sábado, 4 de outubro de 2008

Dinis Machado

em Público on line

Morreu ontem, com 78 anos, Dinis Machado. Lisboeta do Bairro Alto, onde viveu aquela parte da vida que molda a forma de estar e ser, conviveu no coração da sua cidade com a ópera, a música, o cinema Loreto onde se tornou cinéfilo, o teatro, os livros, as tertúlias dos cafés onde se discutia politica e de tudo um pouco.

Foi jornalista desportivo, editor, crítico de cinema, tradutor, autor de guiões para o cinema, poeta, escritor de romances, três dos quais policiais, sob o pseudónimo de Dennis MacShade. E foi um livro, saído em 1977, que o lançou para a história de literatura: “O que diz Molero”, o seu “hino à alegria”, depois do cinzentismo dos anos da ditadura e da euforia caótica dos passos iniciais da liberdade.

Humilde, reservado, ficou longe de grupos e de ribaltas, mesmo quando a sua obra prima foi adaptada ao teatro e representada, a última vez das quais numa excelente adaptação de um encenador brasileiro e apresentado no Teatro Nacional D. Maria.

“A linguagem é apenas uma parte da realidade que conseguimos tirar ao silêncio para nos abrirmos melhor”.

ao Jornal de Notícias

As 100 citações do cinema - #43

"We'll always have Paris."

Rick Blaine (Humphrey Bogart), "Casablanca", 1942

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Matchmaking

"No Japão, cujo novo primeiro-ministro anunciou como objectivo prioritário tornar o país mais alegre, há 10 milhões de filhos adultos que vivem em casa dos pais. São tantos (60% dos solteiros e 80 por cento das solteiras), que já têm uma categoria social - são os solteiros parasitas. São parasitas porque, apesar de terem educação e trabalho, não participam nas despesas da casa dos pais e gastam todo o dinheiro em roupa e objectos pessoais. O fenómeno está a tornar-se de tal modo preocupante que os japoneses estão a recuperar a tradição dos casamentos arranjados pelos pais. Agora, os omiai (matchmaking) modernos são organizados por empresas privadas que viram nesta inércia dos filhos uma forma de fazer dinheiro. Juntam enormes grupos de pais em grandes salões de hotéis, sentam-nos uns em frente aos outros e eles, aos 60, 70 e 80 anos, mostram as fotografias dos filhos. Todos levam apenas o essencial e o essencial no Japão é o nome, idade, profissão, salário e grupo sanguíneo (um factor absolutamente decisivo). Só uma empresa, a Exeo, organiza 300 mil reuniões destas por ano, um pouco por todo o lado, incluindo Tóquio. Normalmente, os filhos nem sonham que os pais andam à procura de potenciais parceiros. Mas não sei se estará a resultar. Eles, os homens solteiros japoneses, trabalham mais horas do que em qualquer outro país desenvolvido e por isso passam o fim-de-semana a dormir - ou seja, não têm tempo nem energia para namorar, muito menos sair de casa dos pais. Elas, por sua vez, não têm qualquer desejo de trocar a casa dos pais por uma vida a sós ou com um marido que só trabalha e dorme. A solução passa por uma ideia qualquer. Quando eu a descobrir, escrevo uma crónica."
Crónica de Bárbara Reis, no ípsilon (Público)

Franz Kafka : Aforismos - 2

Antigamente não compreendia porque não obtinha nenhuma resposta à minha pergunta; hoje não compreendo como é que pude acreditar que podia fazer perguntas. Na realidade, eu não acreditava, apenas perguntava.

Franz Kafka, aforismos, Ulmeiro, 2001.

W. B.Yeats

Ao tentar dar alguma ordem aos meus "arquivos "- pastas, caixas e até folhas soltas, encontrei um cartão de visita nas costas do qual estavam escritos estes versos de um dos meus poetas preferidos de língua inglesa, William Butler Yeats :

How many loved your moments of glad grace,
And loved your beauty with love false and true;
But one man loved the pilgrim Soul in you,
And loved the sorrows of your changing face.

São versos do poema "When you are old ", um dos que mais gosto sobre o envelhecimento dos nossos seres amados.
Conservei o cartão de visita, até porque me lembrei da circunstância em que anotei estes versos.

