domingo, 20 de dezembro de 2009

[Ó meu coração, torna para trás]

Ó meu coração, torna para trás.
Donde vais a correr, desatinado?
Meus olhos incendidos que o pecado
Queimou... Voltai horas de paz.


Vergam da neve os olmos dos caminhos,
A cinza arrefeceu sobre o brasido.
Noites da serra, o casebre transido...
- Cismai meus olhos como dois velhinhos.

Extintas primaveras evocai-as:
- Já vai florir o pomar das maceiras,
Hemos de enfeitar os chapéus de maias -

Sossegai, esfriai, olhos febris.
- E hemos de ir cantar nas derradeiras
Ladainhas... Doces vozes senis... -

Camilo Pessanha
In: Clepsidra / fixação do texto de António Barahona. Lisboa: Assirio & Alvim, 2003, p. 26-27

3 comentários:

  1. Muito embora me pareça "única", a voz de Pessanha, andam por aqui,neste poema, ecos longínquos de Junqueiro e de um Nobre mais maduro... Eugénio de Andrade priveligiava o poema "Branco e Vermelho", nas suas preferências.
    Mas penso que falta a Camilo Pessanha um estudo profundo e à altura da grande qualidade da sua
    "pouca" poesia. O trabalho de Esther de Lemos, embora estimável, ficou aquém... E deixe-me relembrar
    a conhecida "Inscrição":

    "Eu vi a luz em um país perdido
    A minha alma é lânguida e inerme...
    O!Quem pudesse deslizar sem ruído!
    No chão sumir-se,como faz um verme.../"

    Um bom dia!...sem neve.

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  2. Errata:
    Onde se lê "priveligiava",deve ler-se
    : privilegiava.

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  3. Por acaso se viesse aí uma nevezinha eu até gostava. Mas pouca e só um dia, de preferência a um domingo.

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