sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

LORELEI, esculturas de João Cutileiro texto de Miguel Esteves Cardoso

LORELEI
No amor o que se quer é parar o amor. No momento em que mais se ama ou quando não se pode ser amado. “Quero parar aqui”. O tempo mata. O corpo quando se move já está a morrer. A fugir. A passar para outro corpo. “Quero parar-te agora, assim”. O tempo é um movimento dentro das coisas. (…) Na escultura e na fotografia mata-se o movimento, impedindo-o de matar o que se vê. Pára-se o amor no momento mais amado. E o amor assim não morre. Contra a pedra e contra a película consegue-se fazer de conta que o coração é como um momento. Na pedra e na película se acha, num momento parado, num tempo trocado, na alma enganada, a pele que se procura. A vida de perfeito só tem a arte. Miguel Esteves Cardoso Cardoso, Miguel Esteves, Lopes, Gérard C. – “As Lorelei de João Cutileiro”, Porto: Editora, Porto, 1989.

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