Twin Peaks Revisited

Após doze dias sem televisão, resolvi fazer ontem um serão televisivo, e acabei por ir parar ao canal FX que está a transmitir esta série de culto do início dos anos 90, e resolvi ver o episódio.
Apesar de ter sido um dedicado seguidor da série, confesso que já não me lembrava de muitos pormenores, por isso fiquei intrigado com algumas das tramas secundárias ( sim porque a principal era, como se devem lembrar, "quem matou Laura Palmer? " ) , o que quer dizer que se calhar ainda assistirei a mais episódios...
Os ingredientes deste sucesso são realmente muito bons- a fantástica banda sonora, as paisagens ( com aqueles majestosos abetos Douglas ) , o elenco ( que revelou e confirmou grandes talentos) , e é claro a escrita de David Lynch e de Mark Frost ( tendo-se tornado o segundo um interessante escritor de thrillers históricos entre outras coisas) .

As 100 citações do cinema - #88

"Listen to me, mister. You're my knight in shining armor. Don't you forget it. You're going to get back on that horse, and I'm going to be right behind you, holding on tight, and away we're gonna go, go, go!"

Ethel Thayer (Katharine Hepburn), "On Golden Pond", 1981

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

As 100 citações do cinema - #8

"May the Force be with you."

Han Solo (Harrison Ford) "Star Wars", 1977

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Uma nota pessoal

Após um périplo por terras italianas, de que farei alguns relatos , volto hoje aqui ao blogue.
Só para abrir o apetite, direi que ontem assisti em Roma à inauguração de uma notável exposição , a maior feita em Itália nos últimos 60 anos sobre o grande Giovanni Bellini.
São 60 0bras-primas deste genial mestre da cor e um motivo mais do que suficiente para visitar Roma até 11 de Janeiro de 2009.

Dia do JAD

É hoje o dia do aniversário natalício do meu querido amigo e agora companheiro de blogue JAD.
Aproveito para aqui reconhecer o muito que lhe devo, tanto pelo que com ele aprendi, como pela sua generosidade de grandes e pequenas atenções nesta quase década e meia de amizade.
Sim, porque como sabe quem com ele priva, o JAD é um amigo atencioso.
Não vou sequer falar das suas múltiplas qualidades e interesses porque parece-me que estão já patentes nas suas excelentes contribuições aqui no blogue.
Vou só desejar que o JAD continue sempre com o espírito jovem que o caracteriza, e que muito ajuda a animar a sua vida e a dos que o rodeiam.
Parabéns e vida longa, JAD !

Paul Newman eyes

Ainda a propósito da ronda pelos blogs não resisti em trazer aqui as palavras do colaborador de um deles quando afirma que o melhor título que leu na imprensa internacional sobre a morte de Paul Newman veio no El País: "Los ojos del cine ya non son azules."
É que este título fez-me logo lembrar o comentário de uma leitora nossa quando afirmava serem os olhos de Paul Newman um dos mais (senão os mais) bonitos do cinema.

Hoje vai falar-se sobre monarquia

Na ronda pelos blogs passei a vista por um post cuja notícia vai certamente interessar a colaboradores e leitores do Prosimetron. Mais logo, pelas 23 horas, no programa "Ao Fim do Dia", na rubrica sobre Blogs vai discutir-se "A Monarquia". Basta sintonizar o Rádio Clube Português.

