sábado, 14 de fevereiro de 2009

Cartas de amor - 2

Carta de Almeida Garrett a Rosa Montufar, Viscondessa da Luz



6 Agosto [1846]
Tu já não és só a minha amante, a mulher a quem dei para sempre o meu coração: és mais que isso, és realmente a esposa da minha alma, aquela a quem tenho consagrado a minha existência, e para quem somente quero viver.
Juro-te isto à face do céu e da terra, por minha honra te prometo. Que mais queres que te diga, que mais há que prometer ou que fazer?
O susto que ontem tiveste à saída é completamente infundado: à vista te darei razões tão seguras que se há-de desvanecer todo o receio. Não as quero confiar agora ao papel. Mas seguro-te e prometo-te que não tens que recear. – À noite espero ver a T. e o convencerei também a ele que é um verdadeiro alarmista. Sabes tu?
A noite de ontem, minha alma, foi o dia mais belo da minha vida. Oh Deus eterno! como eu vivi, o que gozei! Se pode haver céu depois disto?
Ninguém me persuadirá jamais que há no mundo quem se ame como nós nos amamos.
Eu sou plenamente feliz, não quero mais nenhum. E tu? Dize. – Oh! tu amas-me e és feliz, bem o sei. Mas tem coragem para ser feliz, que é só o que ainda te falta: le courage du bonheur. Adeus, adeus, até amanhã? Não é verdade?
Teu para sempre

P.S. Vou para o Tesouro: não posso escrever mais. Maldita seja a pátria e a finança.

In: Almeida Garrett – Cartas de amor à Viscondessa da Luz. Lisboa: Emp. Nac. de Publicidade, [1956]

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