A carne da Antónia
«A receita mais estranha que conheço é uma que Antónia aprendeu em um velho livro de cozinha de mamãe, publicado ainda no seculo XIX, chamado O cozinheiro nacional.
«Era assim: ela pegava um bom peso de carne, chã ou lombo, deixava em vinha-d'alhos de um dia para o outro. Temperava então como de costume, enfiava na carne umas lascas de toucinho e depois a enrolava muito bem em folhas de bananeira. Aí cavava no chão do quintal um buraco fundo, de uns quarenta centímetros de profundidade, fazia um lastro de pedra e, sobre elas, lá no fundo, enterrava a carne. Cobria tudo, primeiro com pedras, depois com terra, e arrumava um fogo em cima. Sob essa fogueira, mantida sempre acesa, deixava a carne por algumas horas. O embrulho, ao ser retirado do buraco e aberto, espalhava um cheiro tão bom de carne que até parecia aroma de cozinha francesa. Mas tínhamos cisma de comê-la, até de prová-la, por causa do nome. Chamava-se 'carne sepultada'.»
Rachel de Queiroz (1910-2003)
In: O Não Me Deixes: suas histórias e sua cozinha. São Paulo: Ed. Siciliano, 2000, p. 101«A receita mais estranha que conheço é uma que Antónia aprendeu em um velho livro de cozinha de mamãe, publicado ainda no seculo XIX, chamado O cozinheiro nacional.
«Era assim: ela pegava um bom peso de carne, chã ou lombo, deixava em vinha-d'alhos de um dia para o outro. Temperava então como de costume, enfiava na carne umas lascas de toucinho e depois a enrolava muito bem em folhas de bananeira. Aí cavava no chão do quintal um buraco fundo, de uns quarenta centímetros de profundidade, fazia um lastro de pedra e, sobre elas, lá no fundo, enterrava a carne. Cobria tudo, primeiro com pedras, depois com terra, e arrumava um fogo em cima. Sob essa fogueira, mantida sempre acesa, deixava a carne por algumas horas. O embrulho, ao ser retirado do buraco e aberto, espalhava um cheiro tão bom de carne que até parecia aroma de cozinha francesa. Mas tínhamos cisma de comê-la, até de prová-la, por causa do nome. Chamava-se 'carne sepultada'.»
Rachel de Queiroz (1910-2003)
Neste livro, que me foi trazido do Brasil, há dez anos, por uma amiga, Rachel de Queiroz escreve sobre a cozinha e histórias da Fazenda Não Me Deixes. Hoje trouxe a «carne sepultada», para a próxima talvez venha o peru.
Quanto ao livro Cozinheiro nacional, se quiser, saiba algo sobre ele em:
http://eptv.globo.com/terradagente/terradagente_interna.aspx?273549
Quanto ao livro Cozinheiro nacional, se quiser, saiba algo sobre ele em:
http://eptv.globo.com/terradagente/terradagente_interna.aspx?273549
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