontem, a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar. Como dizia Paul Claudel: “Le Portugal est un pays en voyage, de temps en temps il touche l’Europe”. Resta-nos a “mudança”, como quer dizer a palavra “crise” em grego. Resta-nos decifrar o significado dos dois caracteres chineses que compõem a palavra “crise”: o primeiro significa “perigo”, o segundo “oportunidade”. Em África e noutras economias emergentes não nos faltarão oportunidades, o futuro é já aí. “Trabalhar na transmutação, na transformação, na metamorfose é obra própria nossa.” (Herberto Hélder)
Muito obrigado.
(...) Tivemos campanhas autistas e infantilizantes, discursos paupérrimos, lideranças rascas ou limitadas. Mas pior: assiste-se a uma ausência total de equipas que, à falta de melhores líderes, nos dessem uma pista sobre os nomes ( nomeadamente para as Finanças ) que vão conduzir os nossos destinos colectivos. Foi tudo demasiado mau. E, no entanto, não podemos demitir-nos. Desta vez, votaremos por palpite. E usaremos a nossa intuição, de povo sábio e antigo, para descortinar qual será o mal menor. Como quase sempre, acabaremos por acertar.
O Prémio Príncipe das Astúrias 2011 foi atribuído a Leonard Cohen.
Take This Waltz (after Lorca)
Now in Vienna there's ten pretty women There's a shoulder where Death comes to cry There's a lobby with nine hundred windows There's a tree where the doves go to die There's a piece that was torn from the morning And it hangs in the Gallery of Frost Ay, Ay, Ay, Ay Take this waltz, take this waltz Take this waltz with the clamp on its jaws
Oh I want you, I want you, I want you On a chair with a dead magazine In the cave at the tip of the lily In some hallways where love's never been On a bed where the moon has been sweating In a cry filled with footsteps and sand Ay, Ay, Ay, Ay Take this waltz, take this waltz Take its broken waist in your hand
This waltz, this waltz, this waltz, this waltz With its very own breath of brandy and Death Dragging its tail in the sea
There's a concert hall in Vienna Where your mouth had a thousand reviews There's a bar where the boys have stopped talking They've been sentenced to death by the blues Ah, but who is it climbs to your picture With a garland of freshly cut tears? Ay, Ay, Ay, Ay Take this waltz, take this waltz Take this waltz it's been dying for years
There's an attic where children are playing Where I've got to lie down with you soon In a dream of Hungarian lanterns In the mist of some sweet afternoon And I'll see what you've chained to your sorrow All your sheep and your lilies of snow Ay, Ay, Ay, Ay Take this waltz, take this waltz With its "I'll never forget you, you know!"
This waltz, this waltz, this waltz, this waltz ...
And I'll dance with you in Vienna I'll be wearing a river's disguise The hyacinth wild on my shoulder, My mouth on the dew of your thighs And I'll bury my soul in a scrapbook, With the photographs there, and the moths And I'll yield to the flood of your beauty My cheap violin and my cross And you'll carry me down on your dancing To the pools that you lift on your wrist Oh my love, Oh my love Take this waltz, take this waltz It's yours now. It's all that there is.
«Fora da fronteira, com um passaporte no bolso, um saco de noite na mão e um chapéu de chuva debaixo do braço, Vossa Alteza tem à sua disposição, como qualquer outro, para salvaguardar e manter os seus invioláveis direitos de homem provido de uma chapeleira e de um guia Baedecker, todas as armadas e todos os exércitos do mundo.»
Ramalho Ortigão – «A Sua Alteza o sereníssimo príncipe senhor D. Carlos regente em nome do rei». In: As Farpas, 25 Maio 1883
Agora que o Verão vai começar em breve, resolvi abrir uma nova série – na qual espero que todos colaborem – dedicada aos guias. De acordo com a GEPB, um guia é um «livro que contém informações úteis para o leitor se poder dirigir em uma região, em um assunto: carta de guia; guia de Portugal; guia do criador de coelhos; guia dos caminhos-de-ferro.«
Pela minha parte acho que só me debruçarei sobre guias de viagem – uma grande paixão minha: os guias e as viagens. E dado que esta época do ano é aquela em que mais guias se vendem e utilizam.
Em 1841, Thomas Cook (1808-1892) organiza as primeiras excursões colectivas em Inglaterra, naquilo que é considerado como um antepassado do turismo social. É no século XIX que tem início a indústria turística, a qual pretende proporcionar alguma informação e protecção aos viajantes nas suas deslocações, em relação ao desconhecido. Para terem alguma informação com que possam preparar a viagem e (ou) que os acompanhe na sua efectivação, nada melhor que um manual. Aparecem os primeiros guias: o Handbook Murray (Inglaterra, 1836), o Itinéraire de la Suisse, de Joanne (França, 1841) – o antepassado do Guide Bleu - e os guias de Karl Baedeker (Alemanha, 1841), os quais dão informações e conselhos aos viajantes sobre o modo de preparar a sua viagem: passaportes, transportes, alfândegas, estradas, hotéis, etc.
