segunda-feira, 5 de julho de 2010

Poemas - 11

Ferdinando Scianna(1943-), Jorge Luís Borges em Selinunte, Sicília, 1984.




A UM VELHO POETA

Caminhas pelo campo de Castela

E quase o não vês. Um intrincado

Versículo de João é teu cuidado

E apenas reparaste na amarela



Luz do ocaso. A vaga luz delira

E no confim do leste se dilata

Essa lua de escárnio e de escarlata

Que é porventura o espelho da Ira.



Ergues os olhos para ela. Uma

Memória de algo que foi teu começa

E se apaga. A pálida cabeça



Baixas e segues caminhando triste,

Sem recordar o verso que escreveste:

Seu epitáfio a sangrenta lua.



Jorge Luís Borges,
O Fazedor, 2ªed, trad. de Miguel Tamen, Difel, 1984, p.85.

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