segunda-feira, 13 de abril de 2009

Cortem-lhes a cabeça ?


Perguntava-me há dias um amigo se tinha visto a Salome do São Carlos e que tinha achado. Respondi que não tinha visto, nem estava muito a par da recepção. Na verdade, tenho estado um pouco "divorciado" do nosso teatro de ópera, tanto pelo que de pouco bom lá vai passando como pelo que de muito bom vai aparecendo em dvd. Fiquei mais elucidado ao ler no Expresso deste sábado a opinião de Jorge Calado :
" (...) É, simplesmente, o pior espectáculo que vi em toda a minha vida ( e vi vários muito maus, cá e lá fora ) . Há duas décadas, Gustafson era uma cantora com algum mérito. Hoje, com a voz esfrangalhada, mantém apenas um registo agudo com alguma qualidade ( embora desafinado ) , que o resto é inaudível. Muitas vezes suspeitei que cantava porque a via mexer a boca. A sua leitura do papel é muito aproximada, fraseia aos soluços e defende-se descradamente para chegar ao fim. Enfim, um suplício. Jason Howard, em Jochanaan ( São João Baptista ), canta com um vibrato onde cabem rodos de notas, a dicção é péssima e a afinação deixa muito a desejar. De Graciela Araya ( Herodias ) nem a vale a pena falar. "
E sobre a encenação de Karoline Gruber :
" (...) A ópera começa com um arabesco erótico na orquestra. Mas o erotismo ficou nos camarins. Esta é uma « Salome» pedófila, onde os homens usam saias e as mulheres calças. A protagonista cinquentona usa tranças e soquetes, brinca com bonecas, desmembra insectos e põe o dedinho na boca. (...) O pedófilo do Herodes veste-se com a roupa interior da enteada. Há couro e cabedal da pesada e fodas homo e hetero para todos os gostos (...) "
Jorge Calado termina o seu texto assim:
" O verdadeiro deboche da corte do tetrarca está nas cabeças que regem o teatro. Como Portugal foi pioneiro na abolição da pena de morte, apetece-me dizer que o melhor é fechar o São Carlos ( já que não podem pôr a direcção na rua ) . Poupavam-se rios de dinheiro, e o Opart até podia ir à viola, gabando-se dum lucro de milhões. "
Confesso que perante esta opinião de um nossos mais reputados críticos de ópera fico a pensar se realmente o que passou em São Carlos foi a adaptação de Strauss da grande peça de Oscar Wilde ou outra coisa qualquer com o mesmo nome.
E daqui do blogue, alguém pode falar com conhecimento de causa?

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