Susan Sarandon: a actriz activista

Mr. Woodcock ou Um padrasto para esquecer! é o mais recente trabalho de Susan Sarandon com estreia marcada para dia 9. A actriz que está entre nós a convite do Lisbon Village Festival, na sequência de um ciclo em sua homenagem que aquela organização está a promover, deu uma extensa entrevista ao DN que pode ser lida na edição de hoje onde fez questão de revelar mais uma vez a sua conhecida faceta de activista. Alías, a actriz falou quase tanto de política como de cinema. Como não podia deixar de ser a corrida às presidenciais norte-americanas foi tema de conversa e Sarandon que prefere "dar o seu contributo fora do sistema político" mostrou clara simpatia por Barack Obama, como sendo o candidato que "mais segurança" lhe inspira, vendo-o mesmo como o princípio de uma solução para a actual crise financeira que assola o país. Quanto ao candidato republicano, se for eleito, a actriz admite que se sentirá menos segura com a família a viver em Nova Iorque, onde sempre viveu: "Nunca disse que me mudaria, embora possa ser uma opção. Se John McCain se tornar presidente vou temer mais pela minha família porque a forma como ele resolve os problemas é incrivelmente estúpida", referiu.
Respondendo ainda à sua maneira de ser, Susan Sarandon afirmou não se sentir "marginalizada" em Hollywood onde "a única coisa pela qual nos castigam é por envelhecermos e engordarmos. Não querem saber de política e, se acharem que alguma coisa poderá ser lucrativa, investem", disse.
No próximo sábado encerra o Lisbon Village Festival com a exibição do filme No Vale de Elah.
Susan Sarandon dedicou esta homenagem a Paul Newman, recentemente falecido, vitima de cancro. Um gesto que só lhe fica bem.


O DN está de parabéns porque foi considerado o jornal com o melhor design ibérico do ano, na categoria de diários com 20 mil a 50 mil exemplares. O prémio foi atribuído pela Society for News Design, organização internacional dedicada ao design de jornais, revistas e sites na Internet.

Francoise Hardy - Voilà

E porque hoje é o dia mundial da música... Voila!

Francoise Hardy - Voila (1967)

Dia Mundial da Música

Comemora-se hoje. Passa também hoje o centenário da morte, ocorrida em 1833, da cantora lírica Luísa Todi, que no livro de Antoine Reicha, "Tratado da Melodia", foi considerada "A cantora de todas as centúrias", melhor dizendo,"Uma cantora para a eternidade".




Cecília Bartoli, ária "Voi che sapete", da ópera "Le Nozze de Figaro", de Mozart

Jacques Dutronc - Les play boys - 1966

M. enviou-me esta canção que resolvi partilhar com todos. Depois de a escutar o dia ficou com menos nuvens. Obrigado.

As 100 citações do cinema - #9

"Fasten your seatbelts. It's going to be a bumpy night."

Margo Channing (Bette Davis), "All About Eve", 1950

Maurice Pialat : Van Gogh



O filme «Van Gogh», de Maurice Pialat, passa na Cinemateca Nacional (Lisboa), no dia 17 de Outubro, às 22h00. Em Agosto foi referênciado num post deste blog quando se falou de Jacques Dutronc.
É uma homenagem cinematográfica de pintor para pintor, dado que Maurice Pialat tinha sido pintor antes de ser realizador.



Van Gogh, França, 1991, 158', cor
Direção: Maurice Pialat
Roteiro: Maurice Pialat
Fotografia: Emmanuel Machuel, Gilles Henry, Jacques Loiseleux.
Música (nos créditos): Arthur Honnegger
Montagem: Yann Dedet, Nathalie Hubert
Produção: Sylvie Danton, Daniel Toscan Du Plantier
Com Jacques Dutronc (Vincent Van Gogh), Alexandra London (Marguerite Gachet), Bernard Le Coq (Théo Van Gogh), Gérard Séty (Doutor Gachet), Corinne Bourdon (Jo), Elsa Zylberstein (Cathy), Jacques Vidal (Ravoux), Chantal Barbarit (Madame Chevalier), Claudine Ducret (Professora de Piano)

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Cores da Tailândia em Lisboa

Um cheirinho a exotismo vai pairar em Lisboa através do lançamento de um programa de divulgação da cultura tailandesa nos dias 2, 3 e 4 de Outubro, na Livraria Byblos das Amoreiras (Rua Alberto da Motra Pinto, 17).
O evento, designado "Cores da Tailândia"vai ser inaugurado pelo embaixador daquele país em Portugal, no dia 2 às 19 horas. Ao longo de três dias , o Centro Tailandês de Massagens - Medithai utiliza um espaço da livraria para demonstração de técnicas terapêuticas de massagens tailandesas, entre as 17 e as 19 horas. Também diariamente, o restaurante Sete Pecados oferece um cocktail tailandês, entre as 19 e 21 horas, seguindo-se uma sessão de cinema (por dia) com filmes legendados em inglês. No sábado, dia 4 às 16 horas, os mais novos vão poder assistir a uma sessão de contos tradicionais tailandeses, dando a conhecer a história e cultura do país.
Todas as sessões são gratuitas e a entrada é livre.
Para quem ainda não passou pela Byblos esta é uma oportunidade original para ficar a conhecer uma das mais interessantes livrarias da capital desta feita com sabores e saberes tailandeses.

