sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Contos de Orkény - 7

QUEM É O ASSASSINO?

O juiz que costumava julgar os processos-crime, disparou contra um corço no território grande da reserva. Depois de ter dado o tiro de misericórdia, disse assim:
- A caça é a paixão mais nobre.
O procurador fazia colecção de borboletas. Furava com um alfinete os seus abdómens e, quando já estavam mortas de asas abertas, pensava:
- Assim é a sede de saber.
Quem escreve estas linhas e também a reportagem sobre um assunto de crime, é um adepto entusiástico do pólo aquático. Se algum jogador da sua equipa dá um pontapé no estômago do adversário, ainda o encoraja da tribuna.
- O pólo aquático é um desporto duro- costuma dizer-se.
E o que é que disse o assassino?
Não esteve com rodeios. Confessou, compungidamente, ter morto a mulher que o tinha traído com toda a gente, impelido a sua filha à desmoralização, arruinado a família inteira. Disse desanimado:
- Sou um assassino.
Foi enforcado.


- István Orkény, Histórias de 1 minuto, vol.1, Introdução, selecção e tradução do húngaro de Piroska Felkai, Cavalo de Ferro, 2004.

3 comentários:

  1. É mais profundo, sem desprimor para a literatura policial que adoro como todos sabem.

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  2. A minha frase era: E eu a pensar que era um policial. Que é mais profundo... é!

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