Prosimetron

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Poesia de Inverno II - Sophia de Mello Breyner Andresen.

II

Pinças assépticas
Colocam palavras envergonhadas
Na linha de papel
Na prateleira das bibliotecas

III

Quem ousaria dizer:

Seda nácar rosa

Porque ninguém teceu com as suas mãos a seda – em longos
dias em compridos fusos e com finos sedosos dedos

E ninguém colheu a margem da manhã rosa – leve e pesada
faca de doçura.

Pois o rio já não é sagrado e por isso nem sequer é rio

E o universo não brota das mãos de um deus do gesto e do
Sopro de um deus da alegria e da veemência de um deus

IV

Meu coração busca as palavras do estio
Busca o estio prometido nas palavras

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética III, Lisboa: Caminho, 1991, p.86

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