sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Apologia do sonho

Que do sonho só se salva o sonho
quando, sendo penosa a cadência dos dias,
esse sonho se torna licor inebriante
que por dentro nos lava ou rasura o frio
de viajar por entre as catacumbas.

Que esse sonho salva, bem sabemos,
nas tão difíceis contas a prestar
à razão mais corrente e à voz mesquinha:
dizerem que dormir é descansar
para voltar - sem sonho - à mesma vinha
que, no dia-a-dia, se tem de amanhar...

João Rui de Sousa
In: Quarteto para as próximas chuvas. Lisboa: Dom Quixote, 2008, p. 30

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