– Que dirias tu se eu casasse?
A Maria não respondeu logo. A verdade é que ela, embora não tivesse qualquer interesse no conde, experimentava, nesse momento, um sentimento muito feminino, ódio, amor próprio e despeito, tudo misturado em doses iguais. Não gostava do conde (senhores, ele tinha 70 anos!), mas só com relutância aceitava que o fidalgo, depois de ter dado tantas provas de gostar dela, fosse casar...
– Vivo só. Os meus filhos, que são uns pequenos fidalgos vadios, já receberam a legítima materna, tenho um rendimento que pode fazer feliz qualquer mulher... Que dizes tu?
– Não digo nada...
Então, o aristocrata agarrou a Maria e perguntou-lhe:
– Maria, queres casar comigo?!
A rapariga ficou tão aturdida que gaguejou:
– Ca... ca... casar?
– Sim! Seres minha mulher!
A Maria não queria acreditar no que estava a ouvir...
– Conde, por quem é... Eu não mereço tanto!
O amor do velho fidalgo explodiu em frases apaixonadas.
– Mereces, sim! Para mim, mereces tudo! Perto de ti, sinto-me rejuvenescer, sinto-me alegre e feliz. Se te não vejo...
A Maria sorriu, lembrando-se de que, "se te não vejo" era o título de um dos seus últimos fados, cuja letra piegas era da autoria de um poeta popular, que também lhe afirmava que sofria muito... quando a não via...
Mas o conde começou a desfilar o rosário dos seus projectos. Venderia a velha e riquíssima casa, com todo o seu recheio, e ela, por sua vez, desfazer-se-ia da sua. Alugariam uma pequena moradia, com garagem, em qualquer bairro novo e elegante...
– E... poderei continuar a cantar? – perguntou ela, pouco interessada, afinal, na conversa do conde.
– Mas certamente! – volveu o conde. – Nem eu queria obrigar ao silêncio o meu rouxinol! Mas, se estiveres de acordo, passarás a cantar só para mim e para os meus amigos, e numa ou noutra festa de caridade...
Ela concordou e, muito estúpida, quis saber:
– Oiça, conde... Se eu me casar consigo... fico sendo condessa?
O conde sorriu da ingenuidade da Maria. (Ele sempre teve a mania de que ela era uma ingénua...). E apressou-se a explicar:
– Mas, certamente! Condessa de Orelhais! É claro que os idiotas dos meus filhos são capazes de não gostar, mas também eu não gosto de muitas coisas que eles fazem, e eles lá as vão fazendo!
Naquela noite, jantaram juntos e fizeram largos projectos. O conde queria um casamento simples, religioso, claro, mas apenas com a assistência de três ou quatro amigos... Ela, por sua vez, queria uma cerimónia de estadão, com fotografias e grandes notícias nos jornais, que era para as suas antigas colegas se morderem de inveja!
E, enquanto o conde falava, ela repetia, mentalmente numa obsessão, uma só palavra: – Condessa! Condessa! Condessa! A sua vida parecia-lhe um filme! Começara em criada de pensão, mas pelo seu próprio esforço (Era assim que ela pensava...) conseguira ir-se elevando, a ponto de estar prestes a ser condessa! Certamente, se tem tido a sorte de nascer uns cem anos atrás, quando as monarquias ainda estavam na moda, acabaria em rainha de qualquer país desconhecido...
A Maria não respondeu logo. A verdade é que ela, embora não tivesse qualquer interesse no conde, experimentava, nesse momento, um sentimento muito feminino, ódio, amor próprio e despeito, tudo misturado em doses iguais. Não gostava do conde (senhores, ele tinha 70 anos!), mas só com relutância aceitava que o fidalgo, depois de ter dado tantas provas de gostar dela, fosse casar...
– Vivo só. Os meus filhos, que são uns pequenos fidalgos vadios, já receberam a legítima materna, tenho um rendimento que pode fazer feliz qualquer mulher... Que dizes tu?
– Não digo nada...
Então, o aristocrata agarrou a Maria e perguntou-lhe:
– Maria, queres casar comigo?!
A rapariga ficou tão aturdida que gaguejou:
– Ca... ca... casar?