As 100 citações do cinema - #14

"The stuff that dreams are made of."

Sam Spade (Humphrey Bogart), "The Maltese Falcon", 1941

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Artur Pizarro & Vita Panomariovaite


(fonte da foto: http://www.ccb.pt/sites/ccb/pt-PT/Programacao/Musica/Pages/A2pianoaquatrom%C3%A3os.aspx)

Pelos vistos tenho andado um pouco distraído. Ainda não tinha reparado na excelente qualidade e técnica de execução da pianista lituana Vita Panomariovaite. Graças a M. tive a oportunidade de me deliciar esta tarde escutando Mozart e Schubert a quatro mãos... Vita Panomariovaite acompanhava o seu "amigo" e antigo professor Artur Pizarro. O concerto decorreu no Centro Cultural de Belém.

Artur Pizarro: “O duo para piano foi sempre especial para mim, uma vez que foi assim que iniciei o meu contacto com o instrumento.
A Vita e eu encontrámo-nos quando eu era professor na Guildhall School of Music and Drama em Londres. Há quase uma década que temos trabalhado juntos intensamente, mesmo antes de criar o duo. Temos uma afinidade muito forte, o que é muito importante para este tipo de repertório
.”

Música no Chiado...


Para os interessados aqui fica a programação musical que vai ter lugar no dia 4 de Outubro na zona da Baixa-Chiado, um autêntico festival que vai percorrer seis séculos de música - desde a música medieval à ópera oitocentista, do barroco à música do nosso tempo, da grande orquestra sinfónica ao intimismo do recital - com a contribuição de várias orquestras, solistas e agrupamentos musicais.

Largo Duque do Cadaval
12h00 e 16H00 - Brass Ensemble da Metropolitana, Maestro Reinaldo Guerreiro
14H00 - Orquestra de Sopros da OML Júnior, Maestro Rui Carreira
19H00 - Quarteto de Clarinetes de Lisboa

Largo do Carmo
13H00 - Os Pequenos Violinos da Metropolitana, Direcção de Inês Saraiva
15H00 e 17H00 - Coro Sinfónico Lisboa Cantat, Maestrina Clara Alcobia Coelho
18H00 - Ensemble Barroco do Chiado, Verena Wachter (soprano), Álvaro Pinto (violino barroco), Pedro Castro (oboé barroco), Ana Raquel Pinheiro (violoncelo barroco), Marco Magalhães (cravo)

Largo de São Carlos
13H00 e 15H00 - Orquestra Sinfónica Juvenil, Maestro Christopher Bochman
17H00 - Orquestra Metropolitana de Lisboa, Maestro Cesário Costa, Teimuraz Janikashvili (violino)
19H00 - Sinfonietta de Lisboa, Maestro Vasco Pearce de Azevedo

Páteo Siza Vieira
12H00 - Recital de Piano, Teresa Doutor Duarte, Saul Picado
14H00 e 19H00 - Cobras e Son
15H00 - Duo Flauta e Piano, Nuno Inácio, Paulo Pacheco
16H00 - Piano a 4 Maõs, João Vasco, Eduardo Jordão
18H00 - Recital de Harpa, Stéphanie Manzo

Ruínas do Carmo (entrada limitada ao número de lugares disponíveis)
21H30 - Orquestra Metropolitana de Lisboa, Maestro João Paulo Santos, Dora Rodrigues (soprano), Mário Alves (tenor), Luís Rodrigues (Barítono).

As 100 citações do cinema - #17

"Rosebud."