Em 1552, tinha saído em França aquele que é considerado o primeiro de todos os guias: La guide des chemins de France, de Charles Estienne (1504?-1564), o qual teve muitas reedições.
Em Inglaterra, já anteriormente à saída do Handbook Murray, o editor James Duncan, de Londres, tinha uma colecção de guias – The Modern Traveller –, cujos números 18 e 19, publicados em 1826, se referem a Espanha e Portugal.
Em 1855 os guias Joanne foram vendidos a Louis Hachette (1800-1864), os quais deram origem, em 1919, aos Guides Bleus.
Outro muito popular é o Guide vert, o qual foi fundado em 1926 pela família Michelin. Estes guias dão mais atenção ao património natural e cultural das regiões ou dos países a que se referem.
Hoje há guias para todos os gostos: mais ou menos culturais; para viagens demoradas ou para escapadas de fim-de-semana; para estudantes ou para executivos; para viagens mais económicas u menos. Os mais conhecidos hoje são, para além dos já referidos Guide Bleu e Guide Vert: Fodor Modern Guides, Let’s go (publicado em Havard, em 1960. foi o primeiro dirigido aos estudantes), Lonely Planet, Insight Guides, Berlitz, Rough Guides, Frommers, Your Pocket City Guides, Ulysses Travel Guides, Time Out, American Express, Routard, etc.
Ao longo dos próximos tempos, falarei de alguns dos meus guias. Espero que os meus amigos prosimetronistas também nos façam conhecer os seus. Mesmo para além dos turísticos.
Um dos temas mais conhecidos de Scott-Heron, falecido na passada sexta-feira. Mas o grande músico e activista estava enganado quando escreveu estas palavras em 1970: todas as revoluções têm sido teledifundidas, e cada vez mais.
Este não é para comer, já que é feito de milhares de formas de plástico habitualmente usadas na praia pelos petizes, e chama-se Tutti-Frutti. É mais uma escultura gigante de Joana Vasconcelos, e recebe, até 30 de Setembro, todos os que chegam ao Aeroporto de Faro.
(...) A Cultura é sempre o departamento mais fraco que é espremido e nunca é integrado no pensamento estratégico. E isso é uma loucura. As indústrias criativas são uma importante fonte de emprego e criam valor. Muitos dos valores da Cultura não têm resultados a curto prazo, são intangíveis, e por isso não interessam à política.
- Tom Fleming, um dos programadores da Guimarães Capital da Cultura 2012, em entrevista na Visão que hoje foi posta à venda.
Joan Miró, Femmes et oiseau devant le soleil, 1942, pastl, guache, tinta e lápis sobre papel veludo e cartão, col.part.
Não há uma sem duas, e esta tela de Miró aparece nestas páginas por ter ontem mudado de dono, de uma col.part. para outra. Foi no leilão da Sotheby's de Paris, por 2,3 milhões de euros.
Mais uma exposição parisiense, a benefício de quem possa visitar a Cidade-Luz por estes dias :). Esta está patente no Museu Maillol e pretende recordar que Miró não foi só um grande pintor, mas também um grande escultor do século passado.
São uma centena de esculturas e duas dezenas de cerâmicas, bem como algumas obras em papel, provenientes na sua maioria da Fondation Maeght.
Henri Cartier-Bresson regressa ao Prosimetron (depois do post na nossa Ana, em 10 de Fevereiro de 2009) muito a propósito do post que ontem editei sobre Vivian Maier. Uma grande fotógrafa amadora que Bresson certamente gostaria de ter conhecido pela qualidade e sensibilidade das suas imagens. Também Cartier-Bresson tinha a sua máquina favorita, andava sempre acompanhado por uma Leica equipada com uma objectiva de 50mm. Não utilizava flash e era contra o corte das fotografias porque segundo ele "isso diluía o significados delas". Como muito bem disse a nossa Ana, Henri Cartier-Bresson era o "fotógrafo do imediato", justamente porque o seu lema era: "Fotografar é lutar com o tempo e captar o acaso".
Hans Suess von Kulmbach ( 1480-1521/22 ), A Ascensão de Cristo, 1513?, óleo sobre madeira, 61,5x38,1cm, Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque.
