sábado, 14 de fevereiro de 2009

Idílio

Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos de um fôlego as colinas
Do rossio da noite inda orvalhadas;

Ou vendo o mar, das ermas cumeadas,
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longe no horizonte amontoadas;

Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão, e empalideces...

O vento e o mar murmuram orações
E a poesia das cousas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.

Antero de Quental

2 comentários:

  1. Não posso deixar de colocar também este poema que li ontem, tal como o do japonês que pus no poema de Garrett.

    SEM AMOR

    Viver sem amor
    É como não ter para onde ir
    Em nenhum lugar
    Encontrar casa ou mundo.

    É contemplar o não-acontecer
    O lugar onde tudo já não é
    Onde tudo se transforma
    No recinto
    De onde tudo se mudou.

    Sem amor andamos errantes
    De nós mesmos desconhecidos

    Descobrimos que nunca se tem ninguém
    Além de nós próprios
    E nem isso se tem.

    Ana Hatherly

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