Pinças assépticas
Colocam palavras envergonhadas
Na linha de papel
Na prateleira das bibliotecas
III
Quem ousaria dizer:
Seda nácar rosa
Porque ninguém teceu com as suas mãos a seda – em longos
dias em compridos fusos e com finos sedosos dedos
E ninguém colheu a margem da manhã rosa – leve e pesada
faca de doçura.
Pois o rio já não é sagrado e por isso nem sequer é rio
E o universo não brota das mãos de um deus do gesto e do
Sopro de um deus da alegria e da veemência de um deus
IV
Meu coração busca as palavras do estio
Busca o estio prometido nas palavras
Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética III, Lisboa: Caminho, 1991, p.86
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