Nesta Quinta-Feira da Ascensão, uma original ( fácil perceber o porquê do adjectivo que escolhi ) visão de um tema bíblico pintado por tantos outros pintores europeus ( de Mantegna a Veronese, de Rembrandt a Dalí ).
Uma biografia que faltava, sobre uma mulher excepcional : D.Maria Adelaide de Bragança, Infanta de Portugal, a única neta viva do Rei D.Miguel ( por via de paternidades tardias e da sua longevidade ) que em 2012 fará 100 anos. Uma mulher que muito admiro, não pela sua ascendência ( quantas princesas não nos dizem nada e não deixaram marca na História ? ) mas pelo seu percurso de vida : resistente anti-nazi na Áustria, perseguida pela Gestapo e salva in extremis pela intervenção de Salazar, podia ter levado uma "vida de salão" quando veio para Portugal. Mas não foi o caso, tendo tido ao invés uma vida dedicada aos mais desfavorecidos na Outra Banda ( Fundação Nuno Álvares Pereira, na Trafaria ).
Não é uma biografia no sentido habitual, antes uma narrativa biográfica, escrita pela Raquel Ochoa e editada pela Oficina do Livro.
Espero que alguns preconceitos possam ser vencidos, e melhor conhecida entre nós esta vida que atravessou o século XX e continua, com lucidez, no século presente.
Col. particuliar, em depósito no Kunstmuseum de Basileia
Em 1956 foi publicada a Bíblia de Marc Chagall, pelo editor Tériade: um conjunto de 105 pranchas gravadas em água-forte ilustrando episódios da Bíblia.
Esta exposição, que pode ser visitada até domingo em Paris, traça o longo processo de criação, entre 1930 e 1956, e pretende interpretar o trabalho do artista, bem como as suas fontes de inspiração, particularmente da Torah.
Tal como se diz sobre o Natal, o Dia da Criança deveria ser todos os dias. Mas todos os dias vemos, ouvimos e lemos os maiores horrores que envolvem as crianças: maus tratos, abusos, esquecimento, abandono, exploração, guerra, fome, morte. E todos os anos se fala deste dia e continuar-se-á a falar. Mas para além dos discursos sem eco ou da publicidade que quer vender seja o que fôr a muitos pais de consciência pesada,muito pouco se faz apesar do muito que já se faz. Aqui, neste nosso Portugal com cada vez menos crianças, ou no Mundo, em especial em continentes com condições críticas, onde morrem aos milhares ou se formam sem valores ou com falsos valores que os fará adultos sem presente e que farão comprometer o futuro.
Que fique registado que é preciso, urgentemente, cuidar das crianças hoje, para que se possa ter esperança no amanhã da humanidade.
Oil on canvas, 60.6 x 74.3 mm, Metropolitan Museum of Art, New York
OS MENINOS
Os Meninos em si são flores Flores doces mornas vindas de uma ilha de Sol Suas casas no chão dobradas Obscenas feridas na cidade meninos flores no chão E vossas mãos tão meigas tão pequenas Vossos olhos flores incendiadaS de ternura ausente Doce violento perdão lhes assiste Meninos de olhar de tocar milagrinhos de infância sofrida incêndios do dia em casas nocturnas E os olhos dos meninos estão tão abertos
A Torre Jean sans Peur (1409-1411), que já aqui postei em tempos, classificada Monumento Histórico em 1884, é um dos últimos vestígios civis medievais em Paris.
Neste momento e até 13 Nov., pode aí ser visitada a exposição Le Lit au Moyen Âge, depois de ter dedicado outras mostras a outros aspectos do quotidiano. http://www.tourjeansanspeur.com/
Hoje Vivian Maier (1926-2009) voltou a ser recordada numa crónica de um jornal diário. Tudo a propósito das suas fotos recentemente descobertas por acaso. Com uma aguçada visão e uma Rolleifelex sempre ao pescoço, Maier registou cenas de rua, crianças, interiores e autoretratos. Uma colecção extraordinária de fotografias de Nova Iorque (1951-55), Chicago e outras cidades (1959-71), feitas provavelmente durante os seus momentos de folga, impressões sobre o mundo que a rodeava, resultando num gigantesco arquivo de imagens e negativos meticulosamente catalogados e cujo conteúdo Maier nunca mostrou a ninguém. Enigmática e solitária, de rosto severo, Vivian foi durante 40 anos ama de crianças, tendo nos últimos anos sido sustentada por três pessoas de quem tomou conta. A aventura desta "Mary Poppins" (tinha semelhanças com a personagem) começa agora depois da exposição das suas fotografias no centro Cultural de Chicago (Janeiro-Abril 2011) que causou uma febre colectiva e está a deixar muita gente de boca aberta e olhos comovidos.