Charles Foster Kane (Orson Welles), "Citizen Kane", 1941

Ano Novo Judaíco

Ano Novo - Vida Nova
Acaba um ciclo lunar e começa um novo ciclo. Com ele começa, este ano, o Novo Ano Hebraico.
Aqui fica uma canção de uma israelita : Chava Alberstein

«Chagall»


Unter dayne vayse shtern
Shtrek tsu mir dayn vayse hant
Mayne verter zaynen trern
viln ruen in dayn hant
Ze, es tunklt zeyer finkl
In mayn kelerdikn blik
Un ikh hob gornit kayn vinkl
Zey tsu shenken dir tsurik
Un ikh vil dokh, got getrayer
Dir fartroyen mayn farmg
Vayl es mogt in mir a fayer
Un in fayer mayne teg
Nor in kelern un lekher
Veynt di merderishe ru
Loyf ikh hekher, iber dekher
Un ikh zukh, vu bistu, vu?
Nemen yogn mikh meshune
Trep un hoyfn mit gevoy
Heng ikh a geplatste strune
Un ikh zing tsu dir azoy
Unter dayne vayse shtern
Shtrek tsu mir dayn vayse hant
Mayne verter zaynen trern
viln ruen in dayn hant
Ze, es tunklt zeyer finkl
In mayn kelerdikn blik
Un ikh hob gornit kayn vinkl
Zey tsu shenken dir tsurik
--------------------------

Under your white stars
give me your white hand
my words turn into tears,
receive them in your hand.
When it becomes night
let the stars light up the dept of my glance
so I find quiet in the darkness,
allow you to weep again.

Only you hear what I ask,
only you know my pain.
Look at this fire, this I carry
and it burns in my heart.
In the cellars, in the dungeons
the freedom is in the death.
On the houses, on the roofs
I shout: "Where are You, God?"

Restless I look for You,
chased by death.
Only for this song I allow me a pause,
and I sing for You, oh God.

Machado de Assis : Emplastro Brás Cubas


«[...] um dia de manhã, estando a passear na chácara, penderou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a penear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.
«Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens: pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas e enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do ruído, do cartaz do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me argúam esse defeito fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis. Assim a minha idéia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro, de outro lado, sede de nomeada. Digamos: - amor da glória.

Um tio meu, cônego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, oficial de um dos antigos terços de infantaria, que o amor da glória era a cousa mais verdadeiramente humana que há no homem, e, conseguintemente, a sua mais genuína feição.

Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu volto ao emplasto.» (de Memórias póstumas de Brás Cubas)

Machado de Assis : D. Casmurro

«Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimento-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
«- Continue - disse eu acordando.
«- Já acabei - murmurou ele.
«- São muito bonitos.
«Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso: estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro.» (Início de Dom Casmurro)

Machado de Assis (1839-1908) - Maratona de leitura

Hoje, dia 29 de Setembro, a Casa Fernando Pessoa (Rua Coelho da Rocha, nº 16, Campo de Ourique) realiza uma maratona de leitura de Machado de Assis, entre as 10 e as 18 horas. Nesta ocasião far-se-á a leitura integral da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, e o registo gravado da leitura será oferecido à Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO). Esta sessão de leitura contínua é aberta a todo o público interessado em ler ou escutar a obra deste grande escritor brasileiro, no dia em que se cumprem cem anos sobre a sua morte.



Casa Fernando Pessoa
Câmara Municipal de Lisboa
Rua Coelho da Rocha, nº 16
1250-088 - Lisboa Portugal

Machado de Assis


Passa hoje o centenário da morte do maior escritor brasileiro do século XIX, Joaquim Maria Machado de Assis, nascido numa chácara na Ladeira do Livramento, no Rio de Janeiro, em 1839, filho de um pintor de paredes mulato, neto de escravos alforriados e de uma lavadeira portuguesa da ilha de S. Miguel.

Auto didacta, iniciando a sua vida a vender doces que a madrasta confeccionava, foi aprendendo as primeiras letras numa curta passagem pela escola, e ávido de saber, adquirindo conhecimentos, em várias áreas, com especial ênfase na língua e literatura, em que se incluiu o francês, o inglês e o alemão, sobretudo depois de se ter empregado na Imprensa Nacional com 16 anos, tornando-se ainda muito novo um intelectual reconhecido a apreciado.

