Ó meu coração, torna para trás.
Donde vais a correr, desatinado?
Meus olhos incendidos que o pecado
Queimou... Voltai horas de paz.
Vergam da neve os olmos dos caminhos,
A cinza arrefeceu sobre o brasido.
Noites da serra, o casebre transido...
- Cismai meus olhos como dois velhinhos.
Extintas primaveras evocai-as:
- Já vai florir o pomar das maceiras,
Hemos de enfeitar os chapéus de maias -
Sossegai, esfriai, olhos febris.
- E hemos de ir cantar nas derradeiras
Ladainhas... Doces vozes senis... -
Camilo Pessanha
In: Clepsidra / fixação do texto de António Barahona. Lisboa: Assirio & Alvim, 2003, p. 26-27
3 comentários:
Muito embora me pareça "única", a voz de Pessanha, andam por aqui,neste poema, ecos longínquos de Junqueiro e de um Nobre mais maduro... Eugénio de Andrade priveligiava o poema "Branco e Vermelho", nas suas preferências.
Mas penso que falta a Camilo Pessanha um estudo profundo e à altura da grande qualidade da sua
"pouca" poesia. O trabalho de Esther de Lemos, embora estimável, ficou aquém... E deixe-me relembrar
a conhecida "Inscrição":
"Eu vi a luz em um país perdido
A minha alma é lânguida e inerme...
O!Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se,como faz um verme.../"
Um bom dia!...sem neve.
Errata:
Onde se lê "priveligiava",deve ler-se
: privilegiava.
Por acaso se viesse aí uma nevezinha eu até gostava. Mas pouca e só um dia, de preferência a um domingo.
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