Passou o outono já, já torna o frio...
- Outono de seu riso magoado.
Álgido inverno! Oblíquo o sol, gelado...
- O sol, e as águas límpidas do rio.
Águas claras do rio! Águas do rio,
Fugindo sob o meu olhar cansado,
Para onde me levais meu vão cuidado?
Aonde vais, meu coração vazio?
Ficai, cabelos dela, flutuando,
E, debaixo das águas fugidias,
Os seus olhos abertos e cismando...
Onde ides a correr, melancolias?
- E, refractadas, longamente ondeando,
As suas mãos translúcidas e frias...
Camilo Pessanha
In: Clepsidra / fixação do texto de António Barahona. Lisboa: Assírio & Alvim, 2003, p. 36-37
2 comentários:
Um dia gostava de perceber esta recorrência de Ofélia(s),em Camilo
Pessanha.
Obrigado.
É bonito este poema.
Não encontrei nenhuma queixa de Inverno só sobre o Outono, mas também o Inverno está a começar e não no fim. Isto é para explicar a queixa de Outono, que coloquei tão tardiamente porque só a conheci em Paris, no seu final.
Devo dizer, no entanto, que gosto mais do Inverno. A neve é luminosa e brilha tanto como o sol. Em Janeiro os dias começam a ser maiores.
Enviar um comentário