Romancista, contista, poeta, crítico literário, cronista e dramaturgo, Machado de Assis atravessou os períodos do Romantismo, Realismo e Naturalismo sem se vincular a nenhuma corrente literária. Dos seus romances, os mais conhecidos em Portugal são Dom Casmurro, Quincas Borba e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Com ligações muito fortes a Portugal por sua mãe e por sua mulher, Carolina Xavier de Novais, portuguesa, foi um grande admirador, entre outros, de Camões, Garrett, Herculano e Eça, o que perpassa claramente na sua obra. Fundador e primeiro Presidente da Academia Brasileira de Letras é um dos maiores nomes da Língua Portuguesa.

Decorre hoje e manhã na Fundação Calouste Gulbenkian, em colaboração com a Missão Permanente do Brasil junto da CPLP, um colóquio comemorativo do centenário com a intervenção de especialistas portugueses e brasileiros e de um professor inglês estudioso da obra de Machado de Assis, incluindo também um recital de piano e canto com música brasileira da época do escritor, a exibição do filme “Memórias de Brás Cubas” e de dois documentários sobre a sua vida e a leitura de contos e excertos de "Dom Casmurro" pelo actor José Mauro Brant.

domingo, 28 de setembro de 2008

Blowin' in the wind : uma possível dedicatória a Paul Newman

A nossa colaboradora M. enviou este post, com a indicação de que podia ser dedicado ao Paul Newman. Com obrigado, aqui fica:
Bob Dylan - «Blowin' in the wind»



Blowin' In The Wind

How many roads must a man walk down
Before you call him a man?
Yes, 'n' how many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand?
Yes, 'n' how many times must the cannon balls fly
Before they're forever banned?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.

How many times must a man look up
Before he can see the sky?
Yes, 'n' how many ears must one man have
Before he can hear people cry?
Yes, 'n' how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.

How many years can a mountain exist
Before it's washed to the sea?
Yes, 'n' how many years can some people exist
Before they're allowed to be free?
Yes, 'n' how many times can a man turn his head,
Pretending he just doesn't see?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.



Blowin' In The Wind, 1962

O final de "Casablanca"

Com a simpatia de M.

Obrigado!


As 100 citações do cinema - #20

"Louis, I think this is the beginning of a beautiful friendship."

Rick Blaine (Humphrey Bogart), "Casablanca", 1942

Paul Newman - in memoriam


Paul Newman faleceu dia 26, com 83 anos. Uma das estrelas mais luminosas do firmamento de Hollywood, Newman atingiu a imortalidade com "Gata em Telhado de Zinco Quente" (1958), contracenando com Elizabeth Taylor.

Voltou a brilhar em "Sweet Bird of Youth" (1962), com Geraldine Page (em que ambos retomaram os seus papéis da Broadway), "Butch Cassidy and the Sundance Kid" (1969) e "A Golpada" (1973), ambos ao lado de Robert Redford, "The Hustler" (1961) e "A Cor do Dinheiro" (1986), tendo interpretado em ambos o papel de "Fast" Eddie Felson (e conquistado o Óscar de Melhor Actor neste último). Conquistou o prémio de melhor Actor em Cannes com "The Long Hot Summer" (1958), a sua primeira colaboração com Joanne Woodward, que viria a ser sua mulher. Juntos, contracenaram em 10 filmes, o último dos quais foi "Mr. and Mrs. Bridges" (1990). Ganhou o Urso de Prata de Berlim com "Nobody's Fool" (1994).

Além de actor, foi realizador e produtor de cinema, corredor de automóveis (incluindo as 24 horas de Le Mans) e fundador de "Newman's Own", uma marca de molhos de culinária cujos benefícios reverteram para a caridade (excederam os $220 milhões de dólares).

Para mim, ficam Brick Pollitt, Chance Wayne, "Fast" Eddie Felson, Luke Jackson, Ari Ben Canaan, Butch Cassidy, Hud Bannon, Michael Armstrong, Lew Harper, Frank Galvin... Para outros ficarão muitos mais.