terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Carnaval no Prosimetron - 2/I

«No Entrudo come-se tudo» Que ricas feijoadas! «Sem dúvida um dos melhores cozinhados portugueses, a feijoada faz-se de diversas maneiras e apresenta composições muito variadas. Começou por ser alimento de pobres: o feijão é de fácil cultivo, o que, associado à qualidade das suas proteínas, lhe valeu o epíteto de "carne dos pobres". «Por agora, interessam-nos apenas as feijoadas de Carnaval, e diga-se já que as melhores são as do Norte, com destaque para as transmontanas, enriquecidas com o fumeiro da região. Na Beira Litoral, faz-se uma feijoada com orelheira, a que se juntam muitos nabos (4 para 1 orelha) e a respectiva rama, tenrinha. Nas Minas da Panasqueira, há uma feijoada temperada com massa de pimentão, e na qual, do porco, só se usam os pezinhso. No Porto, toda a gente sabe, fazem-se grandes feijoadas, e diga-se enfim que as tripas não seriam o que são se lhes faltasse a saborosa leguminosa. Falta acrescentar que os açorianos juntam à feijoada ramos de funcho, pervenindo assim eventuais flatulências. Manda a tradição que a feijoada seja sempre acompanhada por arroz, e há uma explicação para o facto: o cereal melhora a qualidade das respectivas proteínas. No Norte, em princípio, o arroz é de forno, devendo ser servido no recipiente em que foi cozinhado. Será necessário dizer ainda que as feijoadas são melhores se forem reaquecidas. «O feijão chegou à Europa Ocidental em 1528 e os historiadores atribuem o feito ao Papa Clemente VII que, etndo recebido das Índias Ocidentais umas estranhas sementes em forma de rim, ordenou a um frade, Piero Valeriano, que as semeasse. Vindo a ordem de tão alto, esmerou-se o frade, lançando as sementes à terra e acompanhando o processo de germinação. Os resultados finais foram excelentes: além do mais, os frutos produzidos (baptizados com o nome de fragioli, por fazerem lembrar as favas) eram agradáveis ao paladar. Quando Catarina de Médicis viajou para Marselha, para casar com o duque de Orleães, futuro Henrique II, o frade Valeriano explicou-lhe que os homens também se conquistam pelo estômago e meteu-lhe na bagagem um saco de feijões. Parece que o frade tinha toda a razão.» Maria de Lourdes Modesto, Afonso Praça In: Festas e comeres do povo português. Lisboa: Verbo, 1999, vol. 1, p. 177 Nas páginas seguintes encontram-se as receitas de «Feijoada com couve à transmontana e seu arroz de forno», bem como outro receituário de carne de porco (sempre) e de doçaria, como brinhóis, sericaia, borrachões, filhós, nógados, coscorões, azevias e boleimas. Delícias!...

3 comentários:

  1. Gosto de feijoadas e de todas estas comezainas de Carnaval.

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  2. Também gosto de feijoada, não como orelha, nem coisas no género, só carne e principalmente enchidos que eu acho que são o espírito da feijoada!
    A.R.

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  3. Orelhas, rabos, unhas (e quejandos) também dispenso. Gosto mais do feijão. E com arroz, claro! Adoro farinheiras, quando são boas.
    M.

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