– Sim! Seres minha mulher!
A Maria não queria acreditar no que estava a ouvir...
– Conde, por quem é... Eu não mereço tanto!
O amor do velho fidalgo explodiu em frases apaixonadas.
– Mereces, sim! Para mim, mereces tudo! Perto de ti, sinto-me rejuvenescer, sinto-me alegre e feliz. Se te não vejo...
A Maria sorriu, lembrando-se de que, "se te não vejo" era o título de um dos seus últimos fados, cuja letra piegas era da autoria de um poeta popular, que também lhe afirmava que sofria muito... quando a não via...
Mas o conde começou a desfilar o rosário dos seus projectos. Venderia a velha e riquíssima casa, com todo o seu recheio, e ela, por sua vez, desfazer-se-ia da sua. Alugariam uma pequena moradia, com garagem, em qualquer bairro novo e elegante...
– E... poderei continuar a cantar? – perguntou ela, pouco interessada, afinal, na conversa do conde.
– Mas certamente! – volveu o conde. – Nem eu queria obrigar ao silêncio o meu rouxinol! Mas, se estiveres de acordo, passarás a cantar só para mim e para os meus amigos, e numa ou noutra festa de caridade...
Ela concordou e, muito estúpida, quis saber:
– Oiça, conde... Se eu me casar consigo... fico sendo condessa?
O conde sorriu da ingenuidade da Maria. (Ele sempre teve a mania de que ela era uma ingénua...). E apressou-se a explicar:
– Mas, certamente! Condessa de Orelhais! É claro que os idiotas dos meus filhos são capazes de não gostar, mas também eu não gosto de muitas coisas que eles fazem, e eles lá as vão fazendo!
Naquela noite, jantaram juntos e fizeram largos projectos. O conde queria um casamento simples, religioso, claro, mas apenas com a assistência de três ou quatro amigos... Ela, por sua vez, queria uma cerimónia de estadão, com fotografias e grandes notícias nos jornais, que era para as suas antigas colegas se morderem de inveja!
E, enquanto o conde falava, ela repetia, mentalmente numa obsessão, uma só palavra: – Condessa! Condessa! Condessa! A sua vida parecia-lhe um filme! Começara em criada de pensão, mas pelo seu próprio esforço (Era assim que ela pensava...) conseguira ir-se elevando, a ponto de estar prestes a ser condessa! Certamente, se tem tido a sorte de nascer uns cem anos atrás, quando as monarquias ainda estavam na moda, acabaria em rainha de qualquer país desconhecido...
Aníbal Nazaré, Maria uma sua criada: aventuras de uma provinciana em Lisboa, Lisboa, Imprensa da Cidade, Ld.ª, [1958], p. 205-206 (o livro é ilustrado por Stuart Carvalhais)
Se S. Martinho é dar Sol (calor) e dividir com os outros o que se tem... aqui fica o meu contributo para o trabalho de conjunto sobre S. Martinho
7 comentários:
PS- "Nesta história de «Maria, uma sua criada» se contam as aventuras de uma provinciana que veio para Lisboa como vêm os ovos, a hortaliça e a fruta... E, como tantas que para criadas de servir... não servem, saltou da cozinha para os tablados do fado e para os palcos da revista. Hoje os "D. Juans" beijam-lhe a mão em cujos dedos há ainda reminiscências epidérmicas do tempo em que picava cebola.
Se o leitor, por acaso, conhece «Maria, uma sua criada», não lhe diga que leu este livro; transformada como está agora em senhora da sociedade era capaz de levar a mal e cortar relações com o autor..."
Não tendo nada a haver com a narrativa,e apenas com o orago,aqui
vai o meu contributo para o dito:
"Pelo S.Martinho,
vai à adega e prova o vinho."
Não conhecia.
Ana
Post inesperado.
BOM DIA a todos!, com água pé?
Está proibida! Pelo menos, é o que me dizem. Optarei pela jeropiga em alternativa.
Maria, "Pelo S. Martinho vai à adega e prova o vinho"! Com cuidado!...
Há anos que a água-pé está proibida, mas lá se ia vendendo.
E oferecendo, como acaba de me acontecer...
A água